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A autocobrança excessiva por ser produtiva ou produtivo todas as horas do dia, dentro e fora do trabalho, é chamada de produtividade tóxica.
Ela se tornou bastante comum em uma sociedade que valoriza o alto desempenho e associa a quantidade de horas trabalhadas ao valor do indivíduo.
Saiba como identificar se você entrou em um ciclo de produtividade tóxica (e como sair dele) a seguir.
A produtividade tóxica é caracterizada pela pressão de ser produtiva ou produtivo o tempo inteiro, durante e após o período de trabalho. As tarefas e obrigações são priorizadas em detrimento da saúde, do bem-estar psicológico e dos relacionamentos.
Quem tem a obsessão pela produtividade geralmente acredita que precisa fazer alguma coisa a todo instante, mesmo em situações que não exigem uma resposta imediata, pois demandam um tempo para refletir sobre o melhor curso de ação.
A produtividade tóxica não é uma patologia nem um diagnóstico, mas um comportamento que pode levar ao desenvolvimento de transtornos mentais como ansiedade, depressão e síndrome de burnout.
Ela é mais comum entre pessoas com baixa autoestima, síndrome do impostor e workaholics. Outro fator que pode desencadear esse comportamento é um ambiente de trabalho inseguro, em que os colaboradores se sentem microgerenciados, assediados moralmente e têm medo de serem demitidos.
A produtividade tóxica tem causas estruturais e individuais. Do ponto de vista coletivo, podemos citar a “hustle culture” do meio corporativo e a “sociedade do cansaço” em que vivemos.
A hustle culture (expressão que pode ser adaptada para “cultura da dedicação total” ou “cultura da hiperprodutividade”) valoriza a dedicação extrema ao trabalho e a ideia de que o sucesso só é alcançado por meio de sacrifícios significativos, como longas horas de trabalho, pouco sono e menos tempo dedicado à família e amigos.
Essa cultura muitas vezes glorifica a ideia de "hustle" (ou “correria”, “agitação”, em português) constante, em que o indivíduo busca oportunidades para progredir na carreira a qualquer custo.
O boom das empresas de tecnologia nas décadas de 1990 e 2000 levou ao surgimento da hustle culture. Big techs como Google e Facebook exportaram uma cultura organizacional baseada no trabalho intenso que penetrava todos os aspectos da vida dos funcionários.
Já a sociedade do cansaço é baseada no hiperdesempenho do indivíduo, sustentado por um discurso de positividade que o coloca como um ser plenamente capaz de superar todos os desafios impostos.
No entanto, com a avalanche de expectativas depositadas sobre si mesmos, os indivíduos se sentem constantemente em falta, como se não estivessem performando tão bem quanto poderiam ou deveriam. Isso leva a uma busca incessante por produtividade, que pode se tornar tóxica.
Quem descreveu esse fenômeno foi o filósofo Byung-Chul Han em um livro homônimo de 2010.
Partindo agora para o ponto de vista individual, pessoas passando por momentos difíceis ou de incerteza podem manifestar a
produtividade tóxica . Em situações estressantes ou fora do nosso controle, focamos em coisas do ambiente que conseguimos controlar, como dedicar horas a mais a um projeto do trabalho. A produtividade, assim, se torna uma rota de fuga do desconforto.
Existem alguns sinais de alerta da produtividade tóxica para prestar atenção:
Se você sente que entrou em um ciclo de produtividade tóxica, existem algumas estratégias baseadas na neurociência que podem ser colocadas em prática.
❗
Tenha em mente que nenhuma delas substitui o apoio de uma psicóloga ou psicólogo. Não hesite em buscar ajuda profissional ao perceber os sinais de uma ansiedade patológica ou de depressão.
A produtividade tóxica nos leva a trabalhar intensamente por muito tempo. E esse ciclo só será quebrado se limites forem criados.
Se você trabalha por conta própria, tenha um horário bem definido para iniciar e terminar o expediente. Se fizer parte do quadro de funcionários de uma empresa, respeite o horário de entrada e de saída estabelecido em contrato.
Caso você faça horas extras com frequência não por uma escolha, mas pelo grande volume de entregas, é urgente conversar com a sua liderança para que alguma medida seja tomada.
Outro limite importante é o de tempo para responder mensagens. É comum a sensação de que devemos responder imediatamente aos colegas de trabalho, mas saiba que não tem problema ter um tempo de resposta maior – ainda mais se a mensagem chegar ao final do expediente.
Nem toda situação demanda uma ação imediata ou precisa ser resolvida por você. Dependendo do contexto, outra pessoa é responsável por lidar com o problema, mesmo que você sinta que deve intervir.
Quando se deparar com um cenário assim, pergunte a si mesmo: o que de pior pode acontecer se eu esperar 24 horas para pensar em vez de agir imediatamente?
Estabelecer metas inalcançáveis ou ter expectativas muito altas em relação ao trabalho fazem parte do ciclo de produtividade tóxica. Elas acabam pressionando a trabalhar mais horas e ainda geram um sentimento de culpa nos momentos de descanso.
Aqui, a dica é usar o framework SMART para estabelecer objetivos:
Também é importante priorizar tarefas e, sempre que necessário, delegá-las a outras pessoas.
Tenha períodos do dia reservados para o descanso. Os horários não precisam ser rígidos, porém as pausas devem ter um lugar garantido na sua agenda.
Ao longo do dia, tire alguns minutos para se alongar ou meditar. Vale também dar uma caminhada pelo quarteirão ou chamar os colegas para um cafezinho na copa.
“Fazer nada” é relativo. Para algumas pessoas, é passar um tempo só olhando para o teto. Para outras, é assistir à televisão ou ouvir música. O importante é que esse momento não tenha um objetivo específico ou seja dedicado a se aperfeiçoar em algo.
A ideia aqui é ser intencionalmente improdutivo durante algumas horas da semana.
O smartphone pode ser um gatilho para a produtividade tóxica. O ideal é deixá-lo de lado ao acordar e horas antes de dormir. Outras orientações importantes são:
Sair do ciclo de produtividade tóxica envolve um processo de mudança de hábitos . Infelizmente, para muitas pessoas, trabalhar longas horas e tentar ser produtivo a todo momento se tornou um comportamento padrão.
Mudar um hábito é difícil, mas não impossível. Cada indivíduo tem um tempo próprio para concluir esse processo, que exige paciência e constância.
O processo inclui intervir no ambiente. A ideia é incluir algum gatilho que nos estimule a realizar um comportamento que queremos transformar em hábito, em vez de simplesmente contar com a força de vontade.
Por exemplo, você pode escrever “meditar” em um post-it e colá-lo no monitor do seu computador, criando assim um gatilho para se lembrar de fazer uma pausa no meio do dia.
Outra estratégia é fazer um
controle de hábitos , uma forma de registro das vezes em que nos comportamos do jeito desejado. Ele pode ser feito em aplicativos do celular ou em um caderno mesmo.
Você pode incluir no seu controle de hábitos as pausas que fez ao longo do dia, as horas em que não mexeu no smartphone ou o período do dia em que você conseguiu não fazer nada.
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Por Olivia Kleina
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