"A ciência e a tecnologia podem ser agentes de transformação social e podem ser usadas para aliviar o sofrimento e as limitações de milhões de pessoas mundo afora."
Miguel Nicolelis, em entrevista de 2014 para BBC Brasil
A capacidade do cérebro humano sempre fascinou Miguel Nicolelis, que pesquisa o tema desde a década de 1980. O neurocientista paulistano dedicou décadas de estudo para realizar uma grande façanha na história da humanidade: permitir que pessoas que perderam o movimento das pernas voltem a andar.
O resultado das pesquisas se tornou público na Copa do Mundo de 2014, quando um jovem paraplégico deu o chute inicial na abertura do Mundial, na Arena Corinthians, com a ajuda do exoesqueleto BRA-Santos Dumont 1.
2019 foi o ano de mais um feito, mostrando todo o potencial da união entre tecnologia e medicina: mais dois paraplégicos voltaram a andar, com a ajuda de dispositivos de estimulação muscular e da interface cérebro-máquina não invasiva.
A reabilitação de pessoas que lutam para recuperar os movimentos é o foco das pesquisas de Miguel Nicolelis, o que lhe rendeu o título de um dos maiores cientistas da atualidade, da Revista Scientific American.
O neurocientista tem muito a ensinar não só para profissionais da saúde, mas para neurocientistas, profissionais de TI e gestores de grandes corporações. Veja a seguir mais detalhes sobre a biografia de Miguel Nicolelis e o que você pode aprender com ele sobre saúde e tecnologia.
Quem é Miguel Nicolelis
Miguel Angelo Laporta Nicolelis nasceu em 7 de março em 1961, em São Paulo (SP). Graduou-se em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), onde fez doutorado em Ciências. O pós-doutorado em Fisiologia e Biofísica foi feito nos Estados Unidos, na Universidade Hahnemann.
Hoje o cientista é professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e coordenador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal-Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) – Brasil.
Em 2009, Miguel Nicolelis participou da fundação do Walk Again Project (Projeto Andar de Novo), em parceria com neurocientistas, roboticistas, neuroengenheiros, cientistas da computação, neurocirurgiões e profissionais da reabilitação de todo o mundo.
O consórcio internacional busca devolver a mobilidade a paraplégicos por meio da tecnologia. Trinta cientistas estão sob o comando de Nicolelis nesta missão, no Centro de Neuroengenharia da Duke University.
Paralelamente ao desenvolvimento dos exoesqueletos e das pesquisas sobre a interface cérebro máquina, Miguel Nicolelis escreveu mais de 200 artigos científicos, publicados em revistas de prestígio internacional, como a Science e a Nature, além de doze livros. Entre as obras estão "Muito além do nosso eu" (2011), "O maior de todos os mistérios" (2013) e "Made in Macaíba: a história da criação de uma utopia científico-social no ex-império dos Tapuias" (2016).
Na trajetória acadêmica e literária, o pesquisador desenvolveu ideias que contribuem na compreensão da humanidade e no uso das novas tecnologias a favor da saúde. Conheça as três principais delas:
O mistério da linguagem dos neurônios
Para se compreender o funcionamento do cérebro, é preciso entender a organização dos neurônios. Eles se comunicam entre si e tem uma linguagem própria, segundo a teoria distribucionista dos neurônios.
Descrita pela primeira vez na década de 1940, ela defende que um neurônio isolado não é responsável por comportamentos humanos complexos, mas, sim, um conjunto deles. A teoria foi comprovada com os experimentos de Miguel Nicolelis, que desvendou a linguagem dos neurônios na década de 1990.
O cientista desenvolveu uma técnica para monitorar conjuntos de até 500 neurônios de uma só vez em tempo real, a partir da implantação de eletrodos no cérebro de camundongos. O experimento permitiu entender como os neurônios, em conjunto, geram comportamentos. E mais: como transformar impulsos elétricos em comandos entendidos por computadores. Esta é a base da interface cérebro-máquina.
O que é a interface homem-máquina
O termo se refere à tecnologia que auxilia o cérebro humano a se conectar com computadores e outros dispositivos eletrônicos. Miguel Nicolelis se utiliza deste conceito para desenvolver dispositivos que ajudem pacientes com lesões medulares a recuperarem os movimentos e as sensações nos membros inferiores.
A tecnologia permite que as pessoas controlem um equipamento por meio da atividade elétrica do cérebro. No caso da Copa de 2014, o exoesqueleto recebeu comandos em tempo real a partir da atividade cerebral do jovem que o vestiu, capturada por eletroencefalografia.
As pesquisas de Miguel Nicolelis sobre a interface homem-máquina são um exemplo da aliança entre a medicina e as novas tecnologias, também conhecida como Saúde 4.0.
O conceito de brainets e como estas redes contribuíram para a evolução humana
O conceito é a mais recente contribuição de Miguel Nicolelis para a neurociência. As brainets são um mecanismo neurofisiológico que permitiu a evolução da humanidade, por meio da sincronização da atividade neural de vários cérebros. Foi este sistema que permitiu a sobrevivência da espécie humana, o surgimento de civilizações e o desenvolvimento das artes e da ciência.
O que mais você gostaria de aprender com Miguel Nicolelis?
Os três conceitos que você acaba de ler são uma amostra do conhecimento que Miguel Nicolelis tem para compartilhar. E você pode aprender muito mais sobre tecnologia, saúde e neurociência com um dos maiores cientistas do mundo!
Ele é um dos professores da Pós PUCPR Digital no curso Saúde 4.0: Gestão, Tecnologia e Inovação. Todas as aulas são em primeira pessoa e 100% online, com uma metodologia exclusiva que permite você interagir ao vivo com o professor.