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Os desafios da transição energética no Brasil e no mundo foram tema do evento online “A Prévia: Geração de Oportunidades em Energia e Novos Negócios” , transmitido na última quarta-feira (10) no canal do YouTube da Pós PUCPR Digital.
Durante uma hora, a CEO da Associação Brasileira de Energia Eólica e professora convidada da Pós PUCPR Digital , Elbia Gannoum, e o professor e pesquisador da PUCPR, Ricardo Nabhen, comentaram a atenção que o mercado tem dado às práticas ESG, o papel do Brasil no processo de transição energética e as consequências da Guerra da Ucrânia na adoção de uma economia verde na Europa.
O encontro marcou o lançamento da pós-graduação Transição Energética: Novos Negócios e o Futuro da Energia da Pós PUCPR Digital.
Confira um resumo do que foi discutido em “A Prévia: Geração de Oportunidades em Energia e Novos Negócios”. O conteúdo do evento foi adaptado para dar mais fluidez à leitura:
A professora Elbia Gannoum começou sua participação com uma contextualização sobre a importância da transição energética para superarmos as mudanças climáticas, especialmente em um cenário onde a energia representa 75% das emissões dos gases do efeito estufa (GEE) em uma escala global.
Ao falar em “energia”, Gannoum explicou que estava se referindo à toda cadeia de produção e consumo, das fontes não renováveis (como no caso dos combustíveis fósseis) à conta de luz que chega às nossas casas.
Para ela, é preciso tratar a questão da energia para construir uma economia de baixo carbono ou de Net Zero até 2050, uma das metas do Acordo de Paris.
Uma economia de baixo carbono é baseada no uso de fontes de energia renováveis e no mercado de carbono, com o intuito de limitar as emissões de GEE e, assim, frear as mudanças climáticas.
Já o Net Zero (termo que vem da expressão “net zero carbon emissions”, ou “zero emissões líquidas de carbono”, em tradução livre) é um compromisso global de reduzir as emissões de GEE geradas de forma direta e indireta na cadeia produtiva, o que inclui o emissor, seus fornecedores e seus clientes.
💡 A transição energética é um processo de mudança do modelo de produção, distribuição e consumo de energia dentro de uma matriz energética. Por meio da adoção de fontes de energia renováveis e limpas, esse processo visa à redução das emissões de GEE, à diminuição da dependência de combustíveis fósseis e à descentralização da geração de energia nos âmbitos regionais, nacionais e internacionais.
Continuando sua fala, Elbia Gannoum ressaltou que, apesar de ser repleta de desafios, a transição energética traz oportunidades de negócios, que devem contribuir com a necessidade de mover a sociedade para uma economia de baixo carbono. Esses negócios podem ter origem na produção, na distribuição e no consumo de energia.
“Hoje vivemos em uma sociedade cuja economia é baseada no uso de combustíveis fósseis, como o petróleo e o gás natural. Passar para uma economia de baixo carbono não significa abandonar os hidrocarbonetos como fontes de energia, mas adotar tecnologias que os impeçam de emitir o CO 2 , ou seja, mecanismos de captura de carbono”, explicou Gannoum.
A professora convidada da Pós PUCPR Digital citou como exemplo os Estados Unidos, que já investem nessas tecnologias, chamadas de CCS ou CCUS. As siglas, em inglês, referem-se a “Carbon Capture and Storage” e “Carbon Capture, Utilisation and Storage”, respectivamente.
Usada principalmente na indústria e em outros setores que emitem GEE em grande escala, a tecnologia CCS se baseia na captura do CO 2 produzido na queima de combustíveis fósseis antes que ele chegue à atmosfera, armazenando-o em sua forma líquida em reservatórios subterrâneos.
Outra estratégia citada pela professora para se chegar a uma economia de baixo carbono é o investimento no desenvolvimento de fontes de energia renováveis. Algumas delas são:
Gannoum frisou que as energias renováveis já são competitivas em relação aos combustíveis fósseis no quesito de custos, em especial no Brasil, cuja matriz energética é fundamentada em fontes renováveis – a hidráulica corresponde a 64,9% da nossa matriz, de acordo com o Balanço Energético Nacional Interativo feito pelo governo.
Além das oportunidades de novos negócios, Elbia Gannoum pontuou que a transição energética estimula a criação de novas profissões e a geração de empregos.
A CEO da Associação Brasileira de Energia Eólica e professora convidada da Pós PUCPR Digital, Elbia Gannoum
A professora convidada da Pós PUCPR Digital destacou a eficiência do hidrogênio verde na substituição dos combustíveis fósseis como fontes de energia.
O hidrogênio verde é feito a partir da eletrólise da molécula da água (H 2 O), sem o uso de combustíveis fósseis. A eletricidade necessária para quebrar a molécula deve vir de uma fonte renovável, como a eólica ou a solar.
No entanto, sua produção em larga escala ainda enfrenta desafios, como a redução de custos, a disponibilidade de energia renovável e o desenvolvimento de infraestrutura adequada para seu transporte e armazenamento.
“Os investimentos que acontecem hoje em tecnologia para ganho de escala e redução de custo serão a resposta para a transição energética até o final desta década. Os ganhos devem aparecer nos próximos 3 a 5 anos, quando a sociedade estará apta ao uso efetivo do hidrogênio verde.”, previu Elbia Gannoum.
Estima-se que até 2040 o hidrogênio verde será usado em larga escala, o que deve diminuir a representatividade do setor de energia nas emissões de GEE. Para Gannoum, o Brasil pode se tornar protagonista no processo de transição energética global, pois é capaz de produzir o hidrogênio verde mais competitivo do mundo, devido à abundância de recursos naturais para produzir energia limpa.
>>> Leia também: As dimensões e os pilares da sustentabilidade
Após a contextualização sobre o estágio atual da transição energética, o público pode fazer perguntas aos professores Elbia Gannoum e Ricardo Nabhen. Confira as principais:
A primeira pergunta tratava da Guerra da Ucrânia e o impacto de conflitos globais no processo de transição energética. Ela teria seu alcance diminuído? Isso prejudicaria a agenda de ter uma neutralidade de carbono até 2050? Haveria uma preocupação maior em ter segurança energética?
Elbia Gannoum avaliou que, mesmo neste contexto de conflito, a transição energética é irreversível, irrevogável e irretratável.
“A partir do momento que o clima toma uma dimensão econômica, que tem impactos financeiros, em especial para os grandes investidores globais, e afeta a taxa de retorno do capital, aí, sim, haverá transição energética”, afirmou.
A professora listou mais dois fatores que impulsionam o processo. Um deles é a própria Guerra da Ucrânia, que mostrou aos países europeus que a transição energética é crucial tanto para a soberania nacional quanto para a segurança energética. Estima-se que 40% do gás utilizado no continente europeu vem da Rússia e a guerra fez o preço do combustível disparar.
O outro fator é o papel dos países ricos na transição energética, apesar da crise econômica decorrente da pandemia. Gannoum contou que, no Ocidente, a comunidade europeia e os Estados Unidos têm feito planos estruturados de reforma energética, focada em uma economia verde.
O European Green Deal , aprovado em 2019 na Comissão Europeia, tem como meta tornar o continente climaticamente neutro até 2050. O plano de ação tem 50 ações para reduzir as emissões de GEE que devem ser adotadas por todos os setores da economia, em especial o de transportes e de indústria.
O Green New Deal foi elaborado nos Estados Unidos no mesmo ano. A proposta é direcionar os investimentos públicos de recuperação da economia a atividades sustentáveis, direcionando paulatinamente a economia norte-americana para um modelo de baixo carbono.
A segunda pergunta abordou o armazenamento de energia. Como o setor vê a questão de armazenamento? Quais as melhores tecnologias para garantir eficiência no sistema?
Gannoum explicou que as próprias características das fontes de energia renováveis ajudam a estruturar a operação dos sistemas elétricos. Um exemplo é a energia solar: sabemos que à noite não será possível gerar energia a partir dessa fonte.
O desenvolvimento de baterias de grande porte é uma alavanca importante para estabilizar o sistema de fornecimento de energia. Estima-se que, no Brasil, a instalação dessa tecnologia em parques eólicos seja viável em 2025, do ponto de vista econômico.
Outra característica do Brasil é a representação de 60% da energia hidrelétrica no sistema energético do país, o que, do ponto de vista da professora, contribui para não precisarmos de dispositivos de armazenamento até 2030. Os reservatórios das hidrelétricas funcionariam como “baterias naturais”.
Além disso, há a complementaridade de geração de energia. No período chuvoso, a eólica gera menos energia, enquanto no período de seca, a geração é acima da média.
“O vento, o sol, a água e a biomassa trazem uma complementaridade de geração que dispensa em grande medida a necessidade de baterias”, analisou Elbia Gannoum.
Mais uma vez, a professora falou das vantagens do hidrogênio verde. Ele tem um caráter dual, ao gerar energia e, ao mesmo tempo, armazená-la. “É possível ter estações de hidrogênio que produzem e armazenam a molécula, que pode ser utilizada para gerar energia quando as fontes eólica e solar não estão disponíveis”, concluiu.
O Acordo de Paris também foi tema de perguntas do público. Para Elbia Gannoum, muitos dos pontos do documento não estão sendo cumpridos, em especial os relacionados à redução de emissões de GEE e a uma transição energética justa, o que inviabiliza o cumprimento das metas de Net Zero até 2050.
Ela enxerga algumas evoluções, como a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata sobre o mercado de carbono, mas também retrocessos. “Ajustes precisam ser feitos para alcançarmos 100% do objetivo. A governança global feita pela ONU e pelas COPs precisa ser mais bem estruturada”, avaliou.
Um aspecto positivo nos últimos anos, do ponto de vista da professora, foi a entrada do mercado financeiro na discussão, que estabeleceu regras para empréstimos a empresas socialmente e ambientalmente responsáveis.
Ao final da fala de Elbia Gannoum, o professor Ricardo Nabhen contou como vai funcionar o novo curso da Pós PUCPR Digital.
Como já está no nome, o evento foi uma prévia do que os estudantes do curso de pós-graduação em Transição Energética: Novos Negócios e o Futuro da Energia vão aprender nas aulas.
Todas as disciplinas são 100% online e são ministradas por professores referência no setor de energia. Além de Elbia Gannoum, fazem parte do corpo docente:
Os professores convidados da Pós PUCPR Digital José Goldemberg, Paulo Artaxo e Antonio Guetter
O conteúdo da especialização foi cocriado em parceria com cientistas, especialistas e profissionais referência da área de energia. O resultado é uma grade curricular completa, apoiada em três eixos temáticos: sustentabilidade, inovação e empreendedorismo.
Confira o que você vai aprender na pós em Transição Energética: Novos Negócios e o Futuro da Energia :
O evento “A Prévia: Geração de Oportunidades em Energia e Novos Negócios” foi 100% online e gratuito, com emissão de certificados. Confira as principais ideias discutidas nos dois dias de evento:
Por okleina
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