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Você já deve ter ouvido histórias de pessoas que se afastaram do trabalho por causa de dores na coluna ou lesões por esforço repetitivo. E provavelmente também conheceu profissionais que se afastaram por transtornos mentais, número que tende a aumentar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que a depressão será a doença mais comum do mundo até 2030. Ela também já é a segunda causa de perda de dias de trabalho no mundo , segundo a mesma entidade.
O cenário da pandemia do novo coronavírus intensificou o surgimento de doenças mentais. Hoje, saber planejar intervenções de prevenção e promoção da saúde mental não é mais tarefa apenas para psicólogos e psiquiatras.
É urgente que profissionais que atuam nos mais diferentes contextos e áreas – como educação, recursos humanos e saúde primária – estejam preparados para ajudar quem os cerca a manter o bem-estar emocional.
Neste artigo, você irá aprender o que é saúde mental, quais são os principais transtornos mentais do século 21 e quais ferramentas ajudam na promoção do equilíbrio emocional. Você irá ver:
A saúde mental é “um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade", segundo a OMS.
Repare que, pela definição da entidade global, saúde mental não é sinônimo da ausência de transtornos e doenças. Ela envolve o autoconhecimento, o equilíbrio emocional e o relacionamento interpessoal. Saber denominar as próprias emoções faz parte do processo.
Problemas do cotidiano podem desencadear transtornos mentais, como estresse, brigas, problemas financeiros ou conflitos dentro da família. É importante lembrar que os fatores são anteriores ao adoecimento emocional, que não acontece da noite para o dia.
A OMS estima que pelo menos 1 bilhão de pessoas convivam com algum transtorno mental. Mesmo assim, o tema ainda é tabu fora da comunidade médica. As doenças mentais são vistas como um sinal de fraqueza ou incompetência, muitas vezes sendo classificadas pejorativamente como “loucura”. O preconceito vem da percepção de que a saúde mental está descolada da saúde física, o que não é verdade.
Antes de prosseguir, precisamos diferenciar o que é uma doença mental de um transtorno mental. A primeira refere a um conjunto de causas, sintomas e medidas terapêuticas padronizados. Já a segunda abrange um diagnóstico multifatorial que varia de indivíduo para indivíduo e as formas de tratamento são inúmeras.
“Distúrbios clinicamente significativos na cognição, regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que refletem uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental e comportamental.”
A entidade internacional também atualiza periodicamente a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), um levantamento estatístico global sobre lesões, doenças e demais problemas de saúde.
O CID está na 11ª edição e entrará em vigor em 1º de janeiro de 2022 , mas já é possível verificar quais são os principais transtornos mentais descritos pela entidade. São estes:
Mais recorrente em mulheres, o transtorno pode ser de longa duração ou recorrente, incapacitando o indivíduo de realizar as atividades do dia a dia. Os principais sintomas da depressão são:
Existem tratamentos comprovadamente eficazes, que aliam psicoterapia e terapia cognitivo-comportamental ao uso de medicamentos.
O transtorno é caracterizado por episódios de mania e depressão, intercalados por períodos de regularidade no humor. O indivíduo passa por momentos de hiperatividade, autoestima inflada e pressão de fala, para depois experimentar períodos depressivos.
O tratamento é baseado em medicamentos estabilizadores de humor e apoio psicossocial. Mais de 60 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pelo transtorno afetivo bipolar.
Geralmente com início no fim da adolescência, a esquizofrenia afeta 23 milhões de pessoas em todo o mundo. Os principais sinais de alerta são as distorções no pensamento, na linguagem e na consciência do "eu", o que influencia o comportamento do indivíduo. Este geralmente é acometido por alucinações e delírios. O tratamento envolve medicamentos e apoio psicossocial.
A deterioração cognitiva é a principal característica do transtorno, que afeta 50 milhões de pessoas em todo o mundo. A demência afeta a memória, a capacidade de aprendizagem, a linguagem, a orientação e a compreensão. Ela pode ser causada por doenças e lesões que afetam o cérebro, como o Alzheimer ou um acidente vascular cerebral (AVC).
Este tipo de transtorno mental geralmente começa na infância e pode comprometer o desenvolvimento do sistema nervoso central. O termo abrange a deficiência intelectual e transtornos invasivos de desenvolvimento, como o espectro do autismo. O envolvimento da família é fundamental para o indivíduo ter uma melhor qualidade de vida.
Existem outros problemas de saúde mental abordados no CID-11. Confira a lista completa.
O Brasil é o país com mais pessoas ansiosas do mundo, de acordo com relatório de 2018 da OMS. São mais de 18,6 milhões de brasileiros, um décimo da população, que enfrentam esta condição. A ansiedade é o segundo transtorno mental mais incapacitante do mundo, depois da depressão.
Isso se reflete nos números de pedidos de afastamento do trabalho no país relacionados à saúde mental. Só em 2016, 199 mil trabalhadores solicitaram licença para tratamento de transtornos mentais e comportamentais, como depressão, ansiedade e estresse pós-traumático. Estas condições levaram 97 mil brasileiros a solicitarem aposentadoria por invalidez, entre 2009 e 2015. Os dados são do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A pandemia agravou o estado da saúde mental dos brasileiros. O Ministério da Saúde realizou uma pesquisa sobre saúde mental na pandemia e concluiu que há uma elevada proporção de ansiedade na população (86,5%), seguida por eventos de estresse pós-traumático (45,5%) e, por fim, quadros depressivos graves (16%).
Outro número revelador é as buscas pelo termo "saúde mental" no Google , que tiveram um pico em junho de 2020.
A incerteza em relação ao futuro, o grande volume de notícias negativas e os longos períodos de isolamento social deixaram os brasileiros mais ansiosos, insones e depressivos. A preocupação em adoecer ou contaminar um ente querido potencializa os impactos da pandemia na saúde mental.
Por isso a OMS lançou uma cartilha com orientações de como manter o equilíbrio emocional neste período. Entre as orientações estão:
O cenário de saúde mental no Brasil e no mundo é preocupante, por isso psicólogos, neurocientistas, psiquiatras e demais profissionais da saúde procuram incessantemente por soluções que aliviem as queixas dos pacientes.
Os principais recursos terapêuticos listados a seguir são recomendados pela Society of Clinical Psychology, entidade vinculada à American Psychological Association (APA), e são baseados em fortes evidências científicas.
Lembrando que, independentemente da terapia adotada, o tratamento é um processo que precisa ser orientado por um profissional de saúde mental capacitado. A lista completa das terapias está disponível no site da APA.
Não são apenas psiquiatras e psicólogos os responsáveis pela promoção da saúde mental. Outros profissionais da área da saúde são essenciais para garantir o bem-estar emocional de pacientes. Entre eles estão:
Todas estas categorias profissionais integram a equipe mínima dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS), que substituíram os hospitais psiquiátricos ao longo da década de 1980.
Ao lado de psicólogos e psiquiatras, estes profissionais auxiliam na promoção da saúde mental já na atenção primária, acompanhando pacientes e orientando o uso de recursos terapêuticos, como a musicoterapia e a arteterapia.
A promoção da saúde mental ganhou um aliado nas novas tecnologias, em especial durante a pandemia. O atendimento em clínicas e consultórios teve que ser substituído pelo online, intermediado por plataformas de videochamada. As sessões de terapia online já se mostraram tão eficientes quanto as presenciais e estão previstas em resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Os grupos online se tornaram um ótimo recurso terapêutico. Eles são organizados no Zoom, Google Meet, Facebook, Telegram e WhatsApp e são indicados para quem não tem condições de custear um processo de psicoterapia. As pessoas formam uma rede virtual de apoio, que contribui para a saúde mental e o equilíbrio da autoestima.
Outra ferramenta são os aplicativos, que conectam pessoas em estado de solidão a voluntários capacitados, como o Kor-e. O Centro de Valorização da Vida (CVV) também passa por um processo de digitalização para atender a demanda.
Médicos, psicólogos, enfermeiros, professores e demais profissionais que lidam com relações humanas no dia a dia também ganharam uma oportunidade de aprimorar seus conhecimentos sem sair de casa. Para atender as demandas de saúde mental da sociedade, novos cursos e especializações foram criados para a modalidade online. Este formato permite aos pós-graduandos aprenderem diretamente com profissionais referência de outros países, graças à internet.
Já reparou que vemos cada vez mais colegas de trabalho experimentando quadros de ansiedade, fadiga e desmotivação?
Se você é um profissional da saúde, um educador ou um analista de RH, deve ter recebido um número maior de queixas dos colaboradores e equipes. Quem ocupa cargos de gestão passa pela mesma coisa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem um estudo assustador sobre este cenário: os transtornos mentais, em especial a depressão, já são a segunda causa de perda de dias de trabalho no mundo.
Ainda, a OMS estima que a falta de diagnóstico e tratamento adequado para a depressão tira US$ 1 trilhão da economia no global. No Brasil, as perdas chegam a R$ 210 bilhões anuais.
Como fazer a sua parte para melhorar o equilíbrio emocional dentro da sua empresa?
A promoção da saúde mental no ambiente de trabalho envolve trabalhar a cultura da organização. Coordenadores de área, gestores e profissionais de RH devem se unir para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores na empresa.
Aprenda 5 ideias práticas de como promover a saúde mental no trabalho.
Infelizmente, falar sobre saúde mental ainda é tabu. A empresa precisa tomar a iniciativa de abordar o tema, seja em campanhas internas ou criando um canal de diálogo com o RH específico para questões de saúde mental.
A equipe corporativa também pode preparar uma lista de psicólogos e demais profissionais de saúde mental para encaminhar aos colaboradores quando ele sentirem a necessidade de pedir ajuda especializada.
Uma dica é aproveitar a Semana Interna de Prevenção de Acidente do Trabalho (Sipat) para promover palestras e rodadas de conversa sobre saúde mental. A realização da Sipat uma vez ao ano é obrigatória para as empresas brasileiras desde 1953.
Se você é gestor, esta dica é essencial. Quantas vezes você agradece a sua equipe pelo trabalho realizado?
O agradecimento é uma das estratégias de comunicação interna saudável. Ela precisa ser objetiva, assertiva e, principalmente, estabelecer regras claras.
Um ambiente profissional onde competitividade excessiva, fofocas e assédio moral imperam só prejudica a saúde mental no trabalho.
O feedback é a oportunidade de aproximação entre gestores e integrantes da equipe. Além de aprimorar a atuação do colaborador, é possível identificar desequilíbrios de saúde mental que podem precisar de atenção profissional.
É nestes momentos também que o funcionário pode se sentir seguro e confortável para expressar alguma queixa.
O exercício físico não serve apenas para evitar casos de lesão por esforço repetitivo (LER). Ele é fundamental para a promoção da saúde mental no trabalho.
É importante reservar alguns minutos do dia para a ginástica laboral, que deve ser vista pelos colaboradores como algo prazeroso e não como uma obrigação. A meditação também pode ser incluída em um intervalo do dia de trabalho.
Durante os períodos de isolamento social, incentive os colaboradores a reservarem pelo menos 20 minutos diários para se alongarem ou meditarem dentro de casa.
A empresa também pode organizar grupos de caminhada, corrida de rua ou de futebol para participar de competições e eventos. Assim os colaboradores sentem que fazem parte de um time e ainda estimulam uns aos outros a participarem das atividades.
No home office, isso se tornou ainda mais importante. Organize happy hours virtuais entre as equipes para elas interagirem entre si em um ambiente mais descontraído.
Especialmente na pandemia, o trabalho remoto pode provocar sensação de solidão, o que prejudica a saúde mental no trabalho.
Já deu para perceber que os cuidados com a saúde mental estão na pauta do dia. Mas como estar pronto para lidar com as angústias e queixas que possam surgir no ambiente corporativo, educacional ou hospitalar?
Dentro das empresas, é preciso conhecer quais condições de trabalho prejudicam o bem-estar dos colaboradores. A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho lista os seguintes fatores:
Nestas horas, gestores e time de RH precisam se unir e promover ações preventivas de saúde mental. O primeiro passo é mostrar que há uma rede de apoio dentro da organização, estar aberto ao diálogo. O mesmo vale para o ambiente escolar, seja para professores ou alunos.
As crianças não estão livres dos fatores de desequilíbrio emocional. A OMS estima que de 10% a 20% das crianças e adolescentes apresentam algum tipo de transtorno mental e comportamental.
Nos hospitais, a pandemia deteriorou a saúde mental dos profissionais da linha de frente. Pesquisa da Fiocruz mostrou que 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais experienciaram sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia.
E como se preparar para lidar com todas estas queixas e promover intervenções? Qualificando-se e se atualizando. Cursos e especializações de instituições reconhecidas são as melhores opções, por unirem o conhecimento científico com a experiência de professores que são referência em suas áreas de atuação. Neste artigo, trazemos mais detalhes sobre especializações em saúde mental.
Por okleina
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