Skip to content

Saúde Mental e Neurociência

Como os padrões de beleza afetam a sociedade

Por Olívia Baldissera   | 

Quem nunca se olhou no espelho para checar se tinha aquela ruguinha ao redor dos olhos?

Uma ação tão simples revela um padrão de beleza que valoriza a juventude – e que, inconscientemente, nos sentimos obrigados a seguir. Sem falar em outras imposições estéticas que vemos na mídia, como ter um determinado peso, formato de corpo e tipo de cabelo.

E quando não seguimos essas normas estéticas? É muito provável que vamos nos sentir intimidados e até rejeitados pelas outras pessoas.

Esse é o sentimento de metade dos brasileiros, que associa a aparência física ao sucesso e à felicidade. A conclusão é de uma pesquisa da Opinion Box com 2147 pessoas de todo o Brasil, realizada em janeiro de 2022.

E as consequências não param por aí. A seguir, você vai conhecer os prejuízos que a imposição de um padrão de beleza traz para a sociedade. Confira:

A formação dos padrões de beleza
As consequências da imposição de padrões de beleza
O body shaming e o movimento Body Positivity
Como lidar com os padrões de beleza

Acelere sua carreira com os cursos da Pós PUCPR Digital!

A formação dos padrões de beleza

Um padrão de beleza é um conjunto de normas estéticas que formatam o corpo de um indivíduo, de acordo com processos culturais localizados em um determinado espaço e tempo histórico. É uma construção social, ou seja, não é algo que sempre existiu na natureza, não é universal nem imutável.

Cada cultura tem a própria definição do que é belo, estabelecendo associações entre determinadas partes do corpo a atributos positivos ou negativos. Esses parâmetros acabam por qualificar e desqualificar as pessoas, que constroem suas identidades a partir dessas regras.

Vamos pegar como exemplo o padrão de beleza brasileiro dos anos 2000.

Para uma pessoa ser considerada bonita, ela deveria ser alta e ter a menor porcentagem de gordura corporal possível, músculos definidos e lábios grossos. A pele deveria ser bronzeada e não ter sinais que revelassem a idade, como manchas, rugas e cicatrizes.

Se voltarmos para o início do século 20, o tipo físico ideal era um corpo esguio, mas sem músculos aparentes. A pele deveria ser alva e os cabelos, lisos. O envelhecimento não era considerado um problema, tanto que era um elogio aparentar a idade que tinha. A velhice passou a ser associada à feiura na década de 1960, mesmo período em que se pesar e fazer regimes se tornaram um hábito no país.

O vídeo abaixo, produzido pelo Buzzfeed, é uma ótima ilustração de diferentes padrões de beleza que surgiram ao longo de séculos:

Apesar de geralmente pensarmos em figuras femininas quando falamos em padrões de beleza, pessoas do sexo masculino também são enquadradas em parâmetros estéticos.

Confira mais um vídeo do Buzzfeed que traz as características que determinam se um homem é belo ou não em diferentes culturas:

 

 

As consequências da imposição de padrões de beleza

A imposição de um padrão de beleza coloca em risco a saúde das pessoas. A pesquisa da Opinion Box mostrou que 41% dos brasileiros já tiveram problemas psicológicos ligados à aparência e à baixa autoestima.

Há ainda os riscos decorrentes de intervenções cirúrgicas desnecessárias, do uso de esteroides anabolizantes e da exposição prolongada ao sol ou à radiação do bronzeamento artificial.

>>> Modelo biopsicossocial: dê adeus à separação entre saúde física e mental

A cobrança interna e externa pelo corpo perfeito é chamada de pressão estética, que impacta em especial as mulheres.

Listamos alguns dos efeitos nocivos dessa pressão, com a ressalva de que os padrões de beleza não são a única causa dos problemas abaixo.

Transtornos alimentares

Os transtornos alimentares englobam todo comportamento disfuncional relacionado à comida. São distúrbios multifatoriais, ou seja, que têm múltiplas causas. Além da pressão estética, o bullying e outros traumas de infância podem desencadeá-los.

Os principais transtornos alimentares são:

  • Anorexia: caracterizado pela visão distorcida sobre o próprio corpo. A pessoa tem medo intenso de ganhar peso e obsessão por emagrecer;
  • Bulimia: compulsão alimentar seguida por métodos para evitar ganho de peso, como expurgos, excesso de exercícios físicos e jejum;
  • Compulsão alimentar: ingestão exarada de alimentos, sem que haja sensação de fome ou necessidade física;
  • Ortorexia: preocupação exagerada com o que se come, levando a uma obsessão para sempre comer de forma certa, com alimentos saudáveis e extremo controle de calorias e qualidade.

Estima-se que 70 milhões de pessoas são afetadas por algum tipo de transtorno alimentar em todo o mundo. Geralmente, os distúrbios começam a se manifestar no final da infância e início da adolescência.

Dismorfia corporal

Também chamada de transtorno dismórfico corporal (TDC), a dismorfia corporal se caracteriza pela preocupação exagerada com algum defeito imaginário na aparência física. Estima-se que atinja mais de 4 milhões de brasileiros, com igual proporção entre homens e mulheres.

Quem sofre com o TDC tem dificuldades de sair de casa, por medo de ser julgado pela aparência, e acaba se isolando. Há quem recorra a procedimentos estéticos e intervenções cirúrgicas para tentar corrigir a suposta imperfeição, o que não garante que o sofrimento vai passar. Geralmente, a pessoa torna-se obsessiva com outra parte do corpo.

Gordofobia

A gordofobia é a aversão a pessoas que estão acima do peso considerado ideal pelos padrões de beleza. Geralmente, é acompanhada por piadas, comentários pejorativos ou desmerecimento.

É um preconceito a um determinado tipo físico, tido como anormal por não estar de acordo com parâmetros estéticos. O caráter do indivíduo passa a ser definido pelo tamanho do seu corpo, o que acaba prejudicando sua saúde mental.

Racismo estético

Falando especificamente de padrões de beleza impostos na sociedade, o racismo estético se manifesta na negação ou em ataques a traços físicos de pessoas negras, como o formato do nariz e da boca, a estrutura óssea e os cabelos.

O body shaming e o movimento Body Positivity

A forma mais óbvia de pressão estética é o body shaming, expressão em inglês para se referir a agressões verbais relacionadas à aparência física de uma pessoa.

A noção de aparência aqui é ampla, abrangendo formato do corpo, cor da pele e dos cabelos, doenças que deixam marcas físicas, cicatrizes e intervenções como tatuagens e piercings.

Em resposta ao body shaming, o movimento Body Positivity defende que todo indivíduo tem o direito de ter uma imagem positiva sobre o próprio corpo, independentemente dos padrões de beleza vigentes.

Entre os objetivos do Body Positivity estão:

  • Contestar os padrões de beleza corporal da sociedade, construídos a partir de vieses de raça, gênero, sexualidade e deficiência;
  • Promover a aceitação de todos os corpos, ajudando as pessoas a construírem uma relação mais saudável e realista com os próprios corpos;
  • Mostrar como a mídia afeta na relação que as pessoas têm com os seus corpos, incluindo como elas sentem-se em relação à comida, atividade física, moda, saúda, identidade e autocuidado.
  • Fazer as pessoas aproveitarem processos de mudança no corpo, como o envelhecimento e a gravidez, em vez de temê-los.
  • Denunciar padrões de beleza inalcançáveis.

O movimento se originou na década de 1960, tendo como expoente a National Association to Advance Fat Acceptance (NAAFA). Ele ganhou o nome que tem hoje em 1996, quando a executiva escritora Connie Sobczak e a psicóloga Elizabeth Scott fundaram a The Body Positive, organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas a lidaram com a imagem negativa que têm dos seus corpos.

O ano de 2012 também foi importante para o movimento, que ganhou popularidade com perfis no Instagram que questionavam padrões de beleza inalcançáveis.

>>> À procura de um propósito? Conheça a Logoterapia

Como lidar com os padrões de beleza

O Body Positivity oferece algumas pistas de como podemos lidar com os padrões de beleza em nosso dia a dia.

Mas é preciso tomar cuidado para que ele não se torne mais uma pressão estética. Sentir a obrigação de ter uma visão positiva sobre nossa aparência também pode levar à vergonha e culpa, não é mesmo?

Um caminho indicado pela psicóloga Kendra Cherry, que contribui para o portal de saúde mental Verywell Mind, é substituir pensamentos negativos por padrões mais realistas, sem negar que existe um padrão de beleza dominante na televisão, no streaming e nas redes sociais.

Não precisamos amar todas as partes do nosso corpo, mas temos que ter em mente que a aparência não determina nosso valor como seres humanos. Por isso devemos focar em outras características nossas para desenvolver o nosso autoconceito.

O processo não é simples nem acontece do dia para a noite. É um esforço contínuo de evitar pensamentos que prejudicam nossa imagem corporal.

Mas existem atitudes mais concretas que você pode tomar:

  • Compre e use roupas que valorizam o corpo que você tem agora, não o que você espera ter amanhã;
  • Doe as roupas que estão muito pequenas ou muito grandes para seu tipo físico. O objetivo é ficar confortável e se sentir bem;
  • Busque por contas que promovam o Body Positivity ou abordem assuntos que te fazem se sentir bem no Instagram, no TikTok e no YouTube;
  • Encontre uma atividade física que te dá prazer e comece aos poucos. O mais importante é fazer algo que fortaleça seu corpo do que o modelar para seguir um padrão;
  • Coma alimentos saudáveis no seu dia a dia por eles fazerem bem para você – e não para alcançar o peso ideal.

>>> O modelo PERMA e a relação com o bem-estar

É com autoconhecimento e fontes de informação confiáveis que você vai aprender a lidar com a pressão estética dos padrões de beleza. Para te ajudar nessa jornada, a Pós PUCPR Digital criou o curso Saúde Mental e Desenvolvimento Humano.

As aulas são 100% online e as matrículas já estão abertas.

Preencha o formulário para baixar o guia do curso Saúde Mental e Desenvolvimento Humano:

 

Inscreva-se na pós-graduação em Saúde Mental da Pós PUCPR Digital

Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo da Pós PUCPR Digital.

Assine nossa newsletter e fique por dentro do nosso conteúdo.