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Arquitetura e Sustentabilidade

Mario Figueroa: “Hoje é impossível pensar em uma arquitetura que não seja sustentável” [A Prévia]

Por Olívia Baldissera   | 

A forma como a arquitetura e o urbanismo podem contribuir no combate às mudanças climáticas foi discutido do segundo dia do evento online “A Prévia”, transmitido na última quinta-feira (11) no canal do YouTube da Pós PUCPR Digital.

Com o tema “Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo”, o encontro virtual contou com as palestras do arquiteto Mario Figueroa e do sócio da Artesano Urbanismo Marcelo Willer, ambos professores convidados da Pós PUCPR Digital.

O evento também marcou o lançamento do curso Urbanismo e o Futuro das Cidades: Planejamento Inteligente e Impactos Socioambientais. No início da transmissão, as coordenadoras Cleusa de Castro e Mônica Prosdocimo explicaram a proposta de cada uma das especializações.

Confira um resumo da primeira palestra de “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo”, proferida por Mario Figueroa, arquiteto com mais de 30 anos de atuação em projetos e pesquisa. O conteúdo do evento foi adaptado para dar mais fluidez à leitura:

O papel da arquitetura nos futuros possíveis

  1. Terra: materiais renováveis
  2. Fogo: energia limpa
  3. Água: aproveitamento de água
  4. Ar: conforto ambiental
  5. Humano: viver coletivamente
  6. Tecnologia: novos processos

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O papel da arquitetura nos futuros possíveis

O arquiteto Mario Figueroa iniciou sua fala com uma breve contextualização do impacto da ação humana no planeta. Um dado alarmante mostrado por ele foi o déficit ambiental causado pela humanidade a partir de 1971, quando o impacto humano superou a capacidade da Terra de se regenerar.

Para o professor convidado da Pós PUCPR Digital, a urgência em alterar o modo de vida da sociedade para mitigar os efeitos das mudanças climáticas deve incentivar uma onda de inovação ancorada na sustentabilidade – seguindo a lógica das Ondas de Schumpeter, modelo que dita que os negócios vivem ondas de inovação.

A partir dessa introdução, Figueroa apresentou projetos de arquitetura ao redor do mundo que recorreram a soluções sustentáveis, combinando qualidade de vida com preservação do meio ambiente. Eles são exemplos de futuros possíveis para o modo de vida da sociedade, atualmente baseada na extração desenfreada de recursos naturais.

Esses projetos foram divididos em seis categorias pelo professor, que as nomeou com os elementos que alteram o espaço: terra, fogo, água, ar, ser humano e tecnologia.

O arquiteto Mario Figueroa no evento online “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo” da Pós PUCPR Digital. Reprodução YouTubeO arquiteto Mario Figueroa no evento online “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo” da Pós PUCPR Digital. Reprodução YouTube

1. Terra: materiais renováveis

Mario Figueroa questionou os materiais escolhidos na construção civil, que deveriam ser renováveis. Ele citou como exemplos a madeira laminada e o bambu, que permitem abordagens transformadoras e acessíveis em grandes escalas.

Quem os usa com maestria, segundo professor, é a arquiteta canadense Elora Hardy, conhecida internacionalmente pelos projetos com bambu em Bali, na Indonésia. O material é bastante tradicional e acessível na região, sendo um exemplo de arquitetura sustentável. Para o arquiteto, a sustentabilidade deve mais ser vista como um diferencial de um projeto, mas como algo obrigatório.

“Hoje é impossível um arquiteto, em qualquer lugar do planeta, pensar em uma arquitetura que não seja sustentável. A sustentabilidade nos projetos deve ser vista como algo natural e não como uma novidade, um nicho de mercado.”, afirmou Mario Figueroa.

2. Fogo: energia limpa

Como exemplo de tecnologia de energia limpa aplicada em projetos arquitetônicos, Figueroa falou sobre as placas fotovoltaicas. Hoje elas já ganharam escala e estão mais acessíveis, sendo usadas em fazendas solares como as do Deserto do Atacama, no Chile.

O professor ressaltou que o uso de energia limpa é uma questão que se dilui na arquitetura, ou seja, as placas solares não precisam ser as protagonistas de um projeto arquitetônico nem sua aplicação deve ser alardeada. Cada projeto tem sua fonte de energia adequada, que não necessariamente deve ser a solar, mas deve ser limpa.

Um primeiro grande gesto institucional de uso de placas fotovoltaicas apontado por Figueroa foi o projeto Internationale Bauausstellung Berlin (IBA), iniciado em 1979 e concluído em 1988 na Berlim Ocidental. Um dos bairros projetados contou com edificações de teste de eficiência de novas fontes de energias, no entanto a tecnologia ainda não era integrada à estética da arquitetura.

Esse cenário mudou e, como exemplo atual, o professor citou a premiação Norman Foster Solar Awards (NFSA), que reconhece as edificações e sistemas mais eficientes do ponto de vista energético sem deixar de lado a beleza.

Outro exemplo mencionado foi o Pavilhão Endesa do Institute for Advanced Architecture of Catalonia (IAAC), de 2011. 

3. Água: aproveitamento de água

Os sistemas de reuso da água foram a solução apontada por Mario Figueroa para evitar o desperdício de recursos naturais em projetos arquitetônicos.

Os exemplos apresentados pelo professor convidado da Pós PUCPR Digital foram o Centro Educativo Burle Marx Arquitetos Associados, em Inhotim (MG), e o Indianapolis Zoo Bicentennial Pavilion, nos EUA.

4. Ar: conforto ambiental

Figueroa destacou as estratégias passivas de conforto ambiental, que nada mais são do que mecanismos naturais de condicionamento – como iluminação e ventilação naturais e cobertura vegetal.

As estratégias passivas não dependem de combustíveis fósseis para atender a demanda de conforto térmico do usuário, o que contribui para reduzir a pegada de carbono. Além disso, são mais acessíveis do ponto de vista financeiro.

O professor pontuou que esse tipo de estratégia existe há milênios, representando a inteligência máxima da arquitetura e da construção. Como exemplos, ele citou o complexo palaciano de Alhambra, em Granada, na Espanha, com seus pátios d’água; um projeto do arquiteto Kengo Kuma para um jardim japonês nos Estados Unidos; e a Casa del Silencio, projetada pelo escritório Natura Futura Arquitectura na cidade de Quevedo, no Equador. 

Interior do palácio de Alhambra, Granada. Jim Gordon/Wikimedia Commons CC BY 2.0.Interior do palácio de Alhambra, Granada. Jim Gordon/Wikimedia Commons CC BY 2.0

5. Humano: viver coletivamente

Apesar de serem consideradas um tema do urbanismo sustentável, as hortas urbanas são uma solução para reduzir o impacto das ações humanas na natureza, por representarem uma diminuição da dependência de combustíveis fósseis no transporte de alimentos.

“Não consigo ver um futuro sem cidades que requalifiquem arquiteturas e sem arquiteturas que requalifiquem cidades”, refletiu Figueroa.

A Nature Urbaine, maior fazenda urbana do mundo, com 14 mil m², localizada em Paris, é um ótimo exemplo desse fenômeno do ponto de visa do professor. As hortas urbanas de Sidney são outra manifestação dessa mudança de cultura, que aproveita o espaço das coberturas das edificações para promover um modo de vida mais sustentável. 

Nature Urbaine, maior horta urbana do mundo, em Paris. Divulgação/Paris Tourist Office.Nature Urbaine, maior horta urbana do mundo, em Paris. Divulgação/Paris Tourist Office

6. Tecnologia: novos processos

No último tópico de sua fala, Mario Figueroa defendeu a importância de pensar e fazer diferente, de não se acomodar aos meios produtivos tradicionais impostos pela Revolução Industrial, que são extremamente poluentes.

Um grande problema decorrente dessa forma de produção é o lixo. Uma forma de mudar esse paradigma é encará-lo como uma nova fonte de energia e de produtos, como fizeram os escandinavos no projeto do CopenHill BIG, em Copenhagen. Além de uma usina de energia, o antigo lixão virou um centro de recreação urbana.

CopenHill BIG, em Copenhagen. Kristoffer Dahl/News Øresund CC BY 3.0CopenHill BIG, em Copenhagen. Kristoffer Dahl/News Øresund CC BY 3.0

O lixo pode ser transformado em novos materiais de construção, como tijolos de PET e de bagaço de cana. Para o professor convidado da Pós PUCPR Digital, em cada canto do planeta há pessoas que pensam em como transformar resíduos em algo produtivo, que gera empregos e recursos.

As obras do arquiteto Diébédo Francis Kéré são referência dessa busca para Figueroa, ao utilizar recursos disponíveis no território de Burkina Faso. Nos projetos de Kéré são usados materiais como terra, cerâmica, metal e taipa, e todo o desenho é pensado para as condições ambientais naturais do terreno.

“Ampliar o acesso à arquitetura e ao urbanismo é fundamental para conseguirmos transformar o planeta e, assim, termos um futuro.”, concluiu Mario Figueroa.

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O evento “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo” foi 100% online e gratuito, com emissão de certificados. Confira as principais ideias discutidas nos dois dias de evento:

>>> Elbia Gannoum: “A transição energética é irreversível, irrevogável e irretratável”

>>> Marcelo Willer: “O planejamento urbano deve envolver toda a sociedade”

Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora, é apaixonada por pesquisa, planejamento e conteúdo. Contribui para o blog da Pós PUCPR Digital desde 2021.

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