

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit
Acompanhe
A chegada de uma criança a uma família geralmente vem acompanhada de grandes expectativas. É comum que os pais idealizem o futuro dos filhos, imaginando quem eles se tornarão e desejando que façam as melhores escolhas possíveis.
Com o nascimento de uma criança neurodivergente, surgem inúmeros questionamentos, frustrações, dúvidas e anseios.
É comum que os pais enfrentem um período angustiante durante a fase de investigação diagnóstica. Pesquisadores destacam que os pais reagem de maneiras variadas diante dessa situação.
Alguns se dedicam intensamente à busca por informações, enquanto outros podem apresentar sentimentos de tristeza profunda ou raiva. Há também aqueles que se refugiam no trabalho como forma de lidar com o impacto emocional. Em alguns casos, os pais negam a realidade da condição do filho, sendo que os maiores desafios tendem a surgir quando permanecem em constante negação de suas próprias emoções.
Sobre essas emoções, alguns estudiosos têm problematizado expressões popularmente utilizadas para descrever esse processo, como o “luto” pelo filho idealizado, questionando a adequação de se falar em “luto” por uma criança que está viva. Especialistas na área apontam que esse termo é inadequado e pode intensificar ainda mais o sofrimento em um momento já delicado para a família.
Vamos, então, refletir sobre como a descoberta da neurodivergência intensifica a ruptura das expectativas em relação ao filho idealizado.
Desde a gravidez até o nascimento, os pais projetam uma criança em suas mentes e fantasiam sobre o sexo do bebê, seu nome, etc. No que diz respeito à construção destas expectativas, estudos apontam que os pais se relacionam com o bebê imaginado a partir de três perspectivas.
A primeira é de ordem estética: o bebê idealizado deve possuir características físicas e visuais que refletem semelhanças com os pais. A segunda envolve a dimensão da competência, na qual se espera que a criança seja intelectualmente capaz, com habilidades alinhadas ao estilo de vida e aos valores familiares. Já a terceira perspectiva refere-se ao futuro da criança, em que os pais imaginam um futuro ideal para ela.
O lugar da criança é determinado pelas expectativas que os pais têm sobre ela. Junto a esses sonhos, em diversas situações, também surge o medo da deficiência indesejada — um temor frequentemente alimentado pelos estereótipos sociais que cercam a deficiência e a neurodivergência.
Ideias como “pessoas neurodivergentes são dignas de pena”, “são um fardo para a família”, “são incapazes de participar da vida em sociedade” ou ainda “não podem trabalhar, ter filhos, etc” acabam intensificando o sofrimento dos pais ao receberem um diagnóstico relacionado ao filho.
O nascimento de uma criança com deficiência intelectual desafia todas as expectativas dos pais, levando o casal a enfrentar uma situação inesperada que requer um processo de reorganização e superação.
Estabelecer um ambiente inclusivo para a criança demanda tempo, podendo durar meses ou até anos. Esse processo não apenas transforma o estilo de vida dos pais, mas também seus valores e papéis na família.
Ter um filho neurodivergente frequentemente exige da família um cuidado mais intensivo, com maior dedicação a terapias e intervenções voltadas ao desenvolvimento da criança.
No entanto, é essencial lembrar que, antes de serem pais de uma criança autista, são simplesmente pais — com demandas, desafios e conflitos comuns à parentalidade. São pais de crianças que, como todas, também enfrentarão conflitos típicos da infância.
Ao receberem o diagnóstico, muitas vezes sem conhecimento prévio sobre o tema, é comum que a família entre em desespero. Nesse contexto, torna-se fundamental a atuação de profissionais qualificados, o acolhimento às famílias e um cuidado integral que contemple todos os envolvidos.
Além disso, é importante ter cautela para que a quebra de expectativas não comprometa a relação entre pais e filhos. É comum que crianças e adolescentes sintam-se pressionados a corresponder às projeções feitas por seus pais, o que pode gerar sentimentos de inadequação e infelicidade.
Quando os adultos depositam em seus filhos seus próprios sonhos, frustrações, desilusões, esperanças ou outros sentimentos, acabam enxergando apenas um reflexo de si mesmos. Com isso, deixam de reconhecer o indivíduo em processo de desenvolvimento à sua frente e têm dificuldade em se fazer presentes de forma plena nessa relação.
Lidar com essa nova e inesperada realidade pode provocar sofrimento, confusão, frustrações e medo nos pais, que muitas vezes são profundamente impactados em nível emocional.
Diante da ruptura das expectativas que haviam construído, é comum que experimentem sentimentos como angústia, tristeza, frustração, negação e uma gama de sentimentos ambíguos. Surgem também preocupações quanto à sobrevivência e ao futuro da criança, além da incerteza sobre como oferecer os cuidados necessários. Esses fatores podem gerar sentimentos de culpa, impotência e uma sensação de dependência em relação a terceiros.
Além das emoções despertadas nos pais diante do diagnóstico, outros elementos podem intensificar os sintomas de estresse nos cuidadores, como a rotina intensa de cuidados, as mudanças na dinâmica familiar, social e financeira.
A qualidade de vida dessas famílias também está diretamente relacionada a fatores como o acesso a serviços adequados, a presença de redes de apoio, os recursos financeiros disponíveis e a gravidade do quadro clínico apresentado pela criança.
Essas situações, quando não elaboradas, têm o potencial de gerar sobrecarga física e mental aos familiares e/ou cuidadores principais, podendo impactar negativamente a qualidade do vínculo estabelecido com a criança.
Pesquisas apontam algumas formas de apoio aos familiares, como: programas educacionais voltados ao manejo do estresse e grupos de orientação que oferecem informações sobre o transtorno.
Essas iniciativas visam a promover a conscientização sobre a importância do suporte social e contribuir para o fortalecimento emocional das famílias. Novas metas, planos e expectativas terão que ser reordenados na vida dessas pessoas.
Faz-se necessário também oferecer recursos e apoio adequados para ajudar a família a romper com os estereótipos sociais. A criança neurodivergente deve ser entendida como sujeito de possibilidades que podem ter suas capacidades potencializadas. Portanto, é fundamental que os pais respeitem a individualidade de seus filhos, demonstrem interesse genuíno por seus gostos, busquem conhecê-los de forma autêntica e sintam orgulho de quem eles são.
Caso os pais não consigam lidar com essa angústia pelo filho idealizado, é recomendado que se busque psicoterapia. Afinal, ninguém pode suprir as necessidades ou realizar os sonhos de outra pessoa. A melhor forma de proteger os filhos contra esse tipo de projeção é quando os pais cuidam de suas próprias emoções, pensamentos e expectativas em relação à própria vida.
💡Quer saber mais sobre parentalidade e neurodivergência? Confira as fontes consultadas para a elaboração deste artigo:
Por Redação
Gostou deste conteúdo? Compartilhe com seus amigos!
Assine a News da Pós para ficar por dentro das novidades
Receba conteúdos sobre:
Formulário enviado com sucesso!