O que a neurociência diz sobre comportamento alimentar?

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit

Olivia Baldissera • 22 de julho de 2025

Acompanhe

    O comportamento alimentar é regulado por mecanismos complexos que vão desde fatores fisiológicos até emocionais, sociais e psicológicos 


     Mas por que muitas vezes comemos mesmo sem fome? 


    Como o cérebro influencia nossas decisões alimentares? 


    E qual o impacto do ambiente moderno, especialmente com o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados? 


    Essa e outras perguntas sobre comportamento alimentar foram respondidas na masterclass O cérebro por trás da alimentação, transmitida ao vivo no dia 21 de julho de 2025. 


    O evento teve a participação da psiquiatra Alice Xavier, pesquisadora em saúde mental, e da nutricionista Natasha Fonseca, especialista em comportamento alimentar. 


    Confira, a seguir, um resumo das principais reflexões da masterclass. Boa leitura! 

    A poster with a brain made of fruits and vegetables

    Por que nós comemos? Nem sempre é fome 

    Nós tomamos cerca de 200 decisões alimentares por dia, e muitas vezes nem percebemos quantas delas realmente são motivadas pela fome. 


    Ao longo do dia, comemos por diversos motivos além da necessidade nutricional: encontramos amigos, estamos trabalhando, sentimos emoções ou simplesmente buscamos prazer. 


    O ato de se alimentar envolve muito mais do que aspectos fisiológicos. Fatores emocionais, sociais e psicológicos também desempenham papéis fundamentais. 


    Por isso, questões relacionadas a transtornos alimentares ou à obesidade estão diretamente ligadas à saúde mental e ao funcionamento cerebral. 


    Tomar consciência dessas motivações variadas é o primeiro passo para entender melhor o comportamento alimentar de cada indivíduo. 

    An advertisement for a book titled entrevista motivacional

    Como o cérebro regula o nosso comportamento alimentar? 

    O ato de comer ativa diversas regiões cerebrais que influenciam diretamente nosso comportamento alimentar. Dois sistemas principais regulam esse processo: o sistema hipotalâmico e o sistema límbico de recompensa. 


    O hipotálamo é responsável por gerenciar a fome e a saciedade, interpretando sinais enviados pelo corpo — como a dilatação do estômago e a chegada de nutrientes — e indicando quando é hora de começar ou parar de comer. 


    Por outro lado, o sistema límbico de recompensa busca o prazer e é impulsionado principalmente pela liberação de dopamina. 


    Esse sistema pode até mesmo superar os sinais enviados pelo hipotálamo, motivando o consumo de alimentos ricos em açúcar, gordura ou sal, mesmo quando não estamos mais com fome. 


    Além desses dois sistemas, existe também o córtex pré-frontal, que auxilia na tomada consciente de decisões alimentares, regulando impulsos e permitindo escolhas mais equilibradas, mesmo diante de tentações gastronômicas irresistíveis. 


    A comunicação entre essas áreas cerebrais e o restante do corpo envolve hormônios específicos como grelina (relacionada à fome) e leptina (associada à saciedade e regulação do peso corporal). Essa interação constante entre cérebro e corpo influencia nossas escolhas alimentares e determina padrões saudáveis ou problemáticos. 


    Assim, nosso cérebro está continuamente analisando, aprendendo e atribuindo valor aos alimentos, moldando nosso comportamento alimentar diário. 


    Entender como nosso cérebro regula o comportamento alimentar ajuda a desenvolver estratégias para melhorar nossa relação com a comida, fortalecendo áreas cerebrais ligadas ao autocontrole e reduzindo comportamentos alimentares impulsivos. 

    Qual o impacto dos alimentos ultraprocessados em nosso comportamento alimentar? 

    Desde a década de 1970, o mundo vive uma crescente pandemia de sobrepeso e obesidade. 


    Projeções indicam que, até 2035, mais da metade da população global poderá enfrentar problemas de obesidade. 


    Dois fatores principais explicam essa mudança: a redução significativa do nosso gasto energético, devido ao estilo de vida sedentário, e o aumento drástico no consumo de alimentos ultraprocessados. 


    Os alimentos ultraprocessados são especialmente atrativos para o nosso cérebro porque combinam grandes quantidades de açúcar, gordura e sal. 


    Esses ingredientes ativam intensamente o sistema cerebral de recompensa, que libera dopamina, gerando prazer e estimulando ainda mais o consumo repetido. 


    Do ponto de vista evolutivo, nosso cérebro desenvolveu uma preferência por alimentos calóricos, doces e gordurosos, justamente porque no passado esses alimentos garantiam energia para sobreviver em tempos de escassez. 


    Antigamente, precisávamos gastar muita energia para obter esses nutrientes, enquanto hoje eles estão facilmente disponíveis, exigindo pouco ou nenhum esforço para serem obtidos. 


    Além disso, atualmente uma pequena porção desses alimentos contém uma densidade calórica muito alta, dificultando o mecanismo cerebral que sinaliza saciedade. 


    Assim, fica ainda mais difícil regular nosso comportamento alimentar, fazendo com que, quase inconscientemente, busquemos porções cada vez maiores e mais frequentes desses alimentos. 


    Compreender essa dinâmica é fundamental não só para profissionais de saúde individualmente, mas também para a saúde pública como um todo, já que lidar com essa realidade exige ações concretas e estratégicas para reduzir a prevalência da obesidade na sociedade. 

    O que são fenótipos alimentares? 

    Os fenótipos alimentares são diferentes padrões de comportamento relacionados à alimentação. Cada pessoa pode apresentar mais de um fenótipo, mas geralmente possui maior tendência a um deles. 


    Os principais fenótipos alimentares são: 


    • Comer emocional: a pessoa come para regular emoções, sejam elas negativas (tristeza, ansiedade, irritação) ou positivas (alegria, comemoração). 
    • Comer hiperfágico: caracteriza-se por comer em grandes quantidades, acima da média. 
    • Comer hedônico: está ligado ao prazer intenso e à fissura por alimentos específicos, gerando comportamentos semelhantes a uma dependência. 
    • Comer desorganizado: reflete falta de planejamento, levando a escolhas alimentares improvisadas, geralmente não saudáveis. 
    • Comer compulsivo: caracteriza-se por impulsividade e descontrole, sem seletividade dos alimentos. 


    Reconhecer esses fenótipos permite personalizar intervenções e tratamentos, sejam eles comportamentais, cognitivos ou medicamentosos. 


    Quando a abordagem terapêutica é adaptada ao fenótipo alimentar predominante, os resultados são significativamente melhores. 


    Por exemplo, pessoas com um padrão hiperfágico respondem melhor a medicamentos que reduzem o apetite, enquanto pessoas com padrão hedônico podem se beneficiar de medicamentos que atuam no sistema dopaminérgico. 


    É importante entender que ter determinado fenótipo não significa necessariamente que exista um transtorno alimentar ou uma patologia. 


    Esses padrões refletem tendências pessoais, que podem variar ao longo da vida e de acordo com o contexto vivido. 

    Qual a influência do estresse crônico no comportamento alimentar?

    Vivemos atualmente sob altos níveis de estresse crônico, o que afeta diretamente nosso comportamento alimentar, mesmo quando não temos um diagnóstico formal de transtorno alimentar. 


    O estresse constante altera o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), aumentando a produção do cortisol, hormônio relacionado à preparação do corpo para enfrentar situações de ameaça. 


    O cortisol elevado não apenas modifica hormônios que controlam o apetite e o metabolismo energético, mas também prejudica a qualidade do sono, outro fator crucial para regular a fome e a saciedade. 


    Pessoas em estado de alerta constante tendem a desenvolver padrões alimentares hiperfágicos e hedônicos, buscando alimentos mais calóricos e ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sal. 


    Em situações pontuais (estresse agudo), alimentos altamente calóricos podem até ajudar momentaneamente na regulação emocional. 


    No entanto, quando o estresse se torna crônico, esses mesmos alimentos intensificam ainda mais a desregulação metabólica, resultando em ganho de peso e aumentando o risco de problemas como apneia do sono. 


    Por isso adotar estratégias para reduzir o estresse diário é um passo importante para prevenir e gerenciar problemas alimentares e suas consequências para a saúde física e mental. 

    Por que não devemos reduzir a obesidade a uma questão de força de vontade? 

    É importante compreender a obesidade como uma doença complexa, multifatorial, e não apenas como falta de força de vontade ou disciplina. 


    A obesidade está associada a uma série de alterações no cérebro e no organismo, dificultando significativamente o controle do comportamento alimentar. 


    Pessoas com obesidade frequentemente apresentam dificuldades em controlar impulsos, regular emoções e resistir a alimentos altamente palatáveis, características que podem tanto contribuir para o ganho de peso quanto ser consequência dele. 


     Além disso, pessoas com obesidade podem desenvolver alterações estruturais e funcionais no cérebro, incluindo uma inflamação de baixo grau que afeta as áreas relacionadas à recompensa, impulsividade e memória. 


    Tais mudanças tornam ainda mais difícil adotar hábitos alimentares saudáveis e seguir planos de tratamento. 


    Outro conceito fundamental é o set point hipotalâmico, uma espécie de "termostato cerebral" que regula o peso corporal. 


    O cérebro tende a preservar o peso mais alto já alcançado durante a vida. Por isso, após emagrecer, nosso organismo ativa diversos mecanismos hormonais e metabólicos para recuperar o peso perdido. 


    Quanto mais rápida e drástica for a perda de peso, mais forte será a reação do cérebro em tentar retornar ao peso anterior. 


    Compreender esses mecanismos é essencial para reduzir o estigma associado à obesidade e adotar abordagens terapêuticas mais empáticas, humanizadas e eficazes. 


    Não se trata apenas de dieta e exercício físico: o tratamento da obesidade precisa levar em conta a complexidade cerebral, hormonal e emocional envolvida nesse processo. 

    Qual a definição de obesidade? 

    Atualmente, a obesidade é diagnosticada principalmente pelo Índice de Massa Corporal (IMC): valores acima de 30 indicam obesidade. 


    Mas há discussões recentes sobre a necessidade de incluir outros critérios diagnósticos, como a relação cintura-altura e marcadores metabólicos, além da classificação de gravidade baseada em comorbidades associadas (Classificação de Edmonton). 


    O conceito de set point hipotalâmico, aliás, ajuda a entender por que muitas pessoas enfrentam o reganho de peso. 


    Mesmo após cirurgias bariátricas ou tratamentos medicamentosos, o cérebro mantém seu registro do peso mais alto já alcançado, tornando a manutenção do novo peso um desafio constante. 


    Por esse motivo, a obesidade é hoje reconhecida como uma doença crônica e progressiva, exigindo tratamentos contínuos semelhantes aos usados em outras condições crônicas, como hipertensão ou diabetes. 


    Além disso, discute-se cada vez mais o conceito de "obesidade controlada", ou seja, um estado no qual mesmo que o peso não chegue ao IMC ideal, os marcadores metabólicos e a saúde geral estejam adequados. 

    Que estratégias usar para mudar um comportamento alimentar disfuncional?

    Além do tratamento medicamentoso e das mudanças básicas no estilo de vida (sono, alimentação saudável, manejo de estresse, atividade física), as técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e o mindfulness são estratégias valiosas no tratamento da obesidade e problemas relacionados ao comportamento alimentar. 


    Na prática clínica, o ponto de partida é sempre entender profundamente o padrão individual de cada paciente. 


    Por isso, ferramentas como o diário alimentar são fundamentais não apenas para monitorar o que é consumido, mas principalmente para identificar quando, como e por que se come: fome física, emoções específicas, estresse, gratificação ou hábito. 


    Conhecer esses padrões detalhadamente é o primeiro passo para promover mudanças eficazes. 


    Com base nesse entendimento, podem ser aplicadas diferentes estratégias terapêuticas, como: 


    • Ativação comportamental: para estimular hábitos mais saudáveis e combater o sedentarismo. 
    • Técnicas de regulação emocional: como exercícios de respiração diafragmática e relaxamento muscular, úteis especialmente em pessoas com "comer emocional". 
    • Estratégias cognitivas: identificação e questionamento de pensamentos automáticos que levam ao consumo exagerado ou inadequado de alimentos. 
    • Planejamento e estruturação da rotina alimentar: estabelecendo horários, frequência e composição adequada das refeições, o que reduz episódios compulsivos ou desorganizados. 
    • Técnicas de mindfulness e aceitação: promovem maior consciência e atenção plena à alimentação, diminuindo comportamentos automáticos e impulsivos. 
    • Autocompaixão e aceitação: ajudam o paciente a lidar com recaídas, fracassos temporários ou dificuldades no processo de mudança, minimizando sentimentos de culpa e vergonha. 


    Por fim, o atendimento humanizado, acolhedor e livre de julgamentos é fundamental para o sucesso do tratamento, especialmente quando há dificuldades na adesão ou momentos de recaída. 


    Construir uma relação terapêutica baseada em confiança, empatia e compreensão das dificuldades individuais pode fazer toda a diferença nos resultados. 

    Perguntas frequentes

    Por que comemos mesmo quando não estamos com fome?

    Comemos por vários motivos além da fome fisiológica: emoções, convivência social, rotina de trabalho ou simplesmente prazer. Reconhecer essas motivações ajuda a entender nosso comportamento alimentar e melhorar nossa relação com a comida. 

    Como o cérebro regula nosso comportamento alimentar?

    O hipotálamo controla fome e saciedade, enquanto o sistema límbico busca prazer. Já o córtex pré-frontal ajuda a tomar decisões conscientes. A interação entre essas áreas e hormônios como grelina e leptina influencia o que, quando e quanto comemos. 

    Por que alimentos ultraprocessados são tão difíceis de resistir?

    Esses alimentos combinam açúcar, gordura e sal em alta densidade calórica, ativando intensamente o sistema de recompensa do cérebro. Isso gera prazer imediato e estimula o consumo repetido, dificultando o controle da saciedade. 

    O que são fenótipos alimentares?

    São padrões individuais de comportamento alimentar, como: comer emocional, hiperfágico, hedônico, desorganizado ou compulsivo. Identificar o fenótipo ajuda a personalizar tratamentos e aumentar a eficácia das intervenções. 

    Qual o impacto do estresse crônico na alimentação?

    O estresse constante eleva o cortisol, que afeta o apetite, o sono e o metabolismo. Isso pode levar a padrões alimentares desregulados, como comer por impulso ou buscar alimentos calóricos como forma de compensação emocional. 

    Por que não devemos reduzir a obesidade a uma questão de força de vontade?

    Obesidade é uma condição crônica, complexa e multifatorial. Envolve alterações hormonais, cerebrais e emocionais que dificultam o controle alimentar. Força de vontade sozinha não resolve: é preciso tratamento multidisciplinar e empatia. 

    O que é o set point hipotalâmico e por que ele importa?

    É uma espécie de “peso mínimo registrado” pelo cérebro. Quando emagrecemos, o corpo tende a recuperar o peso perdido para retornar a esse ponto. Por isso, manter o emagrecimento exige estratégias sustentáveis e de longo prazo. 

    Como a obesidade é diagnosticada atualmente?

    O diagnóstico é feito principalmente pelo IMC (acima de 30), mas também considera medidas como cintura-altura, marcadores metabólicos e a Classificação de Edmonton, que avalia a gravidade com base em comorbidades associadas. 

    Quais estratégias ajudam a mudar comportamentos alimentares disfuncionais?

    Além de medicamentos e ajustes no estilo de vida, ferramentas como diário alimentar, TCC, mindfulness, regulação emocional, planejamento de refeições e autocompaixão são eficazes para promover mudanças sustentáveis. 

    Como profissionais podem atuar com acolhimento e empatia no tratamento da obesidade?

    Com escuta ativa, sem julgamento e com foco na individualidade do paciente. Relações terapêuticas baseadas em confiança e empatia fortalecem a adesão ao tratamento e ajudam a superar recaídas e dificuldades com mais resiliência. 

    *Este conteúdo foi produzido com o apoio de IA. 

    Por Redação

    Gostou deste conteúdo? Compartilhe com seus amigos!

    A purple and pink poster that says curadoria de conteudo exclusivos sobre saúde mental

     

    Assine a News da Pós para ficar por dentro das novidades


    Receba conteúdos sobre:


    • tendências de mercado
    • formas de escalar sua carreira
    • cursos para se manter competitivo.


    Quero receber

    Conteúdo Relacionado

    Um anúncio de um livro intitulado entrevista motivacional