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O dólar estadunidense (USD) possui um papel central na economia global desde o final da Segunda Guerra Mundial, tendo se consolidado como a principal moeda no comércio internacional.
Sua hegemonia, no entanto, tem sido questionada à medida que surgem desafios geopolíticos, mudanças no mercado internacional e novas potências econômicas.
Entenda o contexto histórico do dólar (USD), sua relevância na atualidade e os possíveis cenários para o seu futuro como moeda dominante.
O dólar americano foi criado em 1792, com a assinatura do Act of Coinage pelo Congresso dos Estados Unidos, que estabeleceu a moeda como a unidade monetária oficial do país. Essa legislação também determinou que o dólar seria lastreado em prata e ouro, estabelecendo os primeiros parâmetros para a cunhagem de moedas no país.
A criação do dólar foi motivada pela necessidade de unificar e estabilizar a economia norte-americana após a Guerra da Independência (1775-1783), que deixou o país com uma série de moedas em circulação, muitas delas de origens estrangeiras. O novo governo dos Estados Unidos, liderado por Alexander Hamilton (1755-1804) como Secretário do Tesouro, entendeu a importância de uma moeda única para consolidar a soberania econômica e facilitar o comércio nacional e internacional.
Alexander Hamilton, em seu “Relatório sobre o Crédito Público” de 1790, foi um dos principais defensores de uma moeda unificada para fortalecer o crédito do país e estabelecer os EUA como uma potência econômica emergente.
Outro teórico da época, Thomas Jefferson (1743-1826), tinha uma visão mais cautelosa (e contrastante a de Hamilton) em relação ao controle centralizado da moeda, temendo que isso pudesse levar à concentração de poder financeiro nas mãos de poucos através do governo central.
O dólar começou a emergir como a principal moeda internacional após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas foi somente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que se consolidou como a moeda global dominante.
Com os acordos de Bretton Woods, em 1944, o dólar foi oficialmente atrelado ao ouro, enquanto outras moedas principais foram atreladas ao dólar, estabelecendo a hegemonia da moeda norte-americana no sistema financeiro internacional. Assim, o dólar substituiu a libra esterlina como âncora do sistema financeiro global.
O contexto pós-Segunda Guerra Mundial foi decisivo para a ascensão do dólar como moeda dominante. Os Estados Unidos emergiram da guerra como a maior potência econômica mundial, com grandes reservas de ouro e uma infraestrutura econômica intacta, enquanto a Europa e a Ásia estavam devastadas.
John Maynard Keynes (1883-1946), um dos principais arquitetos de Bretton Woods, tinha uma visão alternativa para o sistema financeiro global, propondo a criação de uma moeda internacional chamada “bancor”.
No entanto, a proposta foi rejeitada pelos Estados Unidos, que estavam determinados a garantir a hegemonia do dólar. Outro economista influente da época, Harry Dexter White (1892-1948), foi um dos maiores defensores do papel central do dólar no sistema de Bretton Woods.
O cenário geopolítico atual apresenta desafios significativos para o dólar. A crescente tensão entre os Estados Unidos e a China, a expansão da agressividade russa e a incerteza política dentro da União Europeia são fatores que têm levado alguns analistas a questionarem a longevidade da hegemonia do dólar. A ascensão da China como uma superpotência econômica, com sua moeda, o renminbi, ganhando força nos mercados internacionais, também levanta dúvidas sobre o futuro do dólar como principal moeda de reserva mundial.
No mercado internacional, o dólar continua a ser amplamente utilizado como moeda de reserva e de transações comerciais. Cerca de 60% das reservas cambiais globais são denominadas em dólares, e a maioria das transações internacionais, especialmente em commodities como o petróleo, ainda são cotadas em dólares.
No entanto, as políticas monetárias dos EUA, como a flexibilização quantitativa e o aumento da dívida pública, têm gerado preocupações sobre a estabilidade a longo prazo do dólar.
Economistas contemporâneos, como Barry Eichengreen, argumentam que, embora o dólar continue a dominar o sistema financeiro global, seu monopólio está sendo gradualmente corroído pela diversificação das reservas cambiais e pela crescente aceitação de outras moedas, como o euro e o renmibi.
Outros estudiosos, como Eswar Prasad, apontam que a digitalização do dinheiro e o desenvolvimento de moedas digitais soberanas, como o yuan digital, podem acelerar esse processo de desdolarização global.
Há uma série de ameaças que podem afetar a posição do dólar como moeda dominante. A ascensão de moedas digitais emitidas por bancos centrais, como o yuan digital, pode reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais.
Além disso, as tensões geopolíticas e a fragmentação da ordem internacional também podem levar países a buscar alternativas ao dólar, como visto nas iniciativas de desdolarização lideradas por Rússia e China.
Para que uma moeda seja uma ameaça ao dólar, ela precisa cumprir certos requisitos. Primeiro, deve haver confiança generalizada na estabilidade da moeda e da economia que a emite.
Em segundo lugar, a moeda precisa ser amplamente aceita em transações comerciais e ser utilizada como reserva de valor.
Por fim, a moeda deve ser apoiada por um mercado financeiro líquido e profundo, que permita a livre movimentação de capitais. O euro e o renmibi, embora ainda não preencham todos esses critérios, ambos possuem potencial para competir com o dólar no longo prazo.
Teóricos como Paul Krugman argumentam que o dólar pode permanecer como a principal moeda internacional, mas que sua dominância será menos pronunciada do que no passado.
Já autores como Michael Pettis sugerem que, à medida que a economia global se torna mais multipolar, a demanda por uma única moeda dominante pode diminuir, com várias moedas regionais compartilhando o papel que o dólar desempenha hoje.
O futuro do dólar pode seguir diferentes direções. Um cenário possível é a manutenção de sua dominância, impulsionada pela força econômica e militar dos Estados Unidos e pela falta de alternativas viáveis.
Outro cenário possível é a emergência de um sistema financeiro multipolar, onde o dólar compartilha espaço com o euro, o renmibi e outras moedas.
Finalmente, a inovação tecnológica, como as criptomoedas e as moedas digitais emitidas por bancos centrais, pode criar um sistema financeiro mais descentralizado, no qual nenhuma moeda detém a hegemonia absoluta.
Embora o dólar continue a ser a moeda dominante no cenário internacional, seu futuro como moeda hegemônica está longe de ser garantido. As mudanças geopolíticas, a ascensão de outras economias e o desenvolvimento de novas tecnologias financeiras apresentam desafios significativos para sua supremacia.
O futuro do dólar dependerá de sua capacidade de se adaptar a essas mudanças e de sua resiliência frente às ameaças emergentes.
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