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Arquitetura e Sustentabilidade

Um mundo sustentável e sem desperdícios: o objetivo da economia circular

Por Olívia Baldissera   | 

O objetivo da economia circular é evitar (e até extinguir) a produção de resíduos em todas as atividades econômicas, contribuindo assim para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Esse propósito vale para todos os setores, inclusive o da construção civil. Todos os dias, são geradas 290,5 toneladas de entulho no Brasil, de acordo com dados de 2019 da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon). Desse total, apenas 21% são reciclados.

O primeiro passo para reduzir esse número é conhecer os princípios da economia circular e aplicá-los em projetos arquitetônicos e de infraestrutura. É o que veremos adiante:

O que é economia circular 
Os 3 pilares da economia circular 
Diferença entre economia circular e economia linear 
Exemplos de economia circular na arquitetura e urbanismo 

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O que é economia circular

A economia circular é um modelo econômico que propõe uma mudança completa na lógica do funcionamento atual da economia, baseada na extração de recursos naturais e no descarte de resíduos.

Para isso, o modelo adota uma nova forma de pensar os processos de produção e consumo, com base na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais. Esses R’s representam o princípio norteador de toda atividade econômica que se pretende circular: os resíduos são eliminados de todas as etapas de produção e de modelos de negócio, o que implica que os materiais utilizados continuem em uso, circulando na economia.

Além disso, os processos produtivos devem abandonar os combustíveis fósseis e usar fontes de energia renováveis, sem perder o foco na preservação ambiental e na qualidade de vida das pessoas.

Em suma, a economia circular está alinhada aos pilares da sustentabilidade e à definição mais amplamente aceita do termo: “o suprimento das necessidades do presente sem o comprometimento da capacidade das gerações futuras de satisfazerem as próprias necessidades.”.

Podemos resumir os fundamentos da economia circular em 3 pilares:

  1. Eliminar resíduos e poluição;
  2. Circular produtos e materiais com seus valores mais elevados;
  3. Regenerar a natureza.

Para ajudar a entender esse conceito, a Fundação Ellen Macarthur desenvolveu um diagrama, que ilustra a circulação dos materiais em dois ciclos principais: 

Diagrama borboleta que representa os ciclos da economia circular. Divulgação/ Ellen MacArthur FoundationDiagrama borboleta que representa os ciclos da economia circular. Divulgação/ Ellen MacArthur Foundation

O primeiro, chamado de “ciclo técnico”, mostra os produtos e matérias-primas circulando por meio de processos baseados nos R’s da sustentabilidade. O segundo, o “ciclo biológico”, representa os nutrientes gerados por materiais biodegradáveis retornando à Terra para regenerar a natureza.

Os 3 pilares da economia circular

Aprofundando a conceituação, vamos detalhar os pilares da economia circular:

1. Eliminar resíduos e poluição

Na perspectiva da economia circular, os resíduos e a poluição (o que inclui lixo e as emissões de gases do efeito estufa) devem ser encarados como uma falha de projeto.

Ou seja, o desperdício e a descartabilidade são erros que precisam ser corrigidos logo na concepção de qualquer produto. Este deve prever que os materiais utilizados retornem para a economia ao final de sua vida útil, seja pelo ciclo técnico ou biológico.

Essa ideia parte do princípio de que, na natureza, não há desperdício. Essa é uma invenção humana que tem levado ao esgotamento da capacidade do planeta Terra se regenerar.

2. Circulação de produtos e materiais em seu valor mais elevado

Todo material usado nos processos produtivos deve se manter em uso, seja como produto ou como matéria-prima. O objetivo é manter o valor intrínseco dos materiais e não gerar resíduos.

O material se mantém em uso em dois ciclos, o técnico e o biológico, que já descrevemos acima. No primeiro, o produto pode ser reutilizado, reparado, remanufaturado ou reciclado. No segundo, a matéria-prima biodegradável que o compõe retorna à natureza, por meio da compostagem e da digestão anaeróbica.

3. Regenerar a natureza

O último pilar da economia circular depende diretamente do abandono da economia linear, passando do modelo de extração para regeneração.

O setor que deve ser o ponto de partida dessa transição é a indústria alimentícia, que atualmente contribui para as mudanças climáticas e à perda de biodiversidades.

A produção de alimentos deve ser feita de forma regenerativa, com foco na saúde do solo, no bem-estar animal e no abandono de pesticidas e insumos sintéticos.

>>> Leia também: Smart cities, a combinação de tecnologia e sustentabilidade no meio urbano

Diferença entre economia circular e economia linear

A economia circular difere da economia linear na visão sobre geração de resíduos.

Enquanto a economia linear segue o padrão extrair-produzir-descartar, a economia circular busca fechar o ciclo, mantendo materiais e produtos em uso. Isso mitiga a quantidade de resíduos gerada e ainda diminui a dependência de recursos naturais finitos.

Na economia linear, os recursos naturais são extraídos em grande escala para a produção de bens, que são consumidos e, depois, descartados. O impacto ao meio ambiente é imenso.

Já a economia circular adota uma abordagem mais sustentável, visando a minimizar o desperdício e maximizar a eficiência dos recursos. Ao manter os materiais em circulação, há o prolongamento da vida útil e evita-se o descarte prematuro.

>>> Leia também: Sustentabilidade, a sexta onda de inovação

Exemplos de economia circular na arquitetura e urbanismo

Conheça 3 exemplos de aplicação dos princípios da economia circular em projetos arquitetônicos e de urbanismo. Eles mostram que esse modelo econômico anda lado a lado da arquitetura e do urbanismo sustentáveis:

Projeto Ligue os Pontos, em São Paulo, capital

Criado em 2016 e colocado em prática em 2018, o projeto Ligue os Pontos promove a agricultura regenerativa nas zonas periurbanas de São Paulo. Por incrível que pareça, a capital paulista tem 28% do seu território localizado em zona rural, que engloba os distritos de Grajaú, Parelheiros e Marsilac.

Para incentivar a economia local, o projeto apoia e compra produtos de agricultores da região e os repassa para pessoas em situação de vulnerabilidade. A aquisição dos alimentos é feita por um valor 30% acima da média de mercado como forma de incentivo à transição a práticas regenerativas, além de promover a inclusão social.

Agricultoras e agricultores que participam do projeto também contam com assistência técnica, treinamento e equipamentos disponibilizados pelas Casas de Agricultura Ecológica municipais e pelo programa Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). 

 

Prédio da prefeitura de Brummen, nos Países Baixos

A prefeitura de Brummen precisava de uma nova sede, mas, devido a mudanças nos limites dos distritos, a edificação poderia perder a sua função em um futuro próximo. Foi aberta uma licitação para um projeto que previsse uma vida útil de 20 anos para o prédio.

A solução encontrada pelo arquiteto Thomas Rau foi uma edificação cuja estrutura se assemelha a do Lego, em que 90% dos materiais poderiam ser desmontados e reutilizados após duas décadas.

O prédio foi inaugurado em 2013, recebendo uma espécie de “passaporte de materiais”, um registro sobre os materiais usados na obra que indica como usá-los após 20 anos.

Veja fotos do projeto no site do escritório de arquitetura RAU.

Prédio da prefeitura de Venlo, nos Países Baixos

Em 2007, outra prefeitura de uma cidade dos Países Baixos, Venlo, tinha o desafio de fazer uma nova sede que integrasse os diferentes departamentos da cidade, considerasse a saúde das pessoas que circulavam e trabalhavam na região e reduzisse custos no longo prazo – ou seja, na manutenção e operação da edificação.

A sede esteve em construção entre 2012 e 2016. Hoje, é um exemplo de arquitetura que segue os princípios da economia circular. 

Além da fachada verde, o prédio utiliza estratégias de aproveitamento de recursos, como a coleta de água da chuva e a instalação de painéis solares para geração de energia. A construção tem um passaporte de materiais, assim como a prefeitura de Brummen. 


O conteúdo que você acaba de ler foi produzido com base nas informações da Fundação Ellen Macarthur, entidade que trabalha lado a lado de empresas, governos e universidades para acelerar a transição do modelo econômico atual para a economia circular.

Você pode conferir os artigos e vídeos usados como fonte no Instagram e no site oficial da fundação.

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Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora, é apaixonada por pesquisa, planejamento e conteúdo. Contribui para o blog da Pós PUCPR Digital desde 2021.

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