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Arquitetura e Sustentabilidade

Marcelo Willer: “O planejamento urbano deve envolver toda a sociedade” [A Prévia]

Por Olívia Baldissera   | 

Um exemplo do impacto positivo da participação ativa da sociedade na construção de cidades sustentáveis concluiu o segundo dia do evento online “A Prévia”, transmitido no canal do YouTube da Pós PUCPR Digital na última quinta-feira (11).

O caso de revitalização do Rio Pinheiros, em São Paulo, foi analisado pelo arquiteto urbanista e sócio da Artesano Urbanismo Marcelo Willer na segunda palestra do encontro virtual, que teve como tema “Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo”. A primeira palestra do evento foi proferida pelo arquiteto Mario Figueroa.

Além das palestras, foi realizado o lançamento de dois novos cursos da Pós PUCPR Digital: Tendências em Arquitetura: Arte, Tecnologia e Impacto Socioambiental e Urbanismo e o Futuro das Cidades: Planejamento Inteligente e Impactos Socioambientais. No início da transmissão, as coordenadoras Cleusa de Castro e Mônica Prosdocimo explicaram a proposta de cada uma das especializações, que têm Willer e Figueroa como professores convidados.

Confira um resumo da segunda palestra de “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo”, proferida por Marcelo Willer. O conteúdo do evento foi adaptado para dar mais fluidez à leitura:

O planejamento urbano para as cidades atuais
O urbanismo regenerativo 
O caso do Rio Pinheiros 
O que você vai aprender na pós em Urbanismo e o Futuro das Cidades: Planejamento Inteligente e Impactos Socioambientais 

Acelere sua carreira com os cursos da Pós PUCPR Digital!

O planejamento urbano para as cidades atuais

Com a proposta de fazer uma provação sobre o futuro do urbanismo, Marcelo Willer fez uma contextualização do processo de urbanização global e local, partindo do século 19 e da Revolução Industrial.

Ele analisou o fenômeno da urbanização do século 20, alicerçado na ideia de que o ser humano conseguiria dominar a natureza por meio da tecnologia e fazê-la trabalhar para ele. Algumas das consequências desse pensamento foram a abertura de estradas, a criação de cidades e o acentuado êxodo rural no Brasil. Estima-se que 36% da população do país vivia nas cidades em 1950 e, hoje, esse número se aproxima a 90%.

Com a mecanização do campo e a industrialização da economia, cada vez mais pessoas migraram para as cidades em busca de trabalho e uma melhor qualidade de vida, em especial para São Paulo.

O que se viu na capital paulista a partir desse fenômeno foi o surgimento de bairros com urbanização informal. Willer observou que os governos municipal e estadual nas últimas décadas não investiram em infraestrutura para receber as pessoas que chegavam à cidade para trabalhar, em especial nas décadas de 1970 e 1980, o que gerou uma grande dívida urbanística e social. 

“O planejamento urbano feito pelas prefeituras e órgãos governamentais é insubstituível, pois eles têm de mediar as necessidades das pessoas e os espaços da cidade. No entanto, essas entidades sozinhas não dão conta de responder as questões complexas que as cidades colocam, que envolvem aspectos sociais, ambientais e físicos de viabilidade e infraestrutura.”, explicou Willer.

Para o professor convidado da Pós PUCPR Digital, o planejamento urbano deve ter uma perspectiva multidisciplinar e envolver outros agentes da sociedade, como empresas, organizações não governamentais e representantes das comunidades.

O arquiteto urbanista Marcelo Willer no evento online “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo” da Pós PUCPR Digital. Reprodução YouTubeO arquiteto urbanista Marcelo Willer no evento online “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo” da Pós PUCPR Digital. Reprodução YouTube

O urbanismo regenerativo

O tópico seguinte abordado por Marcelo Willer foi o urbanismo regenerativo. Para entrar no tema, ele apresentou um vídeo do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) de maio de 2023: 

Para Willer, o vídeo resume o olhar que devemos ter para as cidades na atualidade, marcada pelas mudanças climáticas e pelos esforços da humanidade em repensar a forma como se relaciona com o planeta. 

“Temos que cuidar das cidades, da pobreza, da educação e da saúde, mas sabendo que, se não olharmos para o planeta, todo esse esforço vai se perder muito rápido”, ressaltou Marcelo Willer.

O professor reforçou o argumento ao mostrar um gráfico com a variação da temperatura global entre 1860 e 2020. Nos últimos 30 anos houve uma aceleração no aumento das temperaturas, o que aumentou a preocupação de adotar práticas produtivas mais sustentáveis:

variacao-temperaturas-globaisReprodução YouTube Pós PUCPR Digital

O aumento das temperaturas e, consequentemente, as mudanças climáticas afetam principalmente as cidades, que são responsáveis por 80% das emissões dos gases do efeito estufa (GEE). Quase metade (38%) vem da construção civil após a entrega das obras, com o uso cotidiano das edificações.

No contexto atual, Willer não acredita que seja possível reverter as mudanças climáticas nem bater a metas do Acordo de Paris de um aumento global de temperatura de até 1,5°C. Reduzir a emissão ou neutralizar o carbono não é mais suficiente, devido à grande proporção que os problemas ambientais ganharam na segunda metade do século 20.

Para ele, é preciso acontecer uma mudança de paradigma na economia, que deve ser pautada em processos regenerativos. Isso significa que, além de eliminar as formas de produção baseadas em combustíveis fósseis, a humanidade deve iniciar processos para reverter os impactos negativos que gerou para o planeta. 

O caso do Rio Pinheiros

Como conclusão da palestra, Marcelo Willer analisou o projeto de revitalização do Rio Pinheiros, em São Paulo, que, para ele, é um exemplo de como a sociedade como um todo (e não apenas os governos) pode solucionar problemas de urbanização.

O processo de assoreamento e de poluição do rio começou em 1928, quando foram iniciadas obras de canalização para direcionar a água à Represa Billings. A inauguração do ramal de Jurubatuba da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1957, e da Marginal Pinheiros, em 1970, acentuaram a extinção das matas ciliares e da vegetação natural do rio. O despejo de esgoto doméstico e de resíduos industriais piorou a situação. 

Rio Pinheiros em 1929 e em 2010. Domínio PúblicoRio Pinheiros em 1929 e em 2010. Domínio Público

Em 1999, o estado de São Paulo iniciou o Projeto Pomar, com o objetivo de recuperar a vegetação nativa de trechos do Rio Pinheiros. Mas a revitalização da região só aconteceu de fato, de acordo com Willer, quando a população voltou a frequentar as margens do rio depois de 50 anos.

Os paulistanos se mobilizaram pela despoluição das águas e fizeram o governo de São Paulo implantar o projeto de revitalização atual, chamado de “Novo Rio Pinheiros”, que inclui a conexão de imóveis à rede de esgoto, a remoção de lixo e a criação de espaços públicos de lazer.

O projeto ainda está em andamento, mas já trouxe bons resultados para a região e incentivou as comunidades de outros bairros a exigirem da prefeitura e do governo do estado a limpeza dos córregos.

Para Marcelo Willer, a revitalização do Rio Pinheiros pode ser considerada um projeto de regeneração, apesar de o espaço ainda estar isolado pelas marginais e pelo concreto da cidade. 

“A reversão do desastre climático depende de grandes acordos globais e dos governos, mas eles precisam que a sociedade os direcione a um caminho mais ágil e agressivo de mudança. A escala local é um impulsionador desse processo de reversão.”, concluiu Willer.

O que você vai aprender na pós em Urbanismo e o Futuro das Cidades: Planejamento Inteligente e Impactos Socioambientais

Como o professor Marcelo Willer destacou na palestra, a discussão sobre o urbanismo regenerativo foi uma prévia do que os estudantes vão aprender na pós-graduação em Urbanismo e o Futuro das Cidades: Planejamento Inteligente e Impactos Socioambientais da Pós PUCPR Digital.

Todas as disciplinas são 100% online e são ministradas por professores referência em planejamento urbano, dentro e fora do país. Além de Marcelo Willer, o pesquisador do Senseable City Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Fábio Duarte, faz parte do corpo docente.

O conteúdo da especialização foi cocriado em parceria com pesquisadores, especialistas e profissionais referência em arquitetura e urbanismo.

Confira o que você vai aprender na pós em Urbanismo e o Futuro das Cidades: Planejamento Inteligente e Impactos Socioambientais:

  • Arquitetura e os Ícones nas Cidades
  • Regulamentação e Desregulamentação
  • Mobilidade Urbana: Projetos
  • Questões Sociais e seus Impactos nas Cidades
  • Escalas de Planejamento
  • Cidades Inteligentes e Inclusivas
  • Soluções Inteligentes para as Cidades
  • Mobilidade Urbana: Planejamento
  • Questões Ambientais e Seus Impactos nas Cidades
  • Governança: Desigualdade e Insurgência Urbana
  • Transformação Digital e Soluções para as Cidades, com Fábio Duarte
  • Admirável Futuro Novo, com Yuval Noah Harari
  • Ética: Inteligência Moral na Era Digital, com Clóvis de Barros Filho 

Inscreva-se no curso Urbanismo e o Futuro das Cidades: Planejamento Inteligente e Impactos Socioambientais da Pós PUCPR Digital!


O evento “A Prévia: Projetos de Futuro em Arquitetura e Urbanismo” foi 100% online e gratuito, com emissão de certificados. Confira as principais ideias discutidas nos dois dias de evento:

>>> Elbia Gannoum: “A transição energética é irreversível, irrevogável e irretratável”

>>> Mario Figueroa: “Hoje é impossível pensar em uma arquitetura que não seja sustentável”

Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo da Pós PUCPR Digital.

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