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No dia 01/06/2022, aconteceu a terceira noite do Pós PUCPR Digital Trends: prepare-se para o pós.
Este é um evento que trará a contribuição de professores e profissionais renomados em diversas áreas sobre o que esperar dos próximos anos.
Na primeira fala da noite, tivemos uma aula com a professora Patrícia Peck sobre o objetivo da LGPD, que você pode conferir em síntese neste artigo .
E na segunda fala da noite, tema deste conteúdo, tivemos uma aula ministrada por Marina Cançado e uma mesa de discussão composta por Liliane Rocha e Paula Amaral .
O evento foi apresentado e mediado por Matheus Pannebecker .
Durante a fala, tivemos uma discussão muito rica sobre as práticas ESG, uma iniciativa de trazer maior consciência sobre meio ambiente, responsabilidade social e governança para organizações.
Dentre os assuntos abordados estão o que significa ser ESG, como a diversidade e a inclusão se inserem nas práticas, como começar a transformação ESG dentro de uma empresa e quais são os bons exemplos a serem seguidos.
Neste artigo, você encontrará uma síntese dos assuntos abordados pelos convidados no evento.
Marina Cançado é sócia da XP Inc. e uma das responsáveis pela agenda ESG na XP.
Organizadora da primeira conferência internacional sobre ESG no Brasil, a Converge Capital Conference, Marina foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República entre 2016 e 2018.
Tem mais de 10 anos de experiência em construção de portfólios alinhados a impacto e sustentabilidade para famílias investidoras e já fez parte das listas da Forbes Under30, 100 Inovadores pelo Clima e Mulheres para acompanhar no mercado financeiro.
É pós-graduada pela Universidade de Georgetown.
Em sua fala no Pós PUCPR Digital Trends: prepare-se para o pós , Marina Cançado falou sobre como uma empresa pode se preparar para adotar práticas ESG, o que significa fazer isso, quais organizações podem ajudar no processo e como começar a praticar o ESG.
Para iniciar sua aula no evento, a Prof. Marina começou nos trazendo o contexto em que nasceu o ESG e o que veio antes dele.
Ela falou especialmente sobre o cenário em que se encontravam as empresas nos anos 1980, 1990 e 2000, e o que motivou a discussão sobre governança corporativa e as agendas sociais e ambientais.
Nessa época, começou a acontecer o desenvolvimento do setor privado no Brasil.
Depois de um período de economia instável, a metade dos anos 1990 começou a trazer uma estabilidade que possibilitou que o setor privado se tornasse mais aberto e pujante. Em decorrência disso, os anos 2000 enxergaram a profissionalização das empresas.
Passou-se a falar sobre governança corporativa, dando início a um período de estruturação das empresas e da criação do que conhecemos hoje como uma padronização de governança.
Foi no final da década de 2000 que se começou a se falar sobre responsabilidade social, com empresas criando ou fortalecendo seus institutos empresariais.
As empresas começaram, então, a se preocupar com como elas cuidavam de seus colaboradores, como cuidavam de seu entorno, que tipo de ação filantrópica tinham, etc.
A pauta da sustentabilidade só começou a aparecer depois que a governança estava estabelecida e havia a tomada de decisão na parte social.
Para a Prof., a chegada da pauta ESG hoje reflete muito o amadurecimento que o setor privado teve nesse período.
A Prof. Marina comenta que, quando a onda ESG começou a chegar, muitas pessoas se questionaram sobre a similaridade com a sustentabilidade corporativa.
E a resposta é que ESG não é a mesma coisa que sustentabilidade corporativa porque ela acaba ampliando um pouco o olhar da empresa sobre essas questões.
A agenda ESG traz com ela não apenas a preocupação com o meio ambiente, o social e a governança, mas também a diversidade e a inclusão.
E isso não apenas dentre a força de trabalho, mas em novas perspectivas e dentro dos conselhos.
As práticas ESG não afetam apenas alguns setores ou atividades de uma organização, mas sua cultura de forma geral.
A Prof. Marina comenta que, por sua própria experiência, quando uma empresa adota o ESG, ela acaba tendo que passar por uma movimentação de rever seus valores, sua missão, rever seu comportamento, atitudes que fomenta e rever alguns conceitos para que isso se traduza em políticas, práticas e metodologias.
E devido a essa necessidade de transformação, cada instituição está encontrando sua forma própria de trabalhar com os temas trazidos pelas práticas ESG.
Segundo a Prof., é por isso que ela tem visto a aplicação do ESG em organizações como experimental no nosso país em comparação com outros países.
O importante, independentemente de como se trabalha o ESG, é ter consciência da importância que essas práticas têm, especialmente porque as empresas acabam enfrentando pressão de diversos lados por conta delas.
Marina Cançado aponta, por exemplo, que a pressão de ser mais sustentável e ter responsabilidade social pode vir dos clientes e consumidores, dos agentes reguladores e dos investidores.
A performance ESG de uma empresa, aliás, pode ser um fator decisivo para investidores. Isso porque vai depender de como essa performance é vista, se como vantagem ou desvantagem.
Marina Cançado durante o evento
A primeira dica dada pela Prof. Marina sobre como começar a implementar a agenda ESG dentro de uma organização é entendendo o que, de fato, afeta o modelo de negócio .
Isso porque é para o modelo de negócio que o mercado estará olhando.
Ele olhará para os fatores ESG materiais, ou seja, aquilo que pode afetar como o modelo de negócio gerará ganhos e novas oportunidades de negócios.
A professora também traz um exemplo.
Digamos que uma empresa está aplicando práticas de ESG na organização, mas percebe que o mercado não está reconhecendo sua performance. Onde está o problema?
Segundo Marina Cançado, a primeira parte da resposta é que a performance ESG é medida de acordo com três dimensões. Por isso, se uma empresa tem uma governança de alto nível, mas tem questões ambientais sérias, ela não será vista como um exemplo de performance ESG.
Quando se analisa esse fator, olha-se para o todo, o sistêmico, o holístico. Já a segunda parte da resposta está nos fatores que geram impacto, citados no início desta seção.
Por isso, a orientação passada pela Prof. Marina sobre por onde começar é fazendo a matriz de materialidade da empresa.
Pode-se usar um modelo pactuado globalmente que define, por setores, quais são os pontos que gerarão mais impacto e como a empresa em questão está em relação aos seus pares.
Algo interessante trazido no evento é que a agenda ESG é uma agenda relativa. Ou seja, o número absoluto de uma ação não diz nada sozinho, ele precisa ser comparado com empresas concorrentes e do mesmo setor.
Por isso, a professora afirma que é importante as empresas utilizarem a matriz de materialidade como um mapa de quais pontos focar, mas também entender o estado de sua atuação em relação aos seus pares .
Um ponto de atenção trazido por Marina Cançado é que as empresas precisam entender que a agenda ESG é uma jornada e que ela pode avançar devagar.
Ela comenta que já viu empresas quererem colocar em prática diversas ações e anunciar essas ações sem uma estruturação melhor por trás, o que acaba gerando muitas promessas, mas sem entregas.
E isso pode gerar desconfiança do público, a sensação de greenwashing . Por isso, é importante ter metas concretas e uma governança bem desenhada.
A professora afirma que não existe problema nenhum em uma empresa ir devagar nessa jornada, que o mais importante é ser honesto, transparente e consistente.
Como um bom exemplo de uma empresa que está conseguindo aplicar as práticas ESG com sucesso, a professora cita as Lojas Renner.
Durante a pandemia, a empresa demonstrou ter muito cuidado com seus colaboradores. Não demitiu e criou uma série de mecanismos de auxílio.
Além disso, existe um cuidado grande da empresa quanto aos seus fornecedores.
Boa parte de seus produtos vêm de cooperativas de costureiras do norte e nordeste do país, então eles também deram atenção a esta cadeia.
Eles também fazem diligência com fornecedores de outros países, como a China.
Quanto à preocupação com o meio ambiente, a empresa tem trabalhado bastante com matérias-primas mais sustentáveis e incentivado o upcycling.
Ou seja, além de trabalhar com algodão sustentável em grande parte de suas roupas, as Lojas Renner têm reconstruído roupas descartadas.
A Prof. Marina faz essa observação sobre a empresa porque a indústria da moda é uma das indústrias que mais gera impacto ambiental negativo. Isso porque envolve o descarte de roupas, o processo de decomposição desses elementos e uso de quantidades abundantes de água.
As Lojas Renner, como apontado pela professora, em comparado com outros varejos de roupas no brasil em práticas ESG, estão em uma posição mais vantajosa.
Marina Cançado durante o evento.
Além dos pontos trazidos acima por Marina Cançado sobre como começar a aplicar o ESG em uma empresa, ela trouxe mais uma dica valiosa.
É preciso começar devagar e cobrindo alguns pontos específicos, mas é importante que as organizações entendam que elas não estão sozinhas.
Existem diversas associações, pactuais e movimentos, nacionais e globais, que podem ajudar.
A professora cita o Sistema B , que é uma certificação em que a empresa responde uma série de questionários, passa por um caminho que envolve consultoria e é avaliada para entender se é uma empresa que gera impacto positivo.
Quando aprovada, a empresa recebe um selo que a torna uma Empresa B, que gera um grande valor para o mercado hoje em dia.
Ela também cita o Pacto Global , que é vinculado à ONU e uma congregação de empresas que por meio de seus serviços e core business, ajudam a endereçar alguns dos objetivos de desenvolvimento sustentável.
A Prof. Marina Cançado encerra sua fala no evento deixando claro que hoje, diferente de como era no início dessa jornada, existe um ecossistema pronto para ajudar.
Após a aula de Marina Cançado, Liliane Rocha e Paula Amaral participaram junto ao mediador, Matheus, de uma mesa redonda a fim de aprofundar um pouco mais as questões trazidas e para responder as perguntas dos espectadores.
Liliane Rocha é fundadora e CEO da Gestão Kairós - Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade. Atua como especialista em sustentabilidade e diversidade há 17 anos e é conselheira consultiva de diversidade em diversas empresas, como AmBev, Novelis do Brasil e Fundação Dom Cabral.
É mestre em Políticas Públicas e tem MBA em Gestão da Sustentabilidade pela FGV e é docente da pós-graduação de Sustentabilidade e Diversidade na FIA - USP e no SENAC.
Também é autora de livros, colunista e foi reconhecida como uma das 50 Mulheres de Impacto na América Latina em 2022 pela Bloomberg Línea e como uma das 101 lideranças globais de diversidade e inclusão pelo World HRD Congress.
Paula Amaral possui experiência de mais de 15 anos na prática ambiental.
Atua na assessoria jurídica em processos administrativos e judiciais, bem como na área consultiva envolvendo quaisquer questões ambientais.
Sua atuação envolve empresas nacionais e internacionais de diversos segmentos de mercado. É mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC-SP e autora de "Direito ao Meio Ambiente e Proibição do Retrocesso" (Atlas, 2014).
O mediador, Matheus Pannebecker, e as convidadas, Liliane Rocha e Paula Amaral.
Durante a mesa de discussão no Pós PUCPR Digital Trends: prepare-se para o pós , as profissionais discutiram sobre diversos assuntos envolvendo o ESG.
Confira os principais tópicos:
Liliane nos diz que a diversidade é uma característica que permeia todo o ESG, embora pareça ser algo de maior cunho social. Isso porque a diversidade também tem impactos ambientais e depende da governança.
De acordo com Paula, não existe uma legislação sobre o que é ser ESG e nem que regule quem é ESG ou não. O que existem são parâmetros e a expectativa de que empresas assumam compromissos públicos com a ESG.
Quanto aos parâmetros, muitas das métricas utilizadas por organizações estão no lado social das práticas, isso porque é uma forma mais palpável de ver resultado.
Para Liliane, o ideal é que o setor de ESG fosse independente dentro de uma empresa. Sem estar vinculado a nenhum outro setor, como marketing, por exemplo, se torna muito mais fácil arquitetar as ações de forma orgânica e autônoma.
As principais referências que temos sobre o ESG hoje vem da União Europeia, segundo Paula. Isso porque o mercado europeu está trabalhando para se tornar pioneiro no assunto, então eles acabaram se tornando um modelo seguido por todo o mundo.
De acordo com Liliane, existem pesquisas sobre o recorte da diversidade que mostram que os RHs de empresas estão conseguindo ter muito mais contratações diversas neste período de pandemia.
Ela também nos traz que se notou diminuição da emissão de gases poluentes neste período, porém isso não pode ser considerado um mérito de empresas porque as emissões apenas diminuíram porque as pessoas começaram a trabalhar de casa.
Nesse caso, deveria haver uma maneira de entender o impacto de cada indivíduo em seu home office, algo que não se sabe exatamente como fazer.
Para Paula, a pandemia trouxe diversas novidades para a regulamentação. Isso especialmente porque a União Europeia também está pensando sobre essas questões, então nós acabamos vendo novas leis ambientais no período.
Gostaríamos também de convidar você para conhecer a Pós PUCPR Digital, uma pós-graduação que conta com a chancela de uma das maiores e mais respeitadas instituições educacionais do país.
A Pós PUCPR Digital conta com um corpo docente diferenciado, com professores convidados que são referência no Brasil e no Mundo.
Confira alguns dos cursos que a Pós PUCPR Digital oferece:
Além dos cursos de pós-graduação listados acima, você também pode conferir cursos em áreas, como gestão, comunicação, humanidades, saúde e tecnologia.
Só na Pós PUCPR digital você tem acesso direto às mentes mais brilhantes do Brasil e do mundo de onde você estiver, no tempo que você tiver.
Confira aqui todos os cursos oferecidos.
Entre os dias 30 de maio e 2 de junho, aconteceu o Pós PUCPR Digital Trends , um evento que reuniu especialistas renomados para discutir tendências nos campos da inovação, tecnologia e gestão.
Durante esses dias, o público teve acesso a 7 aulas exclusivas com Yuval Harari, Martin Lindstrom, Jurgen Appelo, Luana Araújo, Patrícia Peck, Marina Cançado e Marcelo Leite, além de ter a chance de participar de mesas de discussão com especialistas, que responderam perguntas dos participantes.
O Pós PUCPR Digital Trends foi 100% online e gratuito, com emissão de certificados. Confira as principais ideias discutidas nos quatro dias de evento:
Por mfernandes
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