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Ao considerarmos os fatores que influenciam a saúde mental, é comum que o foco recaia sobre aspectos biológicos, como predisposição genética, desregulação hormonal e alterações em áreas cerebrais associadas ao comportamento e às emoções. Além disso, hábitos de vida, como a prática regular de atividades físicas, alimentação equilibrada e qualidade do sono, também são frequentemente citados.
No entanto, outros fatores devem ser levados em conta. Fatores psicossociais merecem igual atenção, incluindo a história de vida individual e aspectos sociais como experiências de trauma ou negligência, desigualdade social, gênero e etc.
Reconhecer a interação entre componentes biológicos, comportamentais e sociais é essencial para uma compreensão mais ampla e integrada da saúde mental.
Essa perspectiva sobre a saúde é denominada pelos pesquisadores da área como modelo biopsicossocial, o qual entende a saúde e a doença como o resultado da interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Para compreender um fenômeno complexo como a saúde mental, é necessário adotar um modelo igualmente complexo de interpretação. O conceito de saúde mental é amplo, o que torna sua definição desafiadora, assim como a identificação dos fatores que a influenciam.
Ainda hoje, muitos profissionais da saúde utilizam o modelo biomédico tradicional para diagnosticar e tratar seus pacientes. Esse modelo foca exclusivamente nos aspectos físicos do adoecimento. No entanto, pesquisas na área indicam que ele se tornou ultrapassado, uma vez que surgiu uma nova abordagem: a perspectiva biopsicossocial, que amplia a compreensão do processo de adoecimento ao considerar os aspectos subjetivos e contextuais da vida do indivíduo.
O modelo biopsicossocial ressalta que a saúde e a doença são resultados da interação de três fatores primordiais: biológicos (genética e funcionamento do corpo), psicológicos ou comportamentais (como emoções, pensamentos e mecanismos de enfrentamento) e sociais (como relações familiares, condições de trabalho, condições de vida e cultura).
Assim, o modelo biopsicossocial propõe um olhar mais abrangente sobre a saúde e adoecimento mental, considerando a qualidade de vida, as relações interpessoais e, igualmente importante, o contexto socioeconômico. Este contexto, por sua vez, exerce importante influência sobre a saúde mental dos indivíduos. Diante disso, é fundamental discutir os determinantes sociais da saúde mental.
“Determinantes sociais da saúde” é um conceito da área de saúde pública que se refere a um conjunto de acontecimentos, fatos, situações e comportamentos relacionados à vida econômica, social, ambiental, política, governamental, cultural e subjetiva. Esses fatores afetam, de maneira positiva ou negativa, a saúde de indivíduos.
Esses elementos sociais, além de influenciar a saúde física das pessoas, têm um impacto direto na saúde mental da população, fazendo com que o adoecimento mental deixe de ser um problema exclusivamente individual.
Esses fatores têm ganhado crescente destaque e podem se manifestar de diversas formas ao longo do tempo, à medida que a população evolui ou enfrenta novos desafios.
Dentre os fatores sociais e econômicos que influenciam a saúde mental, destacam-se os seguintes determinantes:
A estabilidade e a satisfação no trabalho estão ligadas a melhores níveis de saúde e bem-estar. Já o desemprego e a insegurança laboral aumentam o risco de doenças, baixa autoestima e sentimentos de humilhação e desespero, especialmente quando há falta de suporte social e dificuldades no acesso a necessidades básicas, como a alimentação.
Tal situação associa-se a elevadas taxas de ansiedade e depressão, bem como aumenta o risco de suicídio
Estudos mostram que níveis mais altos de educação estão associados a menor incidência de transtornos mentais, já que a educação facilita o acesso a empregos melhores, melhores condições de vida e, consequentemente, maior inclusão social.
Por outro lado, um nível educacional baixo pode ser um fator de risco para condições adversas na infância ou para outros fatores como desemprego, pobreza e exclusão social.
A pobreza reflete a falta de recursos sociais, econômicos e educacionais, manifestando-se em baixos níveis socioeconômicos, privação, más condições de moradia, desemprego, baixa escolaridade e vínculos familiares frágeis, fatores que aumentam o risco de transtornos mentais.
A relação entre pobreza e doença mental é complexa, o baixo nível socioeconômico expõe o indivíduo a mais adversidades, como estresse, cuidados inadequados e escassez de apoio social, o que eleva a vulnerabilidade à doença mental.
Além disso, a pobreza aumenta a exposição ao estigma e dificulta o acesso aos serviços de saúde, especialmente para os grupos mais vulneráveis, impactando negativamente a saúde mental e física.
Uma habitação digna oferece proteção física e psicológica, refletindo o nível de segurança social, econômica e emocional da pessoa.
A qualidade da moradia está fortemente ligada ao nível econômico e, em alguns estudos, é um indicador ainda mais preciso da pobreza.
Pessoas em situação de rua enfrentam maior risco de doenças físicas e mentais, além de uma mortalidade mais elevada.
Viver em grandes cidades tem sido associado a um maior risco de transtornos mentais, devido a fatores como enfraquecimento dos laços familiares, superpopulação, dificuldade de acesso a bens essenciais, estilos de vida menos saudáveis (com menor prática de exercício físico, obesidade, ambiente poluído), altos níveis de estresse diário (meios de transporte lotados, condições de habitação precárias, níveis elevados de violência) e menor apoio social.
Por outro lado, o isolamento em áreas rurais também pode favorecer o adoecimento mental como a depressão. Devido à falta de transporte, educação, oportunidades econômicas e à dificuldade de acesso a cuidados de saúde mental, essas populações ficam ainda mais vulneráveis.
As mulheres têm o dobro do risco de desenvolver depressão e transtornos de ansiedade em relação aos homens. O gênero afeta diversos determinantes da saúde mental, como posição socioeconômica, acesso a recursos e papéis sociais.
A sobrecarga de responsabilidades familiares, profissionais e sociais e a prevalência de violência doméstica (afetando entre 16% e 50% das mulheres) e violência sexual (uma em cada cinco mulheres) também são fatores que contribuem para o aumento de casos de depressão e ansiedade.
Adversidades precoces, como problemas durante a gravidez, podem afetar o desenvolvimento fetal e causar alterações neurobiológicas. Transtornos mentais maternos — como depressão, estresse ou uso de álcool e drogas — impactam negativamente a saúde dos filhos, aumentando o risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer, desnutrição e problemas de desenvolvimento infantil. Esses fatores geram um ciclo vicioso de maior vulnerabilidade a doenças mentais.
Da mesma forma, transtornos mentais nos pais, como abuso de álcool, elevam o risco de violência e perpetuam esse ciclo. A formação de vínculos afetivos estáveis com os pais ou cuidadores desde cedo é essencial para o desenvolvimento psicológico, intelectual e emocional saudável.
As interações e experiências na infância têm impacto decisivo na saúde mental, influenciando a vulnerabilidade a transtornos ao longo da vida.
Desemprego, racismo, discriminação e estigmatização podem causar exclusão social, aumentando o risco de transtornos mentais e morte precoce. Essas condições comprometem o acesso a bens essenciais, moradia e educação, além de enfraquecer os laços familiares e gerar sentimentos de desesperança e incapacidade, criando um ciclo de pobreza e isolamento.
Pessoas com deficiência, sem-abrigo, minorias étnicas, imigrantes e indivíduos institucionalizados estão particularmente vulneráveis a transtornos mentais.
Milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam situações traumáticas, como abuso infantil, violência doméstica, conflitos, doenças crônicas e desastres naturais.
Esses eventos têm um impacto negativo na saúde mental, aumentando o risco de depressão, ansiedade, estresse pós-traumático e suicídio. Durante a pandemia de COVID-19, as demandas por cuidados de saúde mental aumentaram significativamente. Estima-se que cerca de 25% da população mundial tenha enfrentado transtornos mentais relacionados ao impacto da pandemia.
A saúde mental não pode ser dissociada das condições sociais em que os indivíduos vivem. Portanto, os problemas de saúde mental não são questões isoladas, mas sim reflexos de desigualdades estruturais e contextos adversos.
Assim, entende-se que os problemas de saúde mental sofrem influência da coletividade, e é fundamental exigir o desenvolvimento e a manutenção de políticas públicas que proporcionem à população maior acesso a redes de apoio, melhores condições de vida, segurança alimentar e suporte comunitário, com o objetivo de reduzir as taxas de transtornos mentais e promover o bem-estar coletivo.
💡Quer saber mais sobre determinantes de saúde mental? Confira as fontes consultadas para a elaboração deste artigo:
Por Redação
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