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O futuro do dólar como moeda internacional

1 de outubro de 2024

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    O dólar estadunidense (USD) possui um papel central na economia global desde o final da Segunda Guerra Mundial, tendo se consolidado como a principal moeda no comércio internacional. 

    Sua hegemonia, no entanto, tem sido questionada à medida que surgem desafios geopolíticos, mudanças no mercado internacional e novas potências econômicas. 

    Entenda o contexto histórico do dólar (USD), sua relevância na atualidade e os possíveis cenários para o seu futuro como moeda dominante. 

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    A história do dólar

    O dólar americano foi criado em 1792, com a assinatura do Act of Coinage pelo Congresso dos Estados Unidos, que estabeleceu a moeda como a unidade monetária oficial do país. Essa legislação também determinou que o dólar seria lastreado em prata e ouro, estabelecendo os primeiros parâmetros para a cunhagem de moedas no país. 

    A criação do dólar foi motivada pela necessidade de unificar e estabilizar a economia norte-americana após a Guerra da Independência (1775-1783), que deixou o país com uma série de moedas em circulação, muitas delas de origens estrangeiras. O novo governo dos Estados Unidos, liderado por Alexander Hamilton (1755-1804) como Secretário do Tesouro, entendeu a importância de uma moeda única para consolidar a soberania econômica e facilitar o comércio nacional e internacional. 

    Alexander Hamilton, em seu “Relatório sobre o Crédito Público” de 1790, foi um dos principais defensores de uma moeda unificada para fortalecer o crédito do país e estabelecer os EUA como uma potência econômica emergente. 

    Outro teórico da época, Thomas Jefferson (1743-1826), tinha uma visão mais cautelosa (e contrastante a de Hamilton) em relação ao controle centralizado da moeda, temendo que isso pudesse levar à concentração de poder financeiro nas mãos de poucos através do governo central. 

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    O dólar no pós Segunda Guerra Mundial

    O dólar começou a emergir como a principal moeda internacional após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas foi somente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que se consolidou como a moeda global dominante. 

    Com os acordos de Bretton Woods, em 1944, o dólar foi oficialmente atrelado ao ouro, enquanto outras moedas principais foram atreladas ao dólar, estabelecendo a hegemonia da moeda norte-americana no sistema financeiro internacional. Assim, o dólar substituiu a libra esterlina como âncora do sistema financeiro global. 

    O contexto pós-Segunda Guerra Mundial foi decisivo para a ascensão do dólar como moeda dominante. Os Estados Unidos emergiram da guerra como a maior potência econômica mundial, com grandes reservas de ouro e uma infraestrutura econômica intacta, enquanto a Europa e a Ásia estavam devastadas. 

    John Maynard Keynes (1883-1946), um dos principais arquitetos de Bretton Woods, tinha uma visão alternativa para o sistema financeiro global, propondo a criação de uma moeda internacional chamada “bancor”. 

    No entanto, a proposta foi rejeitada pelos Estados Unidos, que estavam determinados a garantir a hegemonia do dólar. Outro economista influente da época, Harry Dexter White (1892-1948), foi um dos maiores defensores do papel central do dólar no sistema de Bretton Woods. 

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    O dólar nos dias atuais 

    O cenário geopolítico atual apresenta desafios significativos para o dólar. A crescente tensão entre os Estados Unidos e a China, a expansão da agressividade russa e a incerteza política dentro da União Europeia são fatores que têm levado alguns analistas a questionarem a longevidade da hegemonia do dólar. A ascensão da China como uma superpotência econômica, com sua moeda, o renminbi, ganhando força nos mercados internacionais, também levanta dúvidas sobre o futuro do dólar como principal moeda de reserva mundial. 

    No mercado internacional, o dólar continua a ser amplamente utilizado como moeda de reserva e de transações comerciais. Cerca de 60% das reservas cambiais globais são denominadas em dólares, e a maioria das transações internacionais, especialmente em commodities como o petróleo, ainda são cotadas em dólares. 

    No entanto, as políticas monetárias dos EUA, como a flexibilização quantitativa e o aumento da dívida pública, têm gerado preocupações sobre a estabilidade a longo prazo do dólar. 

    Economistas contemporâneos, como Barry Eichengreen, argumentam que, embora o dólar continue a dominar o sistema financeiro global, seu monopólio está sendo gradualmente corroído pela diversificação das reservas cambiais e pela crescente aceitação de outras moedas, como o euro e o renmibi. 

    Outros estudiosos, como Eswar Prasad, apontam que a digitalização do dinheiro e o desenvolvimento de moedas digitais soberanas, como o yuan digital, podem acelerar esse processo de desdolarização global. 

    O que esperar do futuro do dólar 

    Há uma série de ameaças que podem afetar a posição do dólar como moeda dominante. A ascensão de moedas digitais emitidas por bancos centrais, como o yuan digital, pode reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais. 

    Além disso, as tensões geopolíticas e a fragmentação da ordem internacional também podem levar países a buscar alternativas ao dólar, como visto nas iniciativas de desdolarização lideradas por Rússia e China. 

    Para que uma moeda seja uma ameaça ao dólar, ela precisa cumprir certos requisitos. Primeiro, deve haver confiança generalizada na estabilidade da moeda e da economia que a emite. 

    Em segundo lugar, a moeda precisa ser amplamente aceita em transações comerciais e ser utilizada como reserva de valor. 

    Por fim, a moeda deve ser apoiada por um mercado financeiro líquido e profundo, que permita a livre movimentação de capitais. O euro e o renmibi, embora ainda não preencham todos esses critérios, ambos possuem potencial para competir com o dólar no longo prazo. 

    Teóricos como Paul Krugman argumentam que o dólar pode permanecer como a principal moeda internacional, mas que sua dominância será menos pronunciada do que no passado. 

    Já autores como Michael Pettis sugerem que, à medida que a economia global se torna mais multipolar, a demanda por uma única moeda dominante pode diminuir, com várias moedas regionais compartilhando o papel que o dólar desempenha hoje. 

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    Conclusão

    O futuro do dólar pode seguir diferentes direções. Um cenário possível é a manutenção de sua dominância, impulsionada pela força econômica e militar dos Estados Unidos e pela falta de alternativas viáveis. 

    Outro cenário possível é a emergência de um sistema financeiro multipolar, onde o dólar compartilha espaço com o euro, o renmibi e outras moedas. 

    Finalmente, a inovação tecnológica, como as criptomoedas e as moedas digitais emitidas por bancos centrais, pode criar um sistema financeiro mais descentralizado, no qual nenhuma moeda detém a hegemonia absoluta. 

    Embora o dólar continue a ser a moeda dominante no cenário internacional, seu futuro como moeda hegemônica está longe de ser garantido. As mudanças geopolíticas, a ascensão de outras economias e o desenvolvimento de novas tecnologias financeiras apresentam desafios significativos para sua supremacia. 

    O futuro do dólar dependerá de sua capacidade de se adaptar a essas mudanças e de sua resiliência frente às ameaças emergentes. 

    💡Quer saber mais sobre o futuro do dólar? Confira as fontes consultadas para a elaboração deste artigo: 

    • Chernow, R. (2004). Alexander Hamilton. Penguin Press. 
    • Eichengreen, B. (2011). Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System. Oxford University Press. 
    • Gallarotti, G. M. (1995). The Anatomy of an International Monetary Regime: The Classical Gold Standard, 1880-1914. Oxford University Press. 
    • Helleiner, E. (2014). The Status Quo Crisis: Global Financial Governance After the 2008 Meltdown. Oxford University Press. 
    • IMF (2024). Currency Composition of Official Foreign Exchange Reserves. International Monetary Fund. 
    • Krugman, P. (2015, October 26). The Importance of the Dollar's Decline. The New York Times. 
    • Prasad, E. (2021). The Future of Money: How the Digital Revolution Is Transforming Currencies and Finance. Harvard University Press. 
    • Skidelsky, R. (2000). John Maynard Keynes: Fighting for Britain 1937-1946. Penguin Random House. 
    • Subacchi, P. (2016, May 9). When the Dollar No Longer Rules. Foreign Affairs. 
    • Siripurapu, A.; Berman, N. (2022). The Dollar: Ther World’s Reserve Currency. Disponível em: https://www.cfr.org/backgrounder/dollar-worlds-reserve-currency 

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