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Saúde Mental e Neurociência

3 lições de Regina Navarro Lins sobre gênero e saúde mental

Por Olívia Baldissera   | 

"O ideal feminino de submissão, fragilidade, limitação e o sentimento de que os homens sempre tiveram superioridade em relação à mulher estão acabando. Todos nós somos fortes e fracos, corajosos e medrosos, passivos e ativos."

Regina Navarro Lins, psicanalista, em entrevista de 2018 para a Folha de S. Paulo

Mesmo antes da pandemia do novo coronavírus, a saúde mental já preocupava especialistas e organizações. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com distúrbios emocionais.

Um dos fatores de sofrimento psíquico é as expectativas ligadas ao gênero, segundo Regina Navarro Lins. Com mais de 40 anos de experiência na clínica, ela observou como a mudança de status da mulher na sociedade impactou os relacionamentos e as noções de identidade.

Defensora da equidade entre homens e mulheres, a psicanalista explica como se prender aos papéis convencionais de gênero tem prejudicado a saúde mental de todas as pessoas.

A seguir, você verá 3 lições sobre a relação entre gênero e saúde mental que Regina Navarro Lins comenta em suas aulas e palestras.

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Quem é Regina Navarro Lins

A psicanalista carioca Regina Navarro Lins dedica-se há mais de 40 anos à clínica. Paralelamente ao trabalho no consultório, atua como professora, colunista e palestrante.

Ela já foi professora de Psicologia do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e, durante quatro anos, foi colunista semanal e comentarista da Globonews. Em 2009, foi convidada para participar do programa Amor&Sexo, da TV Globo, que foi ao ar até dezembro de 2018.

Há 25 anos, pesquisa e escreve sobre relacionamentos amorosos e sexuais, com uma abordagem da história das mentalidades e do gênero.

Os livros de Regina Navarro Lins

A psicanalista compartilha sua experiência de décadas na clínica também na literatura. Regina Navarro Lins já escreveu 13 livros até o momento, quatro em parceria com o marido Flávio Braga:

A cama na varanda - Arejando nossas ideias a respeito de amor e sexo (1997)

Considerado um dos maiores fenômenos editoriais da década de 1990, este livro de Regina Navarro Lins aborda a história sexual humana em uma perspectiva de longa duração. A autora questiona o ideal do amor romântico, começando sua narrativa com a valorização da mulher na Antiguidade Clássica e se encerrando com o questionamento do patriarcalismo.

Na cabeceira da Cama (1998)

Nesta continuação, Regina Navarro Lins mostra como a unanimidade na interpretação de temas relacionados ao casamento podem sufocar a liberdade e a realização pessoal. A autora também aborda como acontecimentos vistos como negativos podem ser interpretados de uma maneira diferente, como a traição. Por fim, a psicanalista discute as dificuldades que surgem em todo relacionamento. Toda a escrita do livro foi baseada na experiência de Regina Navarro Lins como colunista do Jornal do Brasil.

Conversas na varanda (1999)

Este livro de Regina Navarro Lins reúne colunas escritas para o Jornal do Brasil. Em 274 páginas, a psicanalista reflete sobre amor e sexualidade, entrevista personalidades e analise casos específicos.

O Livro de Ouro do Sexo (2005)

Escrito em parceria com Flavio Braga, "O Livro de Ouro do Sexo" traz mais uma vez a história do comportamento sexual humano ao longo dos séculos.

O Sexo no Casamento (2006)

Parte da coleção “Amores Comparados”, o livro traz duas histórias de ficção, escritas por Flávio Braga, uma ambientada no passado e outra no Brasil contemporâneo. Na segunda parte do livro, as narrativas são analisadas por Regina Navarro Lins.

O romancista e a psicanalista tomam a Idade Média como ponto de partida e contam a história da jovem Ollena. Depois eles partem para a história de três casais no Rio de Janeiro e iniciam uma análise sobre o casamento nos dias de hoje.

Separação (2006)

A continuação de “Sexo no Casamento” segue a mesma estrutura do primeiro livro, unindo ficção e psicanálise. A primeira história é de Silvia Maria, que deseja se separar do marido e mudar de vida no Rio de Janeiro de 1958. Ela compartilha esta vontade com Juliana, que vive nos tempos atuais. A partir destas personagens, os autores abordam os reflexos da revolução sexual na vida das mulheres.

Fidelidade obrigatória e outras deslealdades (2007)

O terceiro volume da coleção “Amores Comparados” usa a ficção para discutir a fidelidade no casamento. O ponto de partida da narrativa era a Roma Antiga, cenário que será substituído pela São Paulo dos dias de hoje, onde acompanharemos um grupo de amigos em aventuras extraconjugais. Ambas as histórias são analisadas por Regina Navarro Lins a partir do debate sobre o que seria a verdadeira fidelidade.

Amor a três (2008)

Mais um livro escrito pelo casal Regina Navarro Lins e Flávio Braga. "Amor a três" segue a mesma fórmula dos livros anteriores, ao trazer duas histórias ficcionais, uma delas ambientada na década de 1970 e outra nos dias atuais. Os autores discutem as consequências emocionais de um relacionamento entre três pessoas.

A Cama na rede: o que os brasileiros pensam sobre amor e sexo (2010)

Entre os anos 2000 e 2009, Regina Navarro Lins manteve o site Cama na Rede, onde recebia perguntas relacionadas à sexualidade. Os comentários dos leitores foram selecionados e publicados neste livro, que traz também os resultados de uma pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro. O objetivo da autora é esclarecer dúvidas sobre sexualidade e analisar casos reais que podem ajudar na tomada de decisões nos relacionamentos.

Se eu fosse você... Uma reflexão sobre as experiências amorosas (2010)

Mais comentários do site Cama na Rede são analisados neste livro por Regina Navarro Lins, desta vez da perspectiva da empatia. Para a autora, colocar-se no lugar do outro ajuda toda pessoa a resolver suas dúvidas na área de relacionamentos.

O Livro do Amor (2012)

A psicanalista analisa as mudanças na experiência amorosa ocidental em dois livros, da Pré-História à Era Contemporânea. Ela mostra como o amor e o sexo foram moldados por paradigmas morais, dogmas religiosos, interesses políticos e motivações econômicas ao longo dos séculos. A autora também aborda as transformações nos papéis de gênero, que representam o homem como senhores absolutos do lar e a mulher, como uma criatura frágil e submissa.

Novas formas de amar (2017)

As transformações nos relacionamentos amorosos após a revolução sexual são o tema deste livro de Regina Navarro Lins. A autora aborda os aplicativos de relacionamento, como o Tinder, para mostrar como o amor romântico vem sendo substituído pelo desejo.

Amor na Vitrine (2020)

O livro mais recente de Regina Navarro Lins também explora os relacionamentos amorosos a partir de uma perspectiva histórica. A autora questiona como o amor se transforma ao longo do tempo – nós não amamos como nossos pais e, provavelmente, nossos filhos não amarão como nós.

A relação entre saúde mental e gênero, segundo Regina Navarro Lins

Para Regina Navarro Lins, o gênero impacta a saúde mental por meio de determinações históricas e culturais sobre o que é considerado saudável ou não. Em seus artigos no blog do UOL, ela trata sobre esta relação prejudicial, aliando a perspectiva da psicanálise com a da história.

Confira a seguir 3 lições de Regina Navarro Lins sobre a influência do gênero na saúde mental.

A repressão está diretamente ligada a distúrbios emocionais

Partindo do exemplo da Revolução Sexual da década de 1960, Regina Navarro Lins aborda os malefícios da repressão na saúde mental de uma maneira geral. Reprimir-se envolve não ser sincero consigo mesmo, ter vergonha da própria identidade e ainda preocupar-se em atender as expectativas da sociedade.

A repressão dos próprios desejos e a privação da liberdade de escolhas levam ao desenvolvimento de distúrbios emocionais e sofrimento psíquico. As mulheres são as mais prejudicadas pela repressão, como explica Regina Navarro Lins. De um ponto de vista histórico, ela argumenta que a opressão à mulher data de 5 mil anos, quando ela passou a ser vista como uma criatura inferior e frágil pela cultura ocidental.

O machismo também é prejudicial para os homens

Na sociedade patriarcal, as mulheres precisam atender uma série de expectativas – e com os homens não seria diferente. Já na primeira infância, os meninos são ensinados a seguir papéis considerados masculinos e buscar um ideal de virilidade. Entre eles está o de não demonstrar as emoções, ser o provedor da família e ter uma sexualidade ativa.

Atender a esta expectativa é fonte de angústia, medo do fracasso e dificuldades afetivas. A psicanalista defende que homens e mulheres podem ser fortes e fracos, agressivos e dóceis, corajosos e medrosos. Tudo depende do momento de vida e da personalidade de cada indivíduo, independentemente do sexo.

O casamento mudou mais nos últimos 40 anos do que há 3 mil anos

As relações conjugais acompanharam as mudanças do status da mulher dentro de um relacionamento e na sociedade. Ao longo do século 20, elas se libertaram de exigências legais e políticas que as deixavam submissas às vontades do marido – como a exigência de autorização para trabalhar ou abrir uma conta bancária, leis que vigoraram no Brasil até a aprovação do Estatuto das Mulheres Casadas, em 1962.

A conquista da independência financeira representou também uma mudança dos papéis de gênero dentro do matrimônio e, consequentemente, do ideal de felicidade conjugal. Hoje espera-se mais do que um parceiro provedor, mas sim realização afetiva e respeito.

Ter como modelo o matrimônio de um tipo de sociedade que não existe mais, com deveres e direitos considerados exclusivamente femininos ou masculinos, é outra fonte de sofrimento psíquico.

A leitura deu bastante informação para pensar, não é? E você pode se aprofundar ainda mais sobre as questões de gênero e saúde mental com Regina Navarro Lins.

A psicanalista é professora do curso Saúde Mental e Desenvolvimento Humano da Pós PUCPR Digital. Todas as aulas são em primeira pessoa e 100% online, ministrado por profissionais referência em suas áreas de atuação.

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Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo da Pós PUCPR Digital.

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