Relacionamentos parassociais na era digital: a Inteligência Artificial (IA) como fonte de afeto

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit

Tassiane Valin • 11 de setembro de 2025

Acompanhe

    [BLOG] Dynamic Author

    Os relacionamentos parassociais, historicamente vinculados às interações unilaterais entre público e celebridades, assumem novas configurações na era digital. Com a expansão da inteligência artificial (IA), especialmente de assistentes virtuais e chatbots, observa-se a emergência de vínculos marcados por proximidade emocional e sensação de reciprocidade.

    Diferente do modelo tradicional, a IA não apenas representa, mas simula respostas afetivas, criando experiências de interação que podem ser percebidas como relações significativas.

    Esse cenário desafia concepções de sociabilidade, ao posicionar a máquina como possível fonte de afeto e companhia. Assim, compreender essa dinâmica é essencial para refletir sobre os impactos psicológicos, sociais e éticos que decorrem da inserção da IA nas práticas relacionais cotidianas.

    Ad promoting a free chapter on the impact of AI and humans. Book and phone on display.

    O que é um relacionamento parassocial?

    A socialização constitui um aspecto fundamental da vida humana, pois é por meio das relações que aprendemos a conviver em sociedade, a interagir com outras pessoas e a desenvolver empatia.

    Nosso primeiro núcleo de socialização é a família, que fornece as bases para a formação dos vínculos iniciais. Com o ingresso na escola, o indivíduo passa a estabelecer contato com novas fontes de socialização, ampliando suas experiências relacionais. Os laços e afetos construídos ao longo desse processo são essenciais tanto para a sobrevivência quanto para a manutenção da saúde em comunidade.

    Nesse contexto, vínculo e apoio social são compreendidos como fatores de proteção à saúde mental, pois são fontes de amortecimento importantes para eventos críticos da vida, como, por exemplo, doenças, traumas e estresse. Sendo assim, indivíduos que dispõem de relações saudáveis apresentam maiores chances de preservar o bem-estar psicológico e físico.

    Pressupõe-se que, nas relações em que o vínculo esteja presente, ocorra troca mútua entre os indivíduos. Entretanto, nem sempre essa reciprocidade está presente, e algumas relações se caracterizam como unilaterais. Esse tipo de vínculo é conhecido como relacionamento parassocial.

    Relações parassociais podem ser entendidas como conexões socioemocionais assimétricas e não recíprocas com figuras midiáticas como celebridades, influenciadores ou personagens fictícios.

    Nesse tipo de relação, o indivíduo experimenta uma conexão pessoal com a figura da mídia, apesar de ter pouca ou nenhuma interação interpessoal com ela. Além disso, relacionamentos parassociais podem ter efeitos reais nas emoções humanas e na autopercepção.

    Por que o vínculo emocional com a IA seria um relacionamento parassocial

    O antropomorfismo (atribuição de qualidades, características ou comportamentos humanos a seres não humanos) é uma característica das IAs conversacionais que permite interações recíprocas semelhantes às humanas entre chatbots e usuários.

    Pesquisas recentes demonstraram que os usuários tendem a projetar atributos humanos em sistemas computacionais e a utilizar linguagem educada e socialmente codificada com esses sistemas, especialmente quando os consideram úteis ou produtivos.

    Como citado anteriormente, a característica central de uma relação parassocial é a ausência de reciprocidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que a relação de usuários com assistentes de inteligência artificial é intrinsecamente parassocial. Isto é, o usuário é capaz de formar uma conexão emocional com a IA, o que, por sua natureza, é unilateral, considerando que, até onde se sabe, inteligências artificiais não são capazes de formar conexões como humanos.

    O potencial de reciprocidade oferecido pelos chatbots é, em grande parte, uma ilusão, construída a partir da simulação de comportamentos conversacionais naturais. Ao empregar linguagem humana e convenções comunicativas, incluindo pronomes que sugerem subjetividade, os chatbots conseguem evocar comportamentos sociais típicos dos usuários.

    Esse efeito pode ser ainda mais pronunciado quando os chatbots possuem telepresença, seja por meio de avatares humanóides ou personagens físicos, características que levam os usuários a interpretar as interações sob a perspectiva das relações interpessoais.

    Exemplos de como essas características humanas intensificam esse vínculo podem ser vistos nos mais de 100 aplicativos (myanima.ai, Eva AI, Nomi.AI, Replika e etc.) que disponibilizam companheiros românticos e sexuais para os usuários. Esses aplicativos oferecem diversas opções de personalização, incluindo características físicas e traços de personalidade dos “parceiros” digitais. Na China, a prática de manter relacionamentos com IAs tem se tornado cada vez mais comum.

    Entre os jovens, especialmente após a pandemia, observa-se uma maior dificuldade em lidar com relacionamentos interpessoais, combinada com uma rotina marcada pela falta de tempo. A evitação da exposição social contribui para a diminuição das habilidades emocionais necessárias para lidar com diferenças, conflitos, rejeições e sentimentos de ansiedade que naturalmente surgem nos encontros presenciais.

    As consequências de desenvolver um relacionamento parassocial com a IA

    Embora os dados empíricos ainda estejam emergindo, relações parassociais com a IA podem oferecer riscos e benefícios para os usuários. Os chatbots apresentam potencial promissor para indivíduos que enfrentam dificuldades significativas em estabelecer relações satisfatórias, seja por questões de saúde, bloqueios sexuais, barreiras psicológicas ou limitações de mobilidade. Além disso, essas tecnologias podem apoiar pessoas socialmente isoladas, permitindo-lhes explorar sua sexualidade e atender as necessidades de interação romântica.

    Os sistemas de IA também podem atuar como ferramentas de socialização, auxiliando usuários a criar vínculos e a aprimorar habilidades de interação. Pesquisas indicam, por exemplo, que chatbots podem melhorar a comunicação emocional em relacionamentos à distância. Estudos recentes também exploram seu potencial para ajudar indivíduos a lidar com experiências de rejeição ou de serem ignorados em aplicativos de namoro, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias emocionais e sociais mais saudáveis.

    O problema tende a surgir quando a tecnologia começa a substituir grande parte das relações reais. Os algoritmos são projetados para oferecer conteúdos que agradam e satisfazem o usuário, mas relacionamentos genuínos envolvem frustrações, surpresas, contradições e crises, experiências essenciais para o autoconhecimento e para a construção de vínculos humanos.

    Esses chatbots são projetados para oferecer uma forma de companhia única, com disponibilidade constante e interações perfeitas, livres de conflitos e da necessidade de compromissos. Isso levanta preocupações sobre como tais experiências podem influenciar as expectativas dos usuários em relação a relacionamentos românticos e sexuais com outras pessoas.

    Esse convívio social é especialmente crucial durante a adolescência. Segundo especialistas, essa fase envolve autodescoberta, desenvolvimento da consciência crítica, formação da identidade e empatia. A ausência de interações reais nesse período pode gerar maior fragilidade emocional.

    Além disso, a interação com a inteligência artificial — mesmo as que utilizam avatares — geralmente é limitada à comunicação verbal, seja por fala ou escrita. Na vida real, a comunicação humana é enriquecida por gestos, olhares e linguagem corporal, conferindo múltiplas camadas e profundidade às relações interpessoais, algo que a IA ainda não consegue replicar completamente.

    Sem a vivência de comunicação e desafios típicos dos relacionamentos humanos, os usuários podem perder a oportunidade de cultivar vínculos genuínos, complexos e recíprocos. Relações interpessoais envolvem, muitas vezes, frustrações e conflitos que contribuem tanto para o crescimento pessoal quanto para o aprofundamento das conexões emocionais.O uso prolongado dessas interações pode comprometer o desenvolvimento de habilidades sociais essenciais para a construção de relações no mundo real, incluindo o controle emocional e a capacidade de lidar com conflitos.

    Outro fator relevante é que, quando um indivíduo passa a substituir interações humanas pela interação com inteligência artificial, seu isolamento social tende a se intensificar. Essa redução no contato com outras pessoas não apenas limita experiências de convívio social, mas também prejudica habilidades emocionais e sociais essenciais, como empatia, comunicação e resolução de conflitos.

    Como consequência, a diminuição dessas interações reais compromete a qualidade de vida, afetando o bem-estar psicológico, a satisfação pessoal e até aspectos da saúde física. Além disso, esse isolamento pode aumentar a vulnerabilidade a demandas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e dificuldades no manejo de emoções.

    Perguntas frequentes sobre relações parassociais e IA

    O que são relações parassociais?

    Relações parassociais são conexões emocionais unilaterais entre indivíduos e figuras midiáticas, como celebridades, influenciadores, personagens fictícios ou até inteligências artificiais. O vínculo existe apenas de um lado, mas pode gerar efeitos reais nas emoções, no comportamento e na autopercepção.

    Por que os vínculos com IA são considerados relações parassociais?

    Porque a reciprocidade é apenas simulada. Apesar de parecerem interativos e empáticos, os chatbots não possuem consciência ou afeto genuíno. A relação emocional é criada pelo usuário, reforçada por respostas que imitam padrões humanos.

    Quais são os exemplos de relações parassociais com IA?

    Aplicativos como Replika, Eva AI, Nomi.AI e MyAnima oferecem “companheiros digitais” personalizáveis, permitindo interações românticas, de amizade ou até sexuais. Na China, esse fenômeno já é comum entre jovens que buscam vínculos digitais como alternativa a interações sociais presenciais.

    Quais os possíveis benefícios das relações parassociais com IA?

    Essas relações podem apoiar pessoas em isolamento social, ajudar no desenvolvimento de habilidades emocionais, reduzir sentimentos de solidão e oferecer companhia imediata em momentos de fragilidade emocional. Também podem ser usadas como ferramentas de socialização em contextos específicos.

    Quais os riscos das relações parassociais com IA?

    O risco principal é a substituição de interações humanas reais por vínculos digitais artificiais. Isso pode levar ao isolamento social, à perda de habilidades de empatia, comunicação e resolução de conflitos, além de aumentar a vulnerabilidade a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.

    Como as relações parassociais afetam adolescentes e jovens?

    Durante a adolescência, fase essencial de autoconhecimento e desenvolvimento de empatia, substituir interações reais por vínculos artificiais pode fragilizar habilidades sociais, gerar expectativas irreais sobre relacionamentos e comprometer o amadurecimento emocional.

    As relações parassociais podem ser prejudiciais à saúde mental?

    Sim, especialmente quando substituem relações recíprocas e complexas da vida real. Relações humanas envolvem frustrações, conflitos e contradições que ajudam no crescimento pessoal — experiências que interações com IA dificilmente conseguem oferecer.

    💡 Quer saber mais sobre relações parassociais e inteligência artificial? Confira as fontes consultadas para a elaboração deste artigo:

    Por Redação

    Gostou deste conteúdo? Compartilhe com seus amigos!

    A purple and pink poster that says curadoria de conteudo exclusivos sobre saúde mental

     

    Assine a News da Pós para ficar por dentro das novidades


    Receba conteúdos sobre:


    • tendências de mercado
    • formas de escalar sua carreira
    • cursos para se manter competitivo.


    Quero receber

    Conteúdo Relacionado

    Um anúncio de um livro intitulado entrevista motivacional