Transtornos alimentares sob a ótica da Psicologia

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Tassiane Valin • 11 de agosto de 2025

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    Na contemporaneidade, o aumento do índice de gordura corporal, em contraste com o padrão estético socialmente valorizado, desencadeia uma busca incessante pelo chamado “peso ideal” ou “corpo perfeito”, geralmente por meio de dietas restritivas e procedimentos estéticos.


    A ideia de que ser magro é sinônimo de beleza acabou se enraizando no imaginário coletivo, fazendo com que a maioria das mulheres, e também alguns homens, sinta insatisfação com o próprio corpo. Essa insatisfação pode gerar problemas de saúde física e emocional. Entre esses problemas, estão os transtornos alimentares (TAs).


    De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM-5, os transtornos alimentares (TAs) envolvem alterações significativas no comportamento alimentar, afetando tanto a quantidade quanto a frequência da ingestão de alimentos.


    Os TAs se caracterizam por uma preocupação intensa não só com o corpo, mas com o peso e também com os alimentos. Essas preocupações podem comprometer a saúde física, mental e também as relações sociais dos indivíduos. 

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    Quando a relação com a comida se torna um problema 

    Comer é uma prática essencial para a vida e também um ato carregado de significados culturais e sociais, mas, quando passa a ser marcado por excessos, restrições ou sofrimento, pode se transformar em um problema de saúde.


    A forma como cada pessoa se relaciona com a alimentação reflete aspectos emocionais e culturais, mas, em alguns casos, essa relação pode se tornar conflituosa e dar origem a transtornos alimentares.


    Entre os principais transtornos alimentares estão a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar.

    Anorexia nervosa

    Segundo o DSM-5, a anorexia nervosa é caracterizada por um peso corporal significativamente abaixo do esperado para a idade, o gênero e as condições de saúde da pessoa.

    

    Esse quadro vem acompanhado de uma percepção distorcida da própria imagem corporal, de um medo intenso de ganhar peso e de comportamentos voltados para evitar esse ganho.


    Para fins de diagnóstico, considera-se como critério de baixo peso o índice de massa corporal (IMC) inferior a 18,5.

    Bulimia nervosa

    Em contrapartida, a bulimia nervosa, caracteriza-se por episódios de compulsão alimentar, nos quais a pessoa perde o controle diante da quantidade ou do tipo de alimento consumido.


    Após esses episódios, geralmente surge um forte sentimento de culpa, que leva à adoção de comportamentos compensatórios, como vômito autoinduzido, uso de laxantes ou diuréticos, jejuns prolongados ou prática excessiva de exercícios físicos, na tentativa de evitar o ganho de peso.


    Muitas vezes, esses comportamentos são realizados de forma secreta, devido à vergonha ou medo de julgamento.

    Transtorno de compulsão alimentar

    Por fim, o transtorno de compulsão alimentar tem como principal característica a ingestão descontrolada de grandes quantidades de comida, em um período curto de tempo, muito acima do que a maioria das pessoas consumiria em condições semelhantes. Esses episódios costumam ocorrer de forma escondida e são seguidos por sentimentos de culpa e sofrimento.

    

    Diferente da bulimia, nesse transtorno não há uso de métodos compensatórios, e uma de suas consequências mais comuns é a obesidade.


    É importante salientar que nem todo excesso alimentar deve ser entendido como compulsão. Situações como comemorações, festas, rodízios, beliscos ou mesmo o comer em grande quantidade (overeating) não caracterizam, por si só, um transtorno, pois geralmente não envolvem a sensação de perda de controle — aspecto central da compulsão alimentar.


    Ainda assim, a avaliação clínica é fundamental, especialmente quando há histórico de compulsão em outros contextos.

    Aspectos envolvidos nos transtornos alimentares

    Os transtornos alimentares têm uma origem multifatorial, resultante da combinação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, familiares e ambientais. 


    Tal complexidade multifatorial impede a identificação de uma causa única para seu surgimento, já que cada caso envolve variáveis específicas. Contudo, pesquisas apontam alguns fatores que contribuem para o desenvolvimento desses transtornos. 


    A valorização da magreza e a pressão para emagrecer, junto a fatores biológicos, psicológicos e familiares, provocam uma preocupação excessiva com o corpo e um medo intenso e patológico de ganhar peso.


    Nesse sentido, a seguir serão apresentados alguns dos principais fatores de risco associados ao desenvolvimento dos transtornos alimentares.

    Padrões de beleza

    Pesquisas mostram que os padrões de beleza impostos pela cultura ocidental, especialmente o ideal de magreza, e a exposição à mídia, contribuem para o aumento dos transtornos alimentares.


    Esse crescimento está relacionado ao desconforto gerado pelas pressões corporais atuais, que moldam os hábitos alimentares a partir das influências socioculturais. Essa pressão estética afeta principalmente as mulheres jovens, que representam a maioria dos casos de transtornos alimentares.


    Estudos do Ministério da Saúde mostram que quase 50% das mulheres entre 12 e 29 anos gostariam de pesar menos, embora apenas 32% apresentassem sobrepeso ou obesidade. Entre as 38% que se viam como gordas, mais da metade tinha o IMC dentro da faixa considerada saudável.

    Imagem corporal distorcida

    Pessoas com transtornos alimentares costumam apresentar características de autocrítica intensa e perfeccionismo exacerbado.


    Esse padrão rígido de exigência não se limita apenas ao desempenho pessoal, mas também se reflete na busca por um corpo idealizado, muitas vezes inatingível, influenciando negativamente a forma como percebem sua aparência e reforçando comportamentos prejudiciais à saúde.

    Desregulação emocional

    De acordo com a literatura da área, as pessoas que vivenciam transtornos alimentares têm baixo repertório de estratégias de regulação emocional, sendo que os episódios de compulsão alimentar e os métodos compensatórios podem funcionar como formas frequentes de aliviar o humor negativo (tristeza, raiva, ansiedade, frustração e etc).


    Alguns pacientes com transtornos alimentares são muito sensíveis a esses sentimentos desconfortáveis e têm dificuldade para lidar com emoções intensas.

    Relações familiares

    Estudos apontam que características emocionais dos pais, como impulsividade, ansiedade, instabilidade e perfeccionismo, podem afetar negativamente a relação com os filhos, influenciando o surgimento de transtornos alimentares. Estilos parentais controladores e pouco atenciosos, estão associados a maior risco.


    Além disso, observa-se que os filhos tendem a reproduzir a forma como os pais regulam suas emoções, o que pode contribuir para a desregulação emocional e o desenvolvimento de TAs.


    Esse caráter multifatorial demonstra que os fatores descritos não esgotam todas as variáveis envolvidas no surgimento dos transtornos alimentares. 

    Tratamento de transtornos alimentares

    Quanto ao tratamento de pessoas com transtornos alimentares, a literatura aponta diferentes formas de intervenção junto a essa população. A base do tratamento é a atuação de uma equipe multidisciplinar formada por clínico geral, psiquiatra, nutricionista e psicólogo, todos devidamente preparados e capacitados para conduzir esses casos.


    Entre as estratégias para lidar com os transtornos alimentares, destacam-se: 


    • Aumentar a adesão ao tratamento, mesmo diante da resistência ligada ao medo de engordar;
    • Trabalhar a relação com a imagem corporal, promovendo uma visão mais realista e crítica dos padrões sociais;
    • Modificar crenças disfuncionais sobre peso e forma;
    • Desenvolver habilidades para regular o humor e lidar com problemas;
    • Fortalecer a autoestima e reduzir o perfeccionismo;
    • Treinar habilidades interpessoais para melhorar relacionamentos;
    • Preparar a paciente para prevenir recaídas, elaborando estratégias de manutenção após o tratamento.


    Além disso, o ambiente familiar exerce papel decisivo no curso dos transtornos alimentares, uma vez que o modo como os membros da família se relacionam e o padrão de comunicação intrafamiliar influenciam diretamente no prognóstico e nas estratégias de enfrentamento diante das demandas do tratamento.


    Quando marcado por estigma e incompreensão, esse contexto pode reforçar os sintomas; por isso, intervenções com famílias, especialmente por meio da terapia grupal, têm se mostrado fundamentais e eficazes para favorecer a adesão e a recuperação.


    Diante da complexidade que envolve os transtornos alimentares, torna-se evidente que sua abordagem exige cuidado integral. Por isso, reforça-se a importância de um diagnóstico precoce e individualizado, capaz de orientar a construção de um plano terapêutico abrangente, que contemple não apenas o indivíduo, mas também sua família, promovendo melhores condições para o tratamento e para a recuperação da qualidade de vida.

    Perguntas frequentes

    O que são transtornos alimentares?

    Transtornos alimentares (TAs) são condições psicológicas caracterizadas por alterações graves no comportamento alimentar, acompanhadas de preocupação excessiva com peso, corpo e alimentos. Eles afetam a saúde física e mental e podem comprometer relações sociais.

    Quais são os principais tipos de transtornos alimentares?

    Os principais TAs são:

    • Anorexia nervosa: recusa alimentar e perda de peso extrema.
    • Bulimia nervosa: episódios de compulsão seguidos por comportamentos compensatórios (vômitos, jejuns, exercícios excessivos).
    • Transtorno de compulsão alimentar: ingestão descontrolada de grandes quantidades de comida, sem comportamentos compensatórios.
    Quais fatores contribuem para o surgimento dos transtornos alimentares?

    Os TAs têm origem multifatorial: envolvem aspectos biológicos, psicológicos, culturais, familiares e sociais. Pressões estéticas, perfeccionismo, desregulação emocional e padrões familiares disfuncionais são fatores de risco.

    O padrão de beleza influencia nos transtornos alimentares?

    Sim. A valorização excessiva da magreza e a pressão estética, especialmente entre mulheres jovens, estão associadas ao aumento de casos de transtornos alimentares.

    Como a imagem corporal distorcida afeta o comportamento alimentar?

    Pessoas com distorção da imagem corporal costumam apresentar autocrítica elevada e padrões irreais de beleza, o que as leva a adotar comportamentos alimentares prejudiciais.

    Existe relação entre emoções e transtornos alimentares?

    Sim. Muitas pessoas com TAs apresentam dificuldade para lidar com emoções negativas (como ansiedade ou frustração), utilizando a alimentação como forma de regulação emocional.

    Como o ambiente familiar impacta os transtornos alimentares?

    Estilos parentais controladores, impulsivos ou emocionalmente instáveis podem contribuir para o surgimento ou agravamento dos TAs. A comunicação familiar também influencia a adesão ao tratamento.

    Qual é o tratamento indicado para transtornos alimentares?

    O tratamento deve ser conduzido por equipe multidisciplinar (psicólogo, psiquiatra, nutricionista e médico) e incluir estratégias terapêuticas voltadas para autoestima, imagem corporal, regulação emocional e prevenção de recaídas.

    O tratamento de transtornos alimentares envolve a família?

    Sim. A participação da família é essencial. Intervenções familiares, como a terapia grupal, ajudam na compreensão do transtorno e favorecem a adesão ao tratamento.

    💡 Quer saber mais sobre transtornos alimentares? Confira as fontes consultadas para a elaboração deste artigo:


    • American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5-TR: Texto Revisado. 5. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2023.
    • Copetti, Aline Vieira Sá; Quiroga, Carolina Villanova. A influência da mídia nos transtornos alimentares e na autoimagem em adolescentes. Revista de Psicologia da IMED, v. 10, n. 2, p. 161-177, 2018.
    • De Carvalho, Renata Silva; Amaral, Ana Carolina Soares; Ferreira, Maria Elisa Caputo. Transtornos alimentares e imagem corporal na adolescência: uma análise da produção científica em psicologia. Psicologia: teoria e prática, v. 11, n. 3, p. 200-223, 2009.
    • De Jesus Ferreira, Pâmella; Bossi, Tatiele Jacques. A produção científica sobre transtornos alimentares na área da psicologia. Psicologia Revista, v. 30, n. 2, p. 433-458, 2021.
    • Duchesne, Monica; Campos, Marianna Coelho; Pereira, Maene Cristine Bento. Intervenções psicológicas no tratamento dos transtornos alimentares. Debates em Psiquiatria, v. 9, n. 3, p. 32-38, 2019.
    • Oliveira, Leticia Langlois; Hutz, Claúdio Simon. Transtornos alimentares: o papel dos aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicologia em Estudo, v. 15, p. 575-582, 2010.
    • Santos, E. F. L.; Lobo, B. O. M.; Neufeld, C. B. Compulsão alimentar sob olhar da psicologia. Artmed, 2024. Disponível em: https://artmed.com.br/artigos/compulsao-alimentar-sob-olhar-da-psicologia. Acesso em: 3 ago. 2025.
    • Siqueira, Ana Beatriz Rossato et al. Confluências das relações familiares e transtornos alimentares: revisão integrativa da literatura. Psicologia Clínica, v. 32, n. 1, p. 123-149, 2020.

    Por Redação

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