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Finalmente é possível comprar ações de fora do país e seus amigos não param de falar daquele BDR. Mesmo com um perfil conservador, você faz o investimento.
Mas esse ativo não faz sentido algum com a sua carteira nem com seus objetivos de longo prazo. Será que você vai perder dinheiro? Como resistir à tentação?
Todo investidor passa por essa situação em algum momento e as finanças comportamentais ajudam a entender o porquê.
A seguir você vai conhecer o conceito dessa área do conhecimento e os vieses que influenciam nossas decisões. Essas informações são fundamentais para evitar investimentos por impulso.
Confira:
As finanças comportamentais são uma área do conhecimento interdisciplinar que estuda a influência de fatores cognitivos, emocionais, culturais e sociais na tomada de decisão dos investidores. Ela engloba pesquisas nos campos da Economia, Psicologia, Neurociência, Sociologia e Antropologia.
O ramo nasceu na década de 1970 e se fortaleceu em 1990, a partir da necessidade de se revisar e aperfeiçoar o Modelo Moderno de Finanças , que não dava conta de explicar turbulências e anomalias no mercado financeiro.
Esse modelo baseia-se na ideia de que o ser humano (o homo economicus ) é totalmente racional no processo de tomada de decisão. No entanto, pesquisas na Psicologia já mostraram evidências do papel que as emoções e o contexto sociocultural têm nas ações de um indivíduo.
Assim, os pesquisadores na área de finanças comportamentais identificam e analisam padrões de comportamento de investidores que determinam movimentos de mercado.
O campo ainda é controverso, sendo motivo de debate entre pesquisadores e agentes do mercado financeiro.
As pesquisas do psicólogo israelense Daniel Kahneman foram seminais para a fundação das finanças comportamentais. Com Amos Tversky, ele publicou um artigo em 1979 sobre o comportamento do ser humano em situações de risco , apresentando os resultados de um questionário sobre situações do dia a dia do mercado financeiro.
Entre as conclusões do artigo estão:
O trabalho resultou na criação da Teoria da Perspectiva, que defende que as pessoas reagem de forma muito mais intensa à perda do que aos ganhos. Vamos falar mais sobre o conceito de aversão a perdas na seção sobre os vieses cognitivos.
Décadas de pesquisa sobre o comportamento humano levaram Kahneman a receber o Nobel de Economia de 2002.
Outro pesquisador que contribuiu para as finanças comportamentais e que também ganhou um Nobel de Economia, em 2017, é Richard Thaler. Ele trabalhou ao lado de Kahneman ao longo da década de 1980.
Thaler se destacou na área com os estudos sobre as reações do mercado financeiro após a divulgação de notícias positivas ou negativas. Ao longo de cinco anos, ele e o colega Werner De Bondt analisaram o padrão comportamental de compra e venda excessiva de ações que levava a uma oscilação vertiginosa no preço dos papéis na Bolsa de Valores de Nova York.
As conclusões foram publicadas em 1984, no artigo “Does the stock market overreact?” , considerado um dos pilares da economia comportamental.
Richard Thaler também explicou a “contabilidade mental” que fazemos com os nossos gastos mensais.
A maioria das pessoas separa mentalmente seus ativos em categorias subjetivas que são intransferíveis entre si, apesar de terem origem na mesma fonte. Isso explica porque é difícil usarmos o dinheiro que reservamos para sair no fim de semana para cobrir a manutenção do carro, por exemplo.
A contabilidade mental também explica por que conseguimos controlar melhor os nossos impulsos quando usamos dinheiro vivo e não o cartão de crédito.
Os pais das finanças comportamentais e ganhadores do Nobel de Economia Daniel Kahneman e Richard Thaler. NRKbeta/Wikimedia Commons CC 2.0; A. Mahmoud/Nobel Media AB.
Daniel Kahneman e Amos Tversky descreveram em seus trabalhos como nossos cérebros desenvolvem formas de aperfeiçoar a tomada de decisão, visando à economia de esforço cognitivo e à agilidade na resposta.
Um recurso cognitivo que usamos de forma inconsciente, de acordo com Kahneman e Tversky, é a heurística.
A heurística funciona como um atalho mental para simplificar a percepção e avaliação das informações que recebemos da realidade. Ela não está relacionada apenas à tomada de decisão nem às finanças comportamentais, mas se manifesta nas mais diversas situações de nossas vidas.
Por simplificarem o processo de tomada de decisão, as heurísticas podem nos induzir a erros de avaliação e de julgamento. Esses erros são previsíveis e constituem padrões, que são chamados de vieses cognitivos.
Saber identificá-los é o primeiro passo para evitar investimentos por impulso.
Nos materiais do programa educativo Penso, logo invisto , a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia do Ministério da Economia, divide os vieses cognitivos em três categorias: vieses de investidor , vieses de poupador e vieses do consumidor.
As listas abaixo foram preparadas a partir dos materiais da CVM. Conheça os principais vieses cognitivos que impactam as suas escolhas financeiras.
Damos mais importância às perdas do que aos ganhos. Isso nos leva a correr mais riscos para tentar minimizar prejuízos, além de nos expormos a armadilhas devido ao medo de perder boas oportunidades.
Um exemplo comum desse viés é a venda precipitada de ações promissoras, com medo de perder o que já foi ganho.
Quando somos expostos previamente a uma informação, nós a consideramos na tomada de decisão, mesmo que ela seja irrelevante para resolver a questão.
Desconsideramos a ideia de independência estatística, o que nos faz calcular de forma errada as chances de algo acontecer.
Pense em um jogo de cara ou coroa. Se na maior parte das rodadas a moeda cair com a cara para cima, tendemos a acreditar que as chances desse resultado se repetir é maior do que 50% – sendo que, na verdade, a probabilidade de sair coroa no próximo lançamento é a mesma.
Temos a tendência de interpretar informações para confirmar nossas próprias convicções, mesmo que elas tragam um conhecimento novo. Também é comum ignorarmos dados que vão contra nossas crenças e certezas.
Tem uma ligação estreita com o viés da Autoconfiança Excessiva.
Costumamos confiar em excesso em nossos próprios conhecimentos e opiniões. Também superestimamos nossa contribuição pessoal para a tomada de decisão.
Em outras palavras, há situações em que as pessoas tendem a acreditar que sempre estão certas. Quando um erro acontece, ele é atribuído a fatores externos.
Nossa capacidade de interpretar acontecimentos depende do nosso estado emocional, o que dificulta nos colocarmos no lugar de uma pessoa em um estado diferente.
O processo de tomada de decisão é afetado pela forma como um problema é formulado ou como as opções são apresentadas – ou seja, enquadradas.
É um dos vieses identificados por Daniel Kahneman e Amos Tversky no artigo de 1979.
Geralmente preferimos manter as coisas como estão, mesmo que uma mudança signifique um aumento no bem-estar. Esse viés cognitivo está relacionado ao medo do desconhecido e à aversão perda.
Sofremos menos com os malefícios gerados pela omissão do que os gerados pelas nossas ações, pois o sentimento de culpa é menor.
Tendência a subestimar o tempo, o esforço e os possíveis obstáculos de realizar uma ação. Costuma-se minimizar as chances de acontecer um imprevisto ou a dificuldade de fazer uma tarefa, pois acredita-se que ela é mais fácil do que realmente é.
Em outras palavras, costumamos a ser mais otimistas em nossos planejamentos. Isso acontece porque suprimimos de nossas lembranças as experiências ruins que tivemos ao realizar tarefas semelhantes.
Esse viés se manifesta no foco excessivo na tarefa como um todo, deixando de lado a previsão das etapas necessárias para executá-la.
Temos dificuldade em raciocinar em termos de juros compostos, o que nos leva a subestimar seus efeitos a longo prazo.
Nas finanças comportamentais, isso significa projetar retornos abaixo da realidade, o que leva algumas pessoas a deixarem de poupar.
O mesmo raciocínio vale para empréstimos. Há pessoas que contraem dívidas sem pensar nos juros.
Sabe a imagem mental que temos do avestruz, que coloca a cabeça para baixo da terra?
Ela ajuda a entender esse viés cognitivo: há pessoas que ignoram informações negativas para evitar sofrimento psicológico.
Evitar olhar a fatura do cartão de crédito e não acompanhar os próprios investimentos são exemplos bastante comuns desse comportamento.
Há situações em que subestimamos os riscos e superestimamos as chances de sucesso. Quando pensamos no futuro, por exemplo, temos propensão a achar que saudáveis, sem imaginar que um acidente possa acontecer.
Ou seja, tendemos a acreditar que o futuro será melhor do que o passado, independentemente das condições e previsões feitas pelo mercado.
É comum darmos mais importância a eventos que vão acontecer no curto prazo do que os que estão em um futuro distante, em especial quando precisamos escolher o período de tempo de alocação de um recurso.
Diretamente ligado ao viés anterior, esse comportamento se caracteriza pela minimização dos ganhos a serem recebidos no futuro, pois eles parecem muito distantes.
Os dois vieses explicam por que algumas pessoas têm uma maior predisposição a contrair dívidas. Elas priorizam a recompensa imediata e deixam para pensar em como pagar as contas para depois.
Sinônimo da expressão “comportamento de manada”, esse viés descreve o comportamento de fazer ou acreditar em algo porque um grande número de pessoas fez o mesmo.
O Efeito Adesão ajuda a entender movimentos de mercado que levam bolsas de valores a acionarem o circuit breaker.
Às vezes deixamos nossas primeiras impressões sobre uma pessoa influenciarem nosso julgamento sobre coisas que não necessariamente estão relacionadas a ela.
É um viés cognitivo bastante aproveitado pela publicidade, com o uso da imagem de celebridades para promover um produto ou marca.
Ele se manifesta também quando transferimos a experiência que tivemos com um produto para outro da mesma marca – seja ela positiva ou negativa.
Pode acontecer de nos apegarmos a despesas ou custos passados que não podem mais ser reavidos – estes custos podem ser dinheiro, tempo ou energia. Assim, uma decisão errada que tomamos no passado pode prejudicar as que deverão ser tomadas no presente.
A Falácia dos Curtos Irrecuperáveis tem uma forte ligação com o viés de Aversão à Perda.
Com o objetivo de simplificar a tomada de decisão, somos influenciados por nossas emoções de forma automática e inconsciente.
Esse viés se manifesta principalmente em situações em que temos pouco tempo para refletir ou pouca informação sobre determinado assunto.
As pessoas têm a tendência de acreditar que conseguem controlar os eventos futuros, mesmo que eles sejam imprevisíveis.
Está diretamente ligada aos vieses do Otimismo Exagerado, da Autoconfiança Excessiva e da Confirmação.
Tendência a acreditar que nossos julgamentos são imparciais, enquanto que os das outras pessoas são tendenciosos. Ou seja, temos dificuldade em identificar a subjetividade em nossas decisões.
É um conjunto de vieses que explicam por que erramos ao procurar explicações causais para os acontecimentos. Alguns exemplos são:
Tomar decisões sobre sua vida financeira é desafiador, mas conhecendo os fundamentos das finanças comportamentais e os principais vieses cognitivos fica mais fácil se planejar.
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💡Quer aprender ainda mais sobre finanças comportamentais? Confira algumas obras dos pesquisadores mencionados e as fontes consultadas para este artigo do Blog da Pós PUCPR Digital :
Por okleina
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