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A arquitetura sustentável é uma forma de concepção de projetos construtivos que visa à redução dos impactos ambientais, à otimização do uso de recursos naturais e à qualidade de vida das pessoas.
Uma maneira de colocar essas ideias em prática é seguir alguns princípios que ajudam arquitetas e arquitetos a planejar uma construção que tenha responsabilidade ambiental e social.
Antes de listar cada um deles, é preciso conhecer os conceitos de sustentabilidade e arquitetura sustentável. É o que você vai ver por aqui!
Sustentabilidade é o suprimento das necessidades do presente sem o comprometimento da capacidade das gerações futuras de satisfazerem as próprias necessidades.
Essa é a definição da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgada em 1987 no relatório “ Our Common Future ” (“Nosso Futuro Comum”, em tradução para o português), também chamado de Relatório Brundtland.
Nessa perspectiva, a sustentabilidade pressupõe um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a proteção ambiental e a justiça social. Ela deve ser abordada de forma integrada e global, envolvendo ações coordenadas em níveis local, nacional e internacional.
Em 2020, uma equipe liderada pelo pesquisador Christoph Rupprecht, então no Research Institute for Humanity and Nature (RIHN), propôs uma expansão para o conceito de sustentabilidade :
"Sustentabilidade multiespécie significa atender às necessidades diversas, mutáveis, interdependentes e irredutivelmente inseparáveis de todas as espécies do presente, ao mesmo tempo em que aprimora a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades.".
Partindo da concepção da ONU de sustentabilidade, a arquitetura sustentável pode ser definida como todo projeto que tem como objetivo ordenar o espaço e que atende as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras.
A definição da ONU possibilita uma conceituação mais detalhada de arquitetura sustentável, feita por pesquisadores e profissionais da área.
Pensando que a arquitetura é uma área do conhecimento que visa a organizar o espaço em que vivem as pessoas, a arquitetura sustentável pressupõe impactos ambientais mínimos, uso eficiente de recursos e o desenvolvimento das relações pessoais e interpessoais.
Isso significa que, para um empreendimento ser considerado sustentável, ele deve promover a melhora na qualidade de vida das pessoas, integrando-se ao entorno, aos aspectos culturais e ao clima local.
A arquitetura sustentável também é definida como uma forma de promoção da igualdade social, por meio da valorização de aspectos culturais, da eficiência econômica e do menor impacto ambiental e socioeconômico nas soluções adotadas.
Esse impacto pode ser dividido em dois tipos:
Ou seja, a arquitetura sustentável não é uma escola arquitetônica com elementos estéticos específicos, mas uma abordagem que deve estar presente em todas as etapas de um projeto, dos croquis à escolha dos materiais, da construção ao design do interior dos ambientes.
O planejamento e a execução do projeto devem aproveitar ao máximo as condições naturais do espaço, considerando o clima, a iluminação, a ventilação e a topografia para reduzir o desperdício energético.
E a preocupação com a sustentabilidade não termina com a entrega da obra. A manutenção e o uso da edificação pelas pessoas que passam por ela também devem respeitar preceitos socioambientais.
Para isso, a arquitetura sustentável tem como aliada o conceito de construção sustentável: um conjunto de estratégias de utilização do solo, projeto arquitetônico e construção que reduzem o impacto ambiental e o consumo de energia, visando à proteção de ecossistemas e à saúde das pessoas.
Green Building se refere a toda iniciativa de construção civil que usa recursos naturais de forma eficiente, promove conforto entre as pessoas, tem uma vida útil ampliada e é adaptável às mudanças de necessidades dos usuários.
O conceito também pressupõe a preocupação com a multidimensionalidade da sustentabilidade da fase projetual à utilização da edificação pelas pessoas, contemplando aspectos socioeconômicos, culturais, ambientais e políticos a partir de perspectivas de curto, médio e longo prazo.
O termo também se refere a um movimento de arquitetos, empresários e organizações não governamentais que se articulou em 1993, com a fundação do U.S. Green Building Council (USGBC). A entidade é responsável pela certificação de projetos LEED , sigla para “Leadership in Energy and Environmental Design”.
O certificado foi criado para incentivar e acelerar a adoção de práticas de construção sustentável, atestando os benefícios da arquitetura sustentável também de um ponto de vista mercadológico:
>>> Leia também: Investimentos ESG: como funcionam os ativos que estão em alta no mercado financeiro
O debate sobre a arquitetura sustentável anda lado a lado com as discussões sobre a preservação do meio ambiente e as mudanças climáticas em um âmbito global.
Alguns marcos importantes foram:
O relatório “Our Common Future”, em especial, tem uma seção totalmente dedicada ao urbanismo e arquitetura sustentáveis, detalhando questões como o crescimento das cidades nos países em desenvolvimento, o planejamento urbano e a qualidade de vida das comunidades.
Já o ODS 11 abarca a arquitetura sustentável ao colocar como meta “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” até 2030.
Isso não significa que não se falasse em usar de forma eficiente os recursos naturais e minimizar impactos dos projetos arquitetônicos antes das conferências da ONU. Paralelamente às discussões, o arquiteto e pesquisador Victor Olgyay definiu e publicizou o conceito de arquitetura bioclimática no livro “ Design with Climate ” (1963).
A arquitetura bioclimática se baseia no aproveitamento dos fatores climáticos para aumentar a eficiência energética de uma construção, diminuindo assim a dependência de fontes não renováveis de energia. Outro pilar da arquitetura bioclimática é a harmonia entre a edificação e o espaço que a circunda, respeitando as características da natureza local e as necessidades da comunidade.
No Brasil, entre 1930 e 1960, a escola modernista brasileira já defendia o uso inteligente do clima local para reduzir o consumo de energia elétrica em edificações residenciais e comerciais. Projetos de profissionais como Lúcio Costa recorriam a quebra-sóis, cobogós, claraboias e aberturas para ventilação para garantir o conforto térmico e aproveitar a iluminação natural, além de primar pela harmonização entre os espaços internos e a natureza no entorno.
Projeto de Lúcio Costa para o Parque Eduardo Guinle (1943), no Rio de Janeiro, e foto contemporânea de um dos prédios executados. Casa Lúcio Costa; Divulgação/RioTur
As definições que trouxemos até aqui podem ser difíceis de ser colocadas em prática, por parecerem bastante abstratas e subjetivas. Ter em mente os princípios da arquitetura sustentável vai te ajudar a elaborar projetos mais conscientes do ponto de vista socioambiental.
A lista abaixo é do SustentArqui , negócio social voltado à promoção da arquitetura sustentável:
Toda construção afeta o ecossistema de uma região, impactando o trânsito, a qualidade do ar, os corpos hídricos e a rotina da comunidade. A análise do entorno do terreno deve ser feita antes mesmo do desenvolvimento do projeto.
O que considerar:
Todo projeto que se diz sustentável deve considerar os espaços e infraestrutura que já existem no terreno, como o acesso a serviços de esgoto, água, eletricidade e transporte público.
Outro ponto importante é interferir o mínimo possível no ambiente, respeitando as características locais do solo, da vegetação, do microclima e do ciclo hidrológico.
O que considerar:
O planejamento em arquitetura sustentável envolve a integração de todas as disciplinas em todo o ciclo de vida da construção. Os profissionais técnicos devem estabelecer as metas de sustentabilidade do empreendimento em conjunto.
As principais disciplinas que devem ser integradas no projeto são:
Toda edificação deve ser adaptada ao local onde está inserida, promovendo o conforto do usuário e minimizando o uso de recursos ambientais. Uma estratégia para essa adaptação é o desenho arquitetônico bioclimático, que já descrevemos por aqui.
O que considerar:
Todo projeto de arquitetura sustentável deve prever o ciclo de vida da edificação, incluindo as diferentes formas de uso do espaço no decorrer do tempo. Os ambientes devem ser flexíveis e adaptáveis para que a construção possa ser adequada durante todo o período de ocupação.
O que considerar:
As normas técnicas e legislações devem ser respeitadas para garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores envolvidos no planejamento e na execução do projeto – o que estende às pessoas que vão usar a edificação após concluída.
Aqui não estamos falando apenas de leis ambientais, mas também da legislação trabalhista. Não há sustentabilidade se não houver responsabilidade social.
>>> Leia também: Práticas ESG de meio ambiente, responsabilidade social e governança
O projeto deve recorrer a estratégias de menor consumo de energia em todas as etapas, da execução da construção à operação, sem prejudicar o conforto do usuário. Para isso, é preciso recorrer a ferramentas de análise climática e simulações computacionais.
Também é importante monitorar o consumo para garantir uma boa gestão energética do empreendimento. E, sempre que possível, usar fontes de energia renováveis.
Formas de reduzir o consumo e evitar o desperdício de água devem estar previstas no projeto. Algumas estratégias comuns são o uso de água pluvial ou de reuso para fins não potáveis, como higienização de espaços, e o plantio de espécies que não precisam de irrigação no paisagismo.
A medição e o monitoramento do consumo de água para identificar possíveis vazamentos também são fundamentais.
O uso racional envolve a extração, o processamento, o transporte, a manutenção e o descarte de materiais ao longo de todo o processo de construção.
O que considerar:
Tecnologias como a Inteligência Artificial (IA), a Internet das Coisas, a energia fotovoltaica e a impressão 3D são grandes aliadas na criação de empreendimentos inteligentes e sustentáveis a preços mais acessíveis.
A arquitetura sustentável combate o uso de espécies exóticas e invasoras no paisagismo, que podem prejudicar o solo e necessitar de pesticidas. Deve-se dar preferência às espécies nativas e deixar os modismos de lado.
O que considerar:
Além do consumo de água e de energia, um projeto sustentável deve se preocupar com o bem-estar das pessoas, criando espaços acolhedores e confortáveis.
O que considerar:
A arquitetura sustentável deve abranger os três pilares da sustentabilidade, que são o ambiental, o social e o econômico.
Do ponto de vista financeiro, todo empreendimento deve incluir entre as estratégias de sustentabilidade estudos de payback e custos em todas as etapas do projeto – em especial as de manutenção e operação, em que a maior concentração de consumo de recursos.
O que considerar:
A análise do ciclo de vida da edificação ajuda a entender o impacto ambiental que ela vai gerar no curto, médio e longo prazo. Esse estudo deve contemplar todas as etapas, da extração das matérias-primas à demolição.
O que considerar:
Projetos de arquitetura sustentável contribuem para a conscientização da população sobre a importância de repensar questões que contribuem para as mudanças climáticas, como o consumismo, o uso de combustíveis fósseis e o desmatamento.
A edificação se torna um exemplo dos benefícios que a preservação do meio ambiente e a economia verde trazem para a sociedade como um todo. Durante a operação, as pessoas devem ser orientadas a fazer um uso consciente do empreendimento, como evitar o desperdício de água e a geração de lixo.
Por okleina
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