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Arquitetura e Sustentabilidade

Conheça os princípios da arquitetura sustentável

Por Olívia Baldissera   | 

A arquitetura sustentável é uma forma de concepção de projetos construtivos que visa à redução dos impactos ambientais, à otimização do uso de recursos naturais e à qualidade de vida das pessoas.

Uma maneira de colocar essas ideias em prática é seguir alguns princípios que ajudam arquitetas e arquitetos a planejar uma construção que tenha responsabilidade ambiental e social.

Antes de listar cada um deles, é preciso conhecer os conceitos de sustentabilidade e arquitetura sustentável. É o que você vai ver por aqui:

O que significa sustentabilidade 
O que é arquitetura sustentável 
O conceito de Green Building 
As origens da arquitetura sustentável 
15 princípios da arquitetura sustentável

  1. Análise do entorno
  2. Uso sustentável do terreno
  3. Planejamento detalhado e integrado
  4. Adaptação às condições climáticas com desenho bioclimático
  5. Atender as necessidades dos usuários
  6. Cumprimento das normas e legislações
  7. Eficiência energética
  8. Eficiência hídrica
  9. Uso racional dos materiais
  10. Uso de novas tecnologias
  11. Paisagismo sustentável
  12. Saúde e bem-estar dos ocupantes
  13. Viabilidade econômica
  14. Análise do ciclo de vida
  15. Promover a conscientização

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O que significa sustentabilidade

Sustentabilidade é o suprimento das necessidades do presente sem o comprometimento da capacidade das gerações futuras de satisfazerem as próprias necessidades.

Essa é a definição da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgada em 1987 no relatório “Our Common Future” (“Nosso Futuro Comum”, em tradução para o português), também chamado de Relatório Brundtland.

Nessa perspectiva, a sustentabilidade pressupõe um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a proteção ambiental e a justiça social. Ela deve ser abordada de forma integrada e global, envolvendo ações coordenadas em níveis local, nacional e internacional.

Em 2020, uma equipe liderada pelo pesquisador Christoph Rupprecht, então no Research Institute for Humanity and Nature (RIHN), propôs uma expansão para o conceito de sustentabilidade

"Sustentabilidade multiespécie significa atender às necessidades diversas, mutáveis, interdependentes e irredutivelmente inseparáveis de todas as espécies do presente, ao mesmo tempo em que aprimora a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades.". 

O que é arquitetura sustentável

Partindo da concepção da ONU de sustentabilidade, a arquitetura sustentável pode ser definida como todo projeto que tem como objetivo ordenar o espaço e que atende as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras.

A definição da ONU possibilita uma conceituação mais detalhada de arquitetura sustentável, feita por pesquisadores e profissionais da área.

Pensando que a arquitetura é uma área do conhecimento que visa a organizar o espaço em que vivem as pessoas, a arquitetura sustentável pressupõe impactos ambientais mínimos, uso eficiente de recursos e o desenvolvimento das relações pessoais e interpessoais.

Isso significa que, para um empreendimento ser considerado sustentável, ele deve promover a melhora na qualidade de vida das pessoas, integrando-se ao entorno, aos aspectos culturais e ao clima local.

A arquitetura sustentável também é definida como uma forma de promoção da igualdade social, por meio da valorização de aspectos culturais, da eficiência econômica e do menor impacto ambiental e socioeconômico nas soluções adotadas.

Esse impacto pode ser dividido em dois tipos:

  1. Impacto durante a fase de execução do projeto: extração, processamento e distribuição de recursos construtivos, que geram a maior interferência no meio ambiente.
  2. Impacto durante a fase de utilização da edificação: função social da construção e interferência na vida das pessoas que circulam pelo entorno.

Ou seja, a arquitetura sustentável não é uma escola arquitetônica com elementos estéticos específicos, mas uma abordagem que deve estar presente em todas as etapas de um projeto, dos croquis à escolha dos materiais, da construção ao design do interior dos ambientes.

O planejamento e a execução do projeto devem aproveitar ao máximo as condições naturais do espaço, considerando o clima, a iluminação, a ventilação e a topografia para reduzir o desperdício energético.

E a preocupação com a sustentabilidade não termina com a entrega da obra. A manutenção e o uso da edificação pelas pessoas que passam por ela também devem respeitar preceitos socioambientais.

Para isso, a arquitetura sustentável tem como aliada o conceito de construção sustentável: um conjunto de estratégias de utilização do solo, projeto arquitetônico e construção que reduzem o impacto ambiental e o consumo de energia, visando à proteção de ecossistemas e à saúde das pessoas.

O conceito de Green Building

Green Building se refere a toda iniciativa de construção civil que usa recursos naturais de forma eficiente, promove conforto entre as pessoas, tem uma vida útil ampliada e é adaptável às mudanças de necessidades dos usuários.

O conceito também pressupõe a preocupação com a multidimensionalidade da sustentabilidade da fase projetual à utilização da edificação pelas pessoas, contemplando aspectos socioeconômicos, culturais, ambientais e políticos a partir de perspectivas de curto, médio e longo prazo.

O termo também se refere a um movimento de arquitetos, empresários e organizações não governamentais que se articulou em 1993, com a fundação do U.S. Green Building Council (USGBC). A entidade é responsável pela certificação de projetos LEED, sigla para “Leadership in Energy and Environmental Design”.

O certificado foi criado para incentivar e acelerar a adoção de práticas de construção sustentável, atestando os benefícios da arquitetura sustentável também de um ponto de vista mercadológico:

  • Benefícios estratégicos: diminuição de riscos e danos ambientais, além da valorização do valor de um imóvel.
  • Benefícios operacionais: economia de custos e consumo durante a fase da construção.
  • Benefícios econômicos: maior valor agregado a empreendimentos e redução de custos de manutenção.

>>> Leia também: Investimentos ESG: como funcionam os ativos que estão em alta no mercado financeiro

As origens da arquitetura sustentável

O debate sobre a arquitetura sustentável anda lado a lado com as discussões sobre a preservação do meio ambiente e as mudanças climáticas em um âmbito global.

Alguns marcos importantes foram:

  • A Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização dos Recursos Naturais, em 1949;
  • A Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, em 1972;
  • A publicação do relatório “Our Common Future” pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987;
  • A Cúpula da Terra e a Agenda 21, em 1992;
  • O Pacto Global, em 2000;
  • Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030, em 2015.

O relatório “Our Common Future”, em especial, tem uma seção totalmente dedicada ao urbanismo e arquitetura sustentáveis, detalhando questões como o crescimento das cidades nos países em desenvolvimento, o planejamento urbano e a qualidade de vida das comunidades.

Já o ODS 11 abarca a arquitetura sustentável ao colocar como meta “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” até 2030.

Isso não significa que não se falasse em usar de forma eficiente os recursos naturais e minimizar impactos dos projetos arquitetônicos antes das conferências da ONU. Paralelamente às discussões, o arquiteto e pesquisador Victor Olgyay definiu e publicizou o conceito de arquitetura bioclimática no livro “Design with Climate” (1963).

A arquitetura bioclimática se baseia no aproveitamento dos fatores climáticos para aumentar a eficiência energética de uma construção, diminuindo assim a dependência de fontes não renováveis de energia. Outro pilar da arquitetura bioclimática é a harmonia entre a edificação e o espaço que a circunda, respeitando as características da natureza local e as necessidades da comunidade.

No Brasil, entre 1930 e 1960, a escola modernista brasileira já defendia o uso inteligente do clima local para reduzir o consumo de energia elétrica em edificações residenciais e comerciais. Projetos de profissionais como Lúcio Costa recorriam a quebra-sóis, cobogós, claraboias e aberturas para ventilação para garantir o conforto térmico e aproveitar a iluminação natural, além de primar pela harmonização entre os espaços internos e a natureza no entorno.

Projeto de Lúcio Costa para o Parque Eduardo Guinle (1943), no Rio de Janeiro, e foto contemporânea de um dos prédios executados. Casa Lúcio Costa; Divulgação/RioTurProjeto de Lúcio Costa para o Parque Eduardo Guinle (1943), no Rio de Janeiro, e foto contemporânea de um dos prédios executados. Casa Lúcio Costa; Divulgação/RioTur

15 princípios da arquitetura sustentável

As definições que trouxemos até aqui podem ser difíceis de ser colocadas em prática, por parecerem bastante abstratas e subjetivas. Ter em mente os princípios da arquitetura sustentável vai te ajudar a elaborar projetos mais conscientes do ponto de vista socioambiental.

A lista abaixo é do SustentArqui, negócio social voltado à promoção da arquitetura sustentável:

1. Análise do entorno

Toda construção afeta o ecossistema de uma região, impactando o trânsito, a qualidade do ar, os corpos hídricos e a rotina da comunidade. A análise do entorno do terreno deve ser feita antes mesmo do desenvolvimento do projeto.

O que considerar:

  • Integrar o projeto ao entorno, respeitando o espaço, o tráfego de pessoas e as condições geológicas existentes;
  • Valorizar a origem dos materiais e da cultura local;
  • Minimizar o incômodo gerado na vizinhança, por meio da realização do Estudo de Impacto da Vizinhança (EIV);
  • Proteger a qualidade do ar, do solo e dos corpos d’água durante e após a construção, com a ajuda do Estudo de Impacto Ambiental (EIA);
  • Antecipar e liquidar possíveis impactos no entorno durante a operação da edificação.

2. Uso sustentável do terreno

Todo projeto que se diz sustentável deve considerar os espaços e infraestrutura que já existem no terreno, como o acesso a serviços de esgoto, água, eletricidade e transporte público.

Outro ponto importante é interferir o mínimo possível no ambiente, respeitando as características locais do solo, da vegetação, do microclima e do ciclo hidrológico.

O que considerar:

  • Priorizar terrenos que já contam com infraestrutura de serviços básicos e de transporte alternativo;
  • Não fazer modificações radicais no terreno;
  • Utilizar a menor porção possível do terreno para a construção da edificação;
  • Maximizar as áreas verdes e permeáveis do terreno para manter o ciclo hidrológico do espaço;
  • Preferir espécies nativas ou adaptadas no projeto de paisagismo;
  • Usar pisos com alta taxa de permeabilidade;
  • Fazer a gestão das águas pluviais.

3. Planejamento detalhado e integrado

O planejamento em arquitetura sustentável envolve a integração de todas as disciplinas em todo o ciclo de vida da construção. Os profissionais técnicos devem estabelecer as metas de sustentabilidade do empreendimento em conjunto.

As principais disciplinas que devem ser integradas no projeto são:

  • Arquitetura;
  • Design de Interiores;
  • Engenharia Mecânica;
  • Engenharia de Instalações;
  • Engenharia Civil;
  • Engenharia Elétrica;
  • Luminotécnica;
  • Consultoria LEED;
  • Facilities;
  • Automação;
  • Gestão de Projetos.

4. Adaptação às condições climáticas com desenho bioclimático

Toda edificação deve ser adaptada ao local onde está inserida, promovendo o conforto do usuário e minimizando o uso de recursos ambientais. Uma estratégia para essa adaptação é o desenho arquitetônico bioclimático, que já descrevemos por aqui.

O que considerar:

  • Analisar os ventos predominantes, a insolação, a temperatura e os índices pluviométricos da região. Ou seja, estudar o microclima local;
  • Fazer o aproveitamento passivo de recursos naturais, como iluminação e ventilação;
  • Usar elementos arquitetônicos que reduzam o consumo energético e aumentem o conforto térmico, como cobogós e claraboias.

5. Atender as necessidades dos usuários

Todo projeto de arquitetura sustentável deve prever o ciclo de vida da edificação, incluindo as diferentes formas de uso do espaço no decorrer do tempo. Os ambientes devem ser flexíveis e adaptáveis para que a construção possa ser adequada durante todo o período de ocupação.

O que considerar:

  • O projeto deve ser ergonômico, flexível e adaptável às mudanças de uso;
  • Prever a acessibilidade universal na edificação;
  • Prever o atendimento das demandas dos usuários no curto, médio e longo prazo.

6. Cumprimento das normas e legislações

As normas técnicas e legislações devem ser respeitadas para garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores envolvidos no planejamento e na execução do projeto – o que estende às pessoas que vão usar a edificação após concluída.

Aqui não estamos falando apenas de leis ambientais, mas também da legislação trabalhista. Não há sustentabilidade se não houver responsabilidade social.

>>> Leia também: Práticas ESG de meio ambiente, responsabilidade social e governança

7. Eficiência energética

O projeto deve recorrer a estratégias de menor consumo de energia em todas as etapas, da execução da construção à operação, sem prejudicar o conforto do usuário. Para isso, é preciso recorrer a ferramentas de análise climática e simulações computacionais.

Também é importante monitorar o consumo para garantir uma boa gestão energética do empreendimento. E, sempre que possível, usar fontes de energia renováveis.

8. Eficiência hídrica

Formas de reduzir o consumo e evitar o desperdício de água devem estar previstas no projeto. Algumas estratégias comuns são o uso de água pluvial ou de reuso para fins não potáveis, como higienização de espaços, e o plantio de espécies que não precisam de irrigação no paisagismo.

A medição e o monitoramento do consumo de água para identificar possíveis vazamentos também são fundamentais.

9. Uso racional dos materiais

O uso racional envolve a extração, o processamento, o transporte, a manutenção e o descarte de materiais ao longo de todo o processo de construção.

O que considerar:

  • Métodos construtivos pré-fabricados ou modulares que evitam o desperdício;
  • Priorizar materiais regionais e reciclados;
  • Reutilizar materiais sempre que possível;
  • Usar madeiras de manejo sustentável;
  • Analisar e respeitar o ciclo de vida dos materiais.

10. Uso de novas tecnologias

Tecnologias como a Inteligência Artificial (IA), a Internet das Coisas, a energia fotovoltaica e a impressão 3D são grandes aliadas na criação de empreendimentos inteligentes e sustentáveis a preços mais acessíveis.

11. Paisagismo sustentável

A arquitetura sustentável combate o uso de espécies exóticas e invasoras no paisagismo, que podem prejudicar o solo e necessitar de pesticidas. Deve-se dar preferência às espécies nativas e deixar os modismos de lado.

O que considerar:

  • Usar a vegetação nativa a favor da eficiência energética e hídrica da construção, o que indiretamente protege a biodiversidade;
  • Incluir telhados verdes e jardins verticais no projeto sempre que possível, pois garantem conforto térmico e bem-estar aos usuários;
  • Recorrer a sensores de umidade para uma irrigação adequada e, assim, evitar desperdício de água.

12. Saúde e bem-estar dos ocupantes

Além do consumo de água e de energia, um projeto sustentável deve se preocupar com o bem-estar das pessoas, criando espaços acolhedores e confortáveis.

O que considerar:

  • Garantir o conforto térmico, acústico e lumínico das pessoas que vão usar a edificação;
  • Garantir a circulação e renovação do ar nos ambientes;
  • Usar materiais com níveis baixos de compostos orgânicos voláteis;
  • Incluir espaços de descompressão no caso de empreendimentos comerciais;
  • Planejar ambientes que estimulem a prática de atividade física e a alimentação saudável.

13. Viabilidade econômica

A arquitetura sustentável deve abranger os três pilares da sustentabilidade, que são o ambiental, o social e o econômico.

Do ponto de vista financeiro, todo empreendimento deve incluir entre as estratégias de sustentabilidade estudos de payback e custos em todas as etapas do projeto – em especial as de manutenção e operação, em que a maior concentração de consumo de recursos.

O que considerar:

  • A construção deve ser atraente para aumentar o valor agregado do empreendimento;
  • Prever estratégias de redução de custos de operação e manutenção;
  • Realizar estudos de viabilidade técnica e econômica do empreendimento antes da fase de planejamento do projeto.

14. Análise do ciclo de vida

A análise do ciclo de vida da edificação ajuda a entender o impacto ambiental que ela vai gerar no curto, médio e longo prazo. Esse estudo deve contemplar todas as etapas, da extração das matérias-primas à demolição.

O que considerar:

  • Pensar em uma edificação duradoura e que tenha o menor impacto possível ao meio ambiente e à população;
  • Adotar uma gestão sustentável durante todo o ciclo de vida da edificação;
  • Reaproveitar e reciclar os resíduos na fase de demolição da edificação.

15. Promover a conscientização

Projetos de arquitetura sustentável contribuem para a conscientização da população sobre a importância de repensar questões que contribuem para as mudanças climáticas, como o consumismo, o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento.

A edificação se torna um exemplo dos benefícios que a preservação do meio ambiente e a economia verde trazem para a sociedade como um todo. Durante a operação, as pessoas devem ser orientadas a fazer um uso consciente do empreendimento, como evitar o desperdício de água e a geração de lixo.

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Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora, é apaixonada por pesquisa, planejamento e conteúdo. Contribui para o blog da Pós PUCPR Digital desde 2021.

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