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Yuval Noah Harari

Baseado em evidências: como prever o futuro se tornou uma ciência

Por Olívia Baldissera   | 

Você tem a impressão de que prever o futuro é algo meio místico? Pois saiba que este tema que sempre intrigou a humanidade ganhou ferramentas científicas e, hoje, tem um campo do conhecimento para chamar de seu.

São os future studies, que também são chamados de futurologia. O termo engloba pesquisas de mercado, coolhunting e análise de tendências. Neste artigo, você entenderá como prever o futuro se estabeleceu no meio acadêmico, além de conhecer as ideias de um dos futurólogos mais conhecidos da atualidade.

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O que significa futurologia

A futurologia é um campo multidisciplinar que estuda tendências para prever acontecimentos futuros. Os pesquisadores analisam descobertas científicas, avanços tecnológicos, episódios históricos e ações políticas para criar cenários hipotéticos, com o objetivo de orientar ações no presente. É uma área que trabalha com a possibilidade, por isso futurólogos sérios têm consciência de que nem sempre acertarão todas as previsões.

O campo da futurologia não trabalha com um futuro único, monolítico, mas com futuros plurais, alternativos e plausíveis. Ele tenta oferecer uma perspectiva holística e sistêmica, com base em evidências encontradas em diferentes disciplinas. Estas são resumidas na sigla em inglês STEEP:

  • S: Social
  • T: Tecnológico
  • E: Econômico
  • E: Environmental (ambiental, em português)
  • P: Político

A futurologia deu os primeiros passos para se tornar um conhecimento científico após a Segunda Guerra Mundial. Nos Estados Unidos, a RAND Corporation contava com um time de futurólogos, liderado por Herman Kahn, que tinha como missão analisar a relação entre o desenvolvimento armamentista e a estratégia militar.

Neste período, Kahn desenvolveu um método de como prever o futuro para examinar as consequências de um conflito nuclear. Ele trabalhava ao lado do matemático Olaf Helmer, que também propôs uma base teórica para a futurologia.

O estudo mais conhecido do campo da futurologia é o publicado pela Comissão do Ano 2000 em 1965, que tentou antecipar padrões sociais e projetar novas instituições sociais. Outro trabalho marcante é "L’Art de la conjecture", publicado em 1964 pelo cientista social Bertrand de Jouvenel, que contribuiu com uma perspectiva filosófica para a área.

Recentemente, universidades como o MIT já têm programas de pós-graduação em future studies. Estima-se que existam 23 cursos de mestrado e doutorado em futurologia espalhados pelo mundo, além de organizações profissionais como a World Future Society, a World Future Studies Federation e a Association of Professional Futurists.

Qual o nome da pessoa que prevê o futuro?

Quem prevê o futuro com base em evidências científicas é chamado de “futurólogo”. Um pesquisador que ganhou notoriedade nos últimos anos é Yuval Harari, historiador israelense que escreveu sobre o impacto do Big Data no futuro da humanidade em "Homo Deus: uma breve história do amanhã". Ele também aborda o assunto nos cursos da Pós PUCPR Digital.

Outro futurólogo que faz parte do corpo docente da Pós PUCPR Digital é Jesper Rhode, que trabalhou por 18 anos na Ericsson e acumulou mais de 20 anos de experiência na área de tecnologia e inovação. Ele é professor da disciplina Futurologia: Tendências para o século 22 do curso Gamificação, Engajamento e Marketing Digital.

Como prever o futuro com bases científicas

A futurologia conta com diferentes modelos e métodos, que ganharam ferramentas poderosas nos últimos anos com os avanços da Inteligência Artificial (IA). Aqui você encontra 3 deles.

Apesar dos futurólogos não realizarem experimentos em ambientes controlados e que podem ser repetidos, como prega o método científico clássico, eles se apoiam em técnicas científicas rigorosas emprestadas de outras disciplinas.

Os métodos de como prever o futuro das future studies mais conhecidos são:

1. Método Delphi

Desenvolvido em 1953 na RAND Corporation, o método ajuda a estruturar processos comunicacionais, o que possibilita um grupo de indivíduos a lidar com problemas complexos.

A base do método Delphi são questionários aplicados individualmente a especialistas, que respondem perguntas sobre a probabilidade, importância e implicação de fatores, tendências e eventos relacionados a um problema específico. Os especialistas depois têm acesso às respostas dos colegas, para refinar seus argumentos.

2. Causal Layered Analysis (CLA – “análise causal em camadas”, em tradução livre)

O método de como prever o futuro foi desenvolvido por Sohail Inayatullah e tem o objetivo de criar diferentes cenários, a partir da análise de eventos do presente e do passado.

O CLA está baseado na ideia de que a maneira como um problema é formulado muda as soluções políticas e as lideranças envolvidas.

3. Enviromental Scanning ("escaneamento ambiental", em tradução livre)

O método abrange tendências, eventos e ideias de um amplo leque de atividades. As informações são coletadas de fontes como jornais, redes sociais, relatórios, conferências, programas de televisão e até de livros de ficção científica.

A técnica é usada para construir um cenário compreensível de fatores que podem impactar os próximos acontecimentos. Ela trabalha com 4 indicadores principais:

  1. Sinais isolados: fatores individuais que podem indicar uma mudança;
  2. Marcos temporais: considerada eventos em diferentes segmentos de mercado e fases da vida humana;
  3. Previsões de especialistas;
  4. Descrições estatísticas.

Você encontra mais detalhes sobre métodos de como prever o futuro no livro "Futures Research Methodology — Version 3.0", de 2009.

3 previsões para o futuro de Yuval Harari

Yuval Harari é historiador por formação, o que permitiu que ele trouxesse uma abordagem histórica para a futurologia. Hoje ele é considerado um dos maiores pensadores do século 21, com mais de 30 milhões de livros vendidos e obras traduzidas para mais de 60 idiomas.

Em eventos e palestras sobre o futuro, Harari aponta três desafios existenciais para a espécie humana:

  1. Retorno da Guerra: para o historiador, vivemos a era mais pacífica da história humana. Mas isso pode acabar a qualquer momento. Basta a decisão de um indivíduo para deflagrar um conflito em um formato ainda pior e com forças mais poderosas.
  2. Colapso econômico: o colapso econômico está diretamente ligado às mudanças climáticas – que já impactam o nosso dia a dia. Para Harari, a prioridade de governos deveria ser o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.
  3. Disrupção tecnológica: os avanços tecnológicos já transformam o mundo do trabalho e da educação que conhecemos hoje. Eles poderão fazer com que uma nova classe social surja, a dos "inúteis". Isso aconteceria graças à automação e o desenvolvimento da IA. Se no passado era preciso lutar contra a exploração, hoje os profissionais lutam para serem relevantes em suas áreas de atuação.

Como lidar com estas previsões? Para Yuval Harari, a mudança é a única constante e, para lidar com ela, é necessário desenvolver a resiliência. Só ela garantirá que tenhamos a capacidade emocional de suportar transformações cada vez mais aceleradas.

Sobre o autor

Olívia Baldissera

Olívia Baldissera

Jornalista e historiadora. É analista de conteúdo da Pós PUCPR Digital.

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