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Negócios e Gestão

Conheça a Teoria da Mudança, ferramenta para avaliar impacto social

Por Olívia Baldissera   | 

A Teoria da Mudança é um modelo de planejamento usado por empreendedores sociais e organizações para descrever o impacto desejado causado por uma intervenção ou programa em uma determinada comunidade.

Se você se interessa por negócios sociais e sonha em realizar um projeto de impacto na sua empresa, esse é um dos métodos mais indicados. Ele facilita a visualização de ações práticas que, no longo prazo, vão melhorar a vida das pessoas.

Conheça o conceito e os estágios da Teoria da Mudança a seguir:

O que diz a Teoria da Mudança 
Quem criou a Teoria da Mudança 
Vantagens e desvantagens de aplicar a Teoria da Mudança 
Quando aplicar o método da Teoria da Mudança 
Os 6 estágios da Teoria da Mudança

  1. Insumos (Inputs)
  2. Atividades (Activities)
  3. Produtos (Outputs)
  4. Resultados Intermediários (Intermediate Outcomes)
  5. Resultados Finais (Outcomes)
  6. Impacto (Impact)

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O que diz a Teoria da Mudança

A Teoria da Mudança é uma abordagem de planejamento que reúne atributos de avaliação, mensuração e acompanhamento do impacto de um programa. Ela trabalha com uma perspectiva de resultados a longo prazo, analisada a partir da sequência de resultados intermediários.

A aplicação da Teoria da Mudança começa com a descrição do que se espera alcançar, etapa que vai nortear o mapeamento do que deve ser feito no curto e médio prazo para chegar a esse objetivo. Para isso, é feita uma representação gráfica causal de como e por que uma mudança deve acontecer em um dado contexto.

Modelo de Teoria da Mudança adaptado do Planet B Insights.
Modelo de Teoria da Mudança adaptado do Planet B Insights

Assim fica mais fácil para todos os envolvidos visualizarem que os resultados de longo prazo só serão alcançados caso os de médio e curto prazo sejam atingidos. Representantes de todos os stakeholders devem fazer parte do processo, o que inclui diretores, colaboradores, parceiros e beneficiários do programa.

É importante lembrar que os indicadores de sucesso estabelecidos para os resultados de curto, médio e longo prazo devem ser mensuráveis. Também devem ser definidas ações específicas para alcançar cada um dos objetivos.

Os três tipos de organização que mais usam a Teoria da Mudança são:

  • Organizações da sociedade civil, como institutos, fundações e agências de cooperação;
  • Agências governamentais das áreas da saúde, assistência social e desenvolvimento agrário;
  • Negócios de impacto social. 

>>> Leia também: Seriam as DAOs o futuro do trabalho?

Quem criou a Teoria da Mudança

Não dá para mencionar apenas um nome como criador. A Teoria da Mudança é uma construção coletiva que se iniciou na década de 1950 e ganhou força na organização internacional sem fins lucrativos Aspen Institute.

Foi nesse espaço de debate que surgiu o Roundtable on Community Change, em 1990, cujas conclusões foram publicadas no livro “New Approaches to Evaluating Comprehensive Community Initiatives” (1995).

Dentre os pesquisadores que contribuíram para a definição do conceito estão Huey Chen, Peter Rossi, Michael Quinn Patton e Carol Weiss. Esta foi a grande responsável pela popularização do nome “Teoria da Mudança”, além de colocar como um dos objetivos a resposta a três perguntas fundamentais:

  1. Por que é tão difícil compreender os pressupostos que dão base às mudanças sociais?
  2. Por que as fases que antecedem os resultados finais e que mostram como uma política ou programa se desdobra nas comunidades são tão pouco evidentes e explicitadas?
  3. Por que os stakeholders tipicamente desconhecem o caminho e os desdobramentos dos programas com os quais se relacionam?

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Vantagens e desvantagens de aplicar a Teoria da Mudança

As vantagens da Teoria da Mudança são:

  • Ter uma hipótese clara e testável que permite uma previsão mais assertiva dos resultados;
  • Ter uma representação visual didática para ser compartilhada com todos os stakeholders;
  • Ter uma ferramenta de comunicação que expresse de forma inteligível a complexidade da iniciativa.

Já como desvantagem podemos citar possíveis falhas que podem surgir na cadeia resultados, ao estabelecer metas de longo prazo que não podem ser alcançadas pelas de médio e curto. Por isso o indicado é combinar a Teoria da Mudança com outras metodologias de gestão.

 

Quando aplicar o método da Teoria da Mudança

A Teoria da Mudança é indicada para todo empreendedor ou grande organização que deseja ter uma compreensão clara e sistematizada dos resultados que deseja alcançar no longo prazo. O método também permite visualizar a forma e os passos necessários para alcançar os objetivos.

Algumas situações específicas em que a Teoria da Mudança pode ser aplicada são:

  • Desenvolvimento de projetos e programas, ao facilitar a definição de objetivos, estratégias de implementação e metas. Também contribui para o direcionamento de recursos e para a mensuração consistente dos resultados;
  • Avaliação de impacto, ao facilitar a visualização de como as como as atividades implementadas contribuíram para os resultados intermediários e finais;
  • Comunicação de resultados de forma clara e acessível para as partes interessadas e o público em geral, o que facilita a prestação de contas para os stakeholders;
  • Desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade a longo prazo.

>>> Leia também: 3 métodos para implementar a gestão de mudanças

Os 6 estágios da Teoria da Mudança

O Center for Theory of Change, organização sem fins lucrativos que promove padrões e boas práticas na implementação da Teoria da Mudança, estabeleceu 6 estágios para aplicar o método e alcançar o objetivo de longo prazo desejado.

Conheça cada um deles abaixo:

1. Insumos (Inputs)

O estágio 1 envolve o levantamento de todos os recursos necessários para implementar um programa, como valores financeiros, equipamentos, espaço físico, pessoal e conhecimento técnico. Sem eles, há grandes riscos de os objetivos intermediários e de longo prazo não serem alcançados.

Os insumos podem ser obtidos de diversas fontes, como financiadores, doações, voluntários, parcerias e apoio do governo. A disponibilidade e a qualidade também podem variar de acordo com o contexto e a capacidade dos parceiros do programa.

No caso de negócios sociais, os insumos podem vir de investidores ou de subsídio cruzado, termo se refere à elevação dos preços cobrados para um determinado grupo de consumidores. A ideia é obter receitas adicionais que compensem as perdas decorrentes da prestação do mesmo serviço a uma classe de clientes que paga preços inferiores ao custo de produção.

Vamos usar como exemplo nesse e nos demais estágios da Teoria da Mudança um programa social que pretende reduzir a evasão escolar de adolescentes em uma determinada comunidade. Os insumos necessários para começar a intervenção seriam:

  • Recursos financeiros para pagar por profissionais que atuariam no contraturno e por materiais pedagógicos;
  • Pessoal capacitado, como coordenadores do programa, assistentes sociais, professores e voluntários;
  • Materiais educativos, como livros, cadernos e lápis;
  • Espaço físico para a realização de atividades, como salas de aula ou locais para encontros com os jovens e suas famílias;
  • Tecnologia, como notebooks, smartphones e softwares para uso educacional;
  • Conhecimento técnico para desenvolver e implementar estratégias eficazes de engajamento com estudantes e responsáveis.

2. Atividades (Activities)

As ações concretas realizadas para implementar a intervenção ou programa. As atividades são planejadas com base nos resultados esperados e nos recursos disponíveis.

Alguns exemplos são:

  • Realizar treinamentos para equipe de voluntários, corpo técnico e beneficiários da intervenção;
  • Conduzir pesquisas de campo para coletar dados relevantes;
  • Desenvolver campanhas de sensibilização ou mobilização social;
  • Distribuir materiais educativos;
  • Realizar reuniões e grupos de discussão;
  • Fornecer serviços específicos, como aulas de reforço ou aconselhamento psicológico;
  • Implementar estratégias de comunicação em plataformas como WhatsApp ou redes sociais;
  • Realizar visitas domiciliares ou atividades em comunidades;
  • Organizar eventos, como feiras, palestras ou hackathons.

As atividades devem ser planejadas de forma a alcançar o maior número possível de pessoas, maximizando o impacto do programa. Ao implementá-las, é importante monitorar e avaliar o progresso para, quando for preciso, ajustar as estratégias e garantir os resultados esperados.

3. Produtos (Outputs)

São os resultados imediatos ou tangíveis das atividades implementadas no estágio anterior. Eles são medidos com indicadores quantitativos, como:

  • Número de pessoas atendidas;
  • Número de materiais distribuídos;
  • Número de serviços prestados;
  • Número de eventos realizados;
  • Número de visitas realizadas;
  • Número de participantes em treinamentos;
  • Quantidade de produtos manufaturados.

O terceiro estágio da Teoria da Mudança ajuda a avaliar o progresso do programa no curto prazo, ao fornecer evidências sobre o alcance e eficácia das atividades implementadas.

No entanto, os produtos por si só não são sinônimo de que o programa alcançou os objetivos de longo prazo. Lembre-se de que eles são apenas uma medida dos efeitos imediatos das atividades.

Voltemos ao nosso exemplo do programa de redução de evasão escolar. Um dos produtos que pode ser mensurado é o número de estudantes atendidos, a frequência às aulas de reforço ou a participação dos pais nas reuniões.

4. Resultados Intermediários (Intermediate Outcomes)

São as mudanças que têm relação direta com os produtos do estágio 3. Elas geralmente acontecem no médio prazo, sendo medidas por indicadores qualitativos e quantitativos.

Os resultados intermediários mostram se as atividades realizadas estão contribuindo para alcançar os objetivos estabelecidos. São cruciais para avaliar se o programa está no caminho certo para alcançar os objetivos definidos no estágio 5.

Em nosso exemplo sobre o programa de combate à evasão escolar, os resultados intermediários podem incluir mudanças no:

  • Comportamento: aumento na frequência das aulas regulares, maior foco no conteúdo exposto pelos professores ou a adoção do hábito de leitura;
  • Conhecimento: aumento na compreensão sobre o funcionamento do pensamento científico ou melhora na expressão oral e escrita;
  • Atitude: melhora da autoestima e da autoconfiança ou sonhar em cursar o Ensino Superior.

A performance do estágio 4 é mensurada por meio de pesquisas de opinião ou entrevistas. Os dados obtidos ajudam a identificar o que precisa ser ajustado no decorrer da implementação do programa. Outra função é comunicar o progresso da intervenção a todos os stakeholders.

5. Resultados Finais (Outcomes)

São os impactos de longo prazo que o programa pretende alcançar. Envolvem as mudanças mais significativas e amplas que podem acontecer na vida dos beneficiários, levando anos para se manifestar.

Os resultados finais são mensurados por meio de indicadores quantitativos. Em nosso exemplo, a diminuição na taxa de evasão escolar e o aumento no número de concluintes do Ensino Médio na comunidade atendida já seriam um excelente outcome.

Mas há outros números relacionados ao desempenho dos estudantes que poderiam ser acompanhados, como o aumento nas médias do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

6. Impacto (Impact)

O efeito mais amplo e duradouro que o programa tem na sociedade ou no ambiente em que está inserido. O impacto pode ser positivo ou negativo, intencional ou não intencional.

É uma consequência cumulativa de todas as atividades, produtos e resultados intermediários alcançados pelo programa. Assim como no estágio anterior, pode levar anos para se manifestar. Por isso, a avaliação frequentemente é realizada décadas após a conclusão do programa.

A mensuração do impacto é um processo complexo e envolve a identificação de um grupo de comparação, que não recebeu a intervenção, para avaliar os efeitos atribuíveis ao programa. Além disso, a avaliação pode ser influenciada por fatores externos que afetam a população atendida, tornando difícil atribuir completamente a mudança à intervenção.

A pandemia, por exemplo, foi um fato externo que levou a maiores taxas de evasão escolar no Brasil entre 2020 e 2021. Em nosso programa, ela prejudicaria a atividade de aumentar a frequência dos estudantes às aulas regulares. 

Pode parecer que os estágios 5 e 6 da Teoria da Mudança tratam da mesma coisa, por isso vamos mais uma vez recorrer ao nosso exemplo do programa de combate à evasão escolar para entender a diferença.

Nesse cenário, o resultado final seria os adolescentes da comunidade beneficiada terminarem o Ensino Médio. Já o impacto seria a melhoria da empregabilidade dos jovens na fase adulta, ao se sentirem estimulados a continuar a estudar e a fazer uma faculdade.


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Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo da Pós PUCPR Digital.

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