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Arquitetura e Sustentabilidade

Smart cities, a combinação de tecnologia e sustentabilidade no meio urbano

Por Olívia Baldissera   | 

Londres foi considerada a cidade mais inteligente do mundo pelo Cities Motion Index, ranking anual da IESE Business School da Universidade de Navarra que classifica smart cities de todos os continentes.

Mas qual a situação das cidades brasileiras? Em que posição estamos? E quais características determinam se uma cidade é ou não uma smart city?

É o que você vai ver logo mais. Acompanhe:

O que são smart cities 
As 9 dimensões das smart cities

  1. Capital humano
  2. Coesão social
  3. Economia
  4. Governança
  5. Ambiente  
  6. Mobilidade e transportes
  7. Planejamento urbano
  8. Perfil internacional
  9. Tecnologia

As cidades inteligentes no Brasil

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O que são smart cities

Smart cities (ou “cidades inteligentes”, em português) são cidades que combinam investimentos em capital humano, social e tecnológico para impulsionar o crescimento econômico sustentável, a melhora na qualidade de vida da população e a gestão eficiente dos recursos naturais. Esse modelo pressupõe a participação ativa de cidadãs e cidadãos no planejamento e manutenção urbanos.

É importante destacar que não há uma única definição de smart city. Esse fenômeno de desenvolvimento urbano começou a ser conceituado na década de 1990, popularizando-se com o relatório “Smart Cities: Ranking of European Medium-Sized Cities”, elaborado por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Viena em 2007. 

Eles usaram como critérios para classificar as cidades inteligentes europeias a economia, a mobilidade, a governança e o autogerenciamento do espaço urbano feito por cidadãos conscientes e independentes.

Esse estudo inspirou a conceituação atual de smart cities, que se divide em duas categorias. A primeira se concentra no uso das tecnologias de informação e comunicação, as TICs, na infraestrutura urbana. A segunda inclui o capital social e o humano na equação do desenvolvimento urbano sustentável.

Independentemente da abordagem, as diferentes definições de smart city concordam que o objetivo final desse modelo é garantir o melhor uso dos recursos públicos, melhorando assim a vida das pessoas que vivem e circulam pela cidade. Isso pressupõe uma busca pela inovação constante, tanto por parte do poder público quanto por representantes da sociedade civil e da iniciativa privada.

>>> Leia também: Conheça os princípios da arquitetura sustentável

As 9 dimensões das smart cities

Quando se fala em classificar cidades como inteligentes, o IESE Cities in Motion Index é referência internacional. O estudo é elaborado pela IESE Business School da Universidade de Navarra, na Espanha, desde 2014. Em 2022, passou a analisar 183 cidades de todo o globo a partir de indicadores de sustentabilidade, justiça social e habitação.

Para elaborar o ranking de smart cities, são analisadas 9 dimensões:

1. Capital humano

Uma cidade inteligente deve ser capaz de atrair e reter talentos, planejar melhorias na educação e estimular a criatividade e a pesquisa científica.

Para medir o nível de capital humano de uma cidade, é preciso considerar o nível educacional da população e o acesso à cultura. O IESE Cities in Motion Index considera os seguintes indicadores para classificar uma smart city:

  • Proporção da população que tem Ensino Médio e Ensino Superior;
  • Número de escolas públicas e privadas;
  • Número de escolas de negócios na cidade que estão no top 100 do Financial Times;
  • Investimento anual per capita em educação por parte dos cidadãos;
  • Investimento em lazer e recreação como parte do Produto Interno Bruto (PIB) de uma cidade;
  • Investimento anual em lazer e recreação per capita por parte dos cidadãos;
  • Número de estudantes intercambistas no Ensino Superior;
  • Número de museus e galerias de arte;
  • Número de universidades;
  • Número de teatros.

2. Coesão social

No estudo, coesão social significa o sentimento de pertencimento que as pessoas têm ao participar de um projeto ou vivenciar uma situação. Ou seja, a intensidade das interações sociais entre os habitantes de uma mesma cidade, que têm culturas, rendas e ocupações diferentes.

Os indicadores de coesão social usados para classificar as cidades inteligentes são:

  • Ambientes amigáveis para mulheres;
  • Número de hospitais, clínicas e postos de saúde públicos e privados;
  • Taxa de criminalidade;
  • Resposta do poder público ao trabalho análogo à escravidão;
  • Taxas de felicidade;
  • Índice de Gini, que mede o grau de concentração de renda de uma região;
  • Taxa de violência;
  • Qualidade do sistema de saúde;
  • Ambientes amigáveis para a população LGBTQIA+;
  • Preço da moradia;
  • Número de mulheres trabalhando no setor público;
  • Número de óbitos a cada 100.000 habitantes;
  • Taxa de desemprego;
  • Taxa de assassinatos;
  • Taxa de suicídio;
  • Número de incidentes terroristas nos últimos três anos;
  • Tolerância racial.

3. Economia

Abrange os elementos necessários ao desenvolvimento econômico de uma cidade, como planejamento econômico, planejamento estratégico industrial, inovação e iniciativas empreendedoras.

Os indicadores avaliados são:

  • Facilidade em começar um negócio;
  • Parte da renda usada para pagar hipotecas;
  • Relação entre atividades empreendedoras motivadas por necessidade e por oportunidade;
  • Número de escritórios de organizações de capital aberto;
  • Produto Interno Bruto (PIB) em dólares;
  • PIB estimado para o próximo ano;
  • PIB per capita;
  • Poder de compra da população;
  • Produtividade laboral da população;
  • Valor pago por hora de trabalho, em dólares;
  • Tempo necessário para abrir uma empresa.

4. Governança

Em uma smart city, governança significa a efetividade do Estado em oferecer serviços públicos de qualidade ao mesmo tempo que otimiza o uso de recursos. Além disso, considera o incentivo à participação ativa dos cidadãos e a capacidade de envolvimento de empresas locais.

Para isso, o IESE Cities in Motion Index leva em conta:

  • Regulamentação e uso de bitcoins;
  • Certificação ISO 37120, que indica esforços de melhoria nos serviços urbanos e na qualidade de vida da população;
  • Número de prédios governamentais;
  • Número de embaixadas;
  • Porcentagem da população empregada na administração pública;
  • Uso de serviços online para fornecer informações aos cidadãos;
  • Índice de Capital Humano da Organização das Nações Unidas (ONU);
  • Força da legislação que protege devedores e facilita o acesso ao crédito;
  • Infraestrutura de telecomunicações;
  • Índice de percepção de corrupção;
  • Índice de serviços públicos online;
  • Número de centros de pesquisa e tecnologia;
  • Plataforma aberta de dados;
  • Índice de democracia;
  • Reservas financeiras em dólares;
  • Reserva financeira per capita, em dólares.

5. Ambiente

Esta dimensão considera as ações tomadas para garantir um desenvolvimento sustentável, como construção de edifícios verdes, planos de transição energética, uso eficiente da água e demais recursos naturais e gestão de resíduos. Também inclui políticas públicas para minimizar os impactos das mudanças climáticas no curto, médio e longo prazo.

Os indicados analisados são:

  • Emissões de CO2;
  • Emissões de gás metano;
  • Índice de Performance Ambiental, calculado pela Universidade de Yale;
  • Índice de emissões de CO2;
  • Índice de poluição;
  • PM10, ou seja, o número de partículas no ar com um diâmetro menor do que 10 µm ao longo de um ano;
  • PM2.5, ou seja, o número de partículas no ar com um diâmetro menor do que 2,5 µm ao longo de um ano;
  • Porcentagem da população com acesso à água potável;
  • Fontes de água renovável per capita;
  • Quantidade de lixo gerada por habitante;
  • Vulnerabilidade climática.

6. Mobilidade e transportes

Uma smart city deve facilitar o deslocamento e o acesso a serviços públicos por parte da população, independentemente do modal (metrô, ônibus, bicicleta ou a pé).

O IESE Cities in Motion Index analisa os seguintes indicadores nessa dimensão:

  • Sistema de locação de bicicletas;
  • Sistema de locação de ciclomotores;
  • Sistema de locação de patinetes;
  • Número de bicicletas por domicílio;
  • Plataformas de compartilhamento de bicicletas;
  • Número de estações de metrô;
  • Índice de ineficiência do trânsito;
  • Tempo de deslocamento até o trabalho;
  • Tempo gasto no trânsito;
  • Tamanho do sistema de metrô;
  • Número total de veículos;
  • Número de voos que partem da cidade.

7. Planejamento urbano

O planejamento urbano não se resume ao projeto de ruas e moradias. Ele deve incluir a criação de espaços públicos verdes e acessibilidade, criando cidades compactadas e conectadas. Isso envolvendo o poder público, organizações da sociedade civil, cidadãos, cientistas e representantes do setor privado.

A classificação de smart cities nessa dimensão envolve a análise de:

  • Extensão do sistema de ciclovias;
  • Número de edificações concluídas;
  • Número de estações de locação de bicicletas;
  • Número de estações de recarga para carros elétricos;
  • Número de pessoas habitando um mesmo domicílio;
  • Porcentagem da população urbana com acesso a serviços de saneamento básico;
  • Projetos de Inteligência Artificial (IA);
  • Número de edifícios considerados arranha-céus.

8. Perfil internacional

Uma cidade com perfil internacional é aquela que tem um planejamento estratégico para o turismo, atrai investimentos estrangeiros e tem representação no exterior.

Nesta dimensão, são avaliados:

  • Número de passageiros por aeroporto;
  • Número de hotéis per capita;
  • Índice de preços de refeições e bebidas, comparados aos restaurantes de Nova York;
  • Número de unidades do McDonald’s;
  • Número de congressos e encontros sediados.

9. Tecnologia

A última dimensão das smart cities avalia a extensão do uso de tecnologias da comunicação e informação (TICs), o que reflete na melhora da qualidade de vida da população. O desenvolvimento tecnológico também possibilita um modelo produtivo mais sustentável do ponto de vista ambiental e social.

Os indicadores usados pelo IESE Cities in Motion Index aqui são:

  • Número de usuários ativos de banda larga móvel;
  • Índice de inovação;
  • Porcentagem de domicílios com acesso à internet;
  • Porcentagem da população com acesso a uma rede móvel LTE/WiMAX;
  • Porcentagem de domicílios com computador pessoal;
  • Número de telefones celulares para cada 100 habitantes;
  • Número de usuários registrados no Twitter e no LinkedIn;
  • Número de usuários de internet banda larga a cada 100 habitantes;
  • Velocidade da internet em MB/s;
  • Velocidade da internet móvel em MB/s;
  • Número total de pontos de WiFi.

>>> Leia também: Sustentabilidade, a sexta onda de inovação

As cidades inteligentes no Brasil

O IESE Cities in Motion Index inclui seis capitais brasileiras no ranking. Apesar de terem iniciativas de inovação pontuais, elas têm um índice inferior a 45, o que significa uma baixa performance nas dimensões avaliadas.

As cidades brasileiras que fazem parte das smart cities classificadas pelo IESE Cities in Motion Index são:

  • São Paulo – 130ª posição, com ICIM de 36.43
  • Rio de Janeiro – 136ª posição, com ICIM de 34.42
  • Curitiba – 153ª posição, com ICIM de 28.89
  • Brasília – 159ª posição, com ICIM de 28.16
  • Salvador – 169ª posição, com ICIM de 26.05
  • Belo Horizonte – 172ª posição, com ICIM de 24.07

Já as dez cidades mais inteligentes do mundo têm índices superiores a 70. São elas:

  1. Londres – ICIM: 100
  2. Nova York – ICIM: 98.25
  3. Paris – ICIM: 84.99
  4. Tóquio – ICIM: 80.30
  5. Berlim – ICIM: 76.42
  6. Washington – ICIM: 74.27
  7. Singapura – ICIM: 73.33
  8. Amsterdã – ICIM: 73.03
  9. Oslo – ICIM: 73.01
  10. Copenhagen – ICIM: 71.47

As cidades brasileiras figuram nas últimas posições do ranking de 183 países por terem indicadores baixos nos quesitos de infraestrutura, desigualdade social, governança e investimento em pesquisa e tecnologia.

Vamos pegar São Paulo para ilustrar a situação. No IESE Cities in Motion Index de 2022, a capital paulista conquistou uma boa colocação na dimensão “Perfil Internacional”, a 27 ª posição em uma lista de 183 cidades. A metrópole também tem iniciativas premidas pelo Instituto Smart City Business America, como o Programa de Ciências Comportamentais, o Empreenda Fácil e o MEI Nota Fácil

No entanto, nas demais dimensões do index, São Paulo tem indicadores que refletem a grande desigualdade social da capital. Por exemplo, o índice de Gini do município é de 0,6453 – o índice varia entre 0 e 1 e, quanto maior o valor, maior é a desigualdade econômica.

Já no quesito mobilidade a capital paulista está na 177ª posição. De acordo com o Numbeo, plataforma usada pelos pesquisadores da Universidade de Navarra para elaborar o IESE Cities in Motion Index, o tempo média gasto para se deslocar de um ponto para outro na cidade de São Paulo é de 50 minutos. Esse número coloca a metrópole entre as 30 cidades com maior tempo de deslocamento, em uma lista de 239 municípios. 

Isso não significa que as cidades brasileiras não possam alcançar o modelo de smart cities. Existem iniciativas de pesquisa e de incentivo de prefeituras, estados e governo federal que visam a conectar os municípios e melhorar a qualidade de vida da população.

Um exemplo positivo é o projeto Smart City Laguna, criado em São Gonçalo do Amarante, no Ceará, em 2011. Considerada a primeira cidade inteligente inclusiva do mundo, o projeto, de iniciativa privada, contou com a construção de casas apoiadas pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Os moradores contam com sinal gratuito de WiFi, postes inteligentes, espaços comunitários ao ar livre, bibliotecas, ciclovias e cozinhas compartilhadas.

E desde 2019 o governo federal coleta informações de todos os municípios brasileiros para fazer um diagnóstico de maturidade para Cidades Inteligentes e Sustentáveis, com o objetivo de elaborar uma política nacional para smart cities.

Seja no Brasil ou em outros países, as smart cities são um caminho promissor para enfrentar os problemas sociais e os impactos das mudanças climáticas. Esse modelo deve tornar as cidades um ambiente mais acolhedor, saudável e democrático para as gerações presentes e futuras. 

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Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora, é apaixonada por pesquisa, planejamento e conteúdo. Contribui para o blog da Pós PUCPR Digital desde 2021.

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