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A crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho trouxe à tona uma questão ainda pouco discutida: se homens e mulheres adultos e produtivos estão ocupados com atividades remuneradas fora de casa, quem se responsabiliza pelas tarefas de cuidado?
Para muitos, a resposta parece óbvia: as mulheres. São elas que, além de suas obrigações profissionais, acumulam uma infinidade de responsabilidades: lavar a louça, levar os filhos à escola, agendar consultas, preparar refeições, cuidar da roupa, dar conta dos prazos no trabalho… A lista é infinita e pouco valorizada.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, as mulheres dedicaram, em média, 9,6 horas a mais por semana do que os homens a tarefas domésticas e cuidados com outras pessoas. Enquanto elas investiram 21,3 horas semanais nessas atividades, eles contribuíram com apenas 11,7 horas. Ao longo de um ano, isso representa 1.118 horas — o equivalente a 47 dias inteiros — de trabalho não remunerado para as mulheres, contra 572 horas, ou 23 dias, no caso dos homens.
Essa realidade acaba resultando em uma sobrecarga mental significativa para as mulheres. Como as responsabilidades domésticas e familiares ainda recaem, em grande parte, sobre elas, muitas enfrentam uma carga adicional de trabalho conhecida como “tripla jornada”, um fenômeno amplamente discutido na literatura científica brasileira recente.
A tripla jornada refere-se à soma do trabalho remunerado com as tarefas do lar e os cuidados com a família. Esse acúmulo de funções pode gerar impactos significativos na saúde mental das mulheres, como altos níveis de estresse, esgotamento emocional e dificuldades para conciliar a vida profissional com a pessoal, entre outras consequências.
Sensação de exaustão, irritabilidade excessiva, falta de energia para tomar decisões, dificuldades de concentração, sensação de esgotamento e falta de paciência para lidar com as questões emocionais dos outros podem ser sinais de sobrecarga mental.
O cérebro funciona de maneira semelhante a um computador, processando diversas informações simultaneamente, mas possui um limite. Quando essa carga se torna excessiva, o sistema começa a apresentar falhas. Isso se manifesta por meio de lapsos de memória, dificuldade de planejamento e redução na capacidade de tomar decisões.
Criadas sob a ideia de que são “naturalmente” cuidadoras, muitas mulheres acumulam até oito jornadas de trabalho. Entre elas:
Todas exigem tempo, esforço emocional e investimento financeiro — reforçando uma sobrecarga invisível, mas constante. O acúmulo dessas tarefas invisíveis gera uma sobrecarga no sistema nervoso. A carga mental não vem apenas das ações realizadas, mas do esforço constante de planejar e coordenar múltiplas responsabilidades simultaneamente.
Para que consigam lidar com a realidade da multitarefa, muitas mulheres enfrentam uma rotina diária acelerada, marcada por um corre-corre constante para dar conta de todas as suas responsabilidades.
Pesquisas indicam que, para a maioria, estabelecer limites claros entre os diferentes tempos e espaços de trabalho é um grande desafio. Conciliar essas múltiplas demandas se torna uma fonte contínua de estresse, ansiedade e pressão.
O trabalho da mulher esteve presente em todas as épocas e lugares. Na verdade, elas sempre trabalharam, embora elas nem sempre exercessem “profissões”. A mulher da classe média era idealizada como a "senhora do lar" — aquela cuja função e dever consistiam em cuidar do marido, dos filhos, dos parentes e manter a casa em perfeita ordem.
O cuidado com a casa, a família e a maternidade contribuíram para reforçar o confinamento da mulher ao espaço doméstico. Essa realidade estava profundamente ligada à condição econômica feminina, já que a mulher era dependente do marido em praticamente todas as esferas. No entanto, com o estabelecimento da revolução industrial, as mulheres começaram a se inserir no mercado de trabalho e esse modelo familiar começou a ruir.
Apesar dos avanços que impulsionaram a entrada das mulheres no mercado de trabalho, nas décadas de 1950 e 1960 a mídia ainda divulgava estudos que associavam a ausência materna a prejuízos para os filhos, retratando as mulheres que trabalhavam, como vilãs que os abandonavam para seu próprio prazer.
Com isso, até os dias atuais, a preocupação com a família, especialmente com o bem-estar dos filhos, ocupa grande parte das inquietações femininas. Para atender a essas expectativas, muitas mulheres acabam assumindo rotinas altamente estressantes, comprometendo sua própria qualidade de vida.
Tal cenário é fortemente influenciado pela cultura machista enraizada na sociedade patriarcal em que estamos que, por meio de expectativas culturais e sociais, ainda atribui às mulheres a responsabilidade quase exclusiva pelos cuidados com a casa, os filhos e, muitas vezes, o marido. A persistência da tripla jornada está, em grande parte, ligada à manutenção dos estereótipos de gênero.
Diversos estudos têm confirmado que muitas mulheres vivenciam diariamente esta expectativa social de dar conta de todo o trabalho doméstico mesmo quando têm empregos formais. Essa sobrecarga frequentemente resulta em uma rotina insustentável, prejudicando sua saúde, carreira e dificultando o avanço da igualdade de gênero no mercado de trabalho.
Os efeitos dessa sobrecarga vão além do simples cansaço mental. O estresse contínuo interfere na produção de hormônios como dopamina e serotonina, responsáveis pela regulação do humor. Essa sobrecarga mental também pode levar a quadros de ansiedade, depressão e até prejudicar a comunicação e a empatia.
O desequilíbrio nessas responsabilidades pode desencadear diversos problemas físicos e psicológicos, como estresse, depressão, transtornos de humor, hipertensão e sensação de incompetência, cansaço e de desgaste.
Segundo o relatório Esgotadas, da ONG Think Olga, 45% das brasileiras já foram diagnosticadas com ansiedade, depressão ou relataram sintomas de estresse e exaustão. Complementando esse cenário, um estudo da FIA Employee Experience mostrou que as mulheres têm 73% mais chances de desenvolver Burnout.
Além disso, a sobrecarga também pode afetar o comportamento das mulheres no trabalho e nas relações familiares. No trabalho podem apresentar absenteísmo, insatisfação, queda no desempenho e comprometimento. No âmbito familiar, os impactos incluem a redução da satisfação e a falta de tempo para convivência e interação com os entes queridos.
Outra realidade muito comum entre as mulheres sobrecarregadas, é a sensação de culpa constante. Esse sentimento de culpa nas mulheres está diretamente ligado aos modelos familiares ainda baseados em estruturas patriarcais, que esperam delas o cumprimento de múltiplos papéis sociais sem que deixem de exercer nenhum.
Confira uma lista de estratégias de manejo de sobrecarga mental. Elas não substituem o apoio de um profissional de saúde.
Você tem conseguido descansar adequadamente? É essencial reservar tempo na agenda para o descanso, além da noite de sono. Não coloque tarefas nesses horários. As demandas nunca irão acabar, por isso é importante planejar e garantir momentos para descansar, sem reduzir o descanso apenas ao sono.
O primeiro passo é estabelecer limites claros e aprender a dizer "não" a demandas excessivas. Antes de aceitar uma nova tarefa, pergunte-se o que será deixado de lado para acomodá-la na rotina. É essencial reconhecer seus limites e evitar assumir compromissos apenas para agradar os outros.
Entender e comunicar seus limites à família é fundamental. Além disso, é crucial dividir entre os cônjuges as responsabilidades com a casa, filhos e idosos, e não delegá-las apenas às mulheres.
É importante conversar de forma pacífica, sem acusações, as regras devem ser mudadas e lembrar que, se tem alguém fazendo a mais, é porque tem alguém fazendo a menos.
Começou a ficar com a cabeça cheia? Escreva.
Ficar tentando organizar os pensamentos e lembrar de tudo mentalmente consome muita energia. Elaborar uma lista das responsabilidades diárias facilita a visualização das tarefas e a definição de prioridades.
Agrupar as atividades em categorias, como trabalho, família e saúde, ajuda a identificar as que exigem mais atenção e as que podem ser delegadas.
💡Quer saber mais sobre sobrecarga mental? Confira as fontes consultadas para a elaboração deste artigo:
Por Redação
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