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É possível chegarmos à singularidade com a inteligência artificial?

Olivia Kleina • 9 de agosto de 2023

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    Será que chegamos ao estágio em que os computadores superaram a capacidade criativa dos seres humanos?

    Aqui você vai encontrar um recorte do debate sobre o assunto, que ganhou força com o Midjouney e o ChatGPT nos últimos anos. Não vamos trazer respostas definitivas, mas informações que vão te ajudar a se orientar na Era da inteligência artificial.

    O que é a singularidade tecnológica

    A singularidade tecnológica é um evento futuro hipotético caracterizado pelo crescimento da tecnologia de forma imprevisível, descontrolada e irreversível, o que transformaria radicalmente a realidade como a conhecemos.

    Esse evento é estudado pela futurologia , campo multidisciplinar que reúne evidências das demais ciências para prever futuros possíveis.

    O termo “singularidade” foi emprestado da Física pelo matemático e cientista da computação John von Neumann (1903-1957) em 1950 para falar sobre os avanços cada vez mais acelerados da tecnologia.

    É atribuída a ele a seguinte citação, em um tributo póstumo escrito pelo físico Stanisław Ulam (1909-1984) em 1958:

    “O progresso cada vez mais acelerado da tecnologia e as mudanças no modo de vida humano dão a impressão de que uma singularidade essencial na história da humanidade está se aproximando, além da qual as questões humanas, como as conhecemos, não poderiam continuar.”.

    “The ever accelerating progress of technology and changes in the mode of human life give the appearance of approaching some essential singularity in the history of the race beyond which human affairs, as we know them, could not continue.”. 

    Essa teria sido a primeira vez que a palavra “singularidade” foi associada à tecnologia.

    Em 1965, o matemático Irving John Good publicou o artigo " Speculations Concerning the First Ultraintelligent Machine ", em que apresentou características que, anos mais tarde, definiriam o que é a singularidade tecnológica:

    “Uma máquina ultra inteligente pode ser definida como uma máquina capaz de superar todas as atividades intelectuais de qualquer pessoa, independentemente do seu grau de inteligência. Como a criação de máquinas é uma dessas atividades intelectuais, uma máquina ultra inteligente poderia criar máquinas ainda melhores; assim haveria uma ‘explosão de inteligência’ inquestionável, e a inteligência humana seria deixada para trás. Portanto a primeira máquina ultra inteligente será a última invenção que o ser humano precisa fazer.”.

    "Let an ultraintelligent machine be defined as a machine that can far surpass all the intellectual activities of any man however clever. Since the design of machines is one of these intellectual activities, an ultraintelligent machine could design even better machines; there would then unquestionably be an 'intelligence explosion,' and the intelligence of man would be left far behind. Thus the first ultraintelligent machine is the last invention that man need ever make.". 

    O termo se popularizaria na década de 1990, com os livros “The Age of Intelligent Machine” (1990) e “The Age of Spiritual Machines” (1999) do cientista da computação e futurista Ray Kurzweil. O autor tratou sobre o desenvolvimento da inteligência artificial e fez previsões sobre quando chegaríamos à singularidade tecnológica.

    Atualmente a singularidade tecnológica é associada à inteligência artificial geral (AGI, sigla em inglês para “artificial general intelligence”), estágio de desenvolvimento em que as máquinas conseguiriam realizar qualquer tarefa que poderia ser feita por um ser humano.

    A relação entre singularidade e inteligência artificial

    Aqui vale fazermos uma pausa para conceituarmos inteligência artificial e entender por que a AGI levaria a humanidade à singularidade.

    De forma bem resumida, a IA é um conjunto de sistemas que mimetizam a inteligência humana com o objetivo de executar tarefas, aprimorando-se frequentemente a partir das informações coletadas.

    Os pesquisadores em IA costumam classificá-la em três tipos: limitada, geral e superinteligência.

    O primeiro tipo, a IA limitada, é a que já se popularizou entre as pessoas. Ela se refere a computadores que realizam funções específicas e solucionam problemas pré-determinados, por meio do machine learning e do processamento de linguagem natural.

    IAs fracas como assistentes virtuais não têm a mesma versatilidade que o ser humano para realizar múltiplas tarefas, o que as difere da AGI.

    A inteligência artificial geral, em teoria, conseguiria realizar várias tarefas, pois seria capaz de acessar e processar um grande volume dados em uma velocidade sobre-humana. Assim ela superaria a capacidade média das pessoas de raciocinar de forma lógica e abstrata, além de compreender a linguagem natural.

    A AGI ainda está em desenvolvimento em laboratórios de pesquisa e empresas, sem ter um uso em massa por pessoas de fora da área de tecnologia. O exemplo de modelo mais conhecido que visa a ser uma AGI é o GPT-4 da OpenAI, a criadora do ChatGPT.

    A comunidade de IA ainda discute se o algoritmo da OpenAI realmente estaria perto de ser uma IA geral (e, portanto, nos aproximaria da singularidade tecnológica) ou seria apenas uma empolgação desmedida do mercado com os avanços dos LLMs (sigla em inglês para “large language models”) e com as plataformas de inteligência artificial generativa – tipo de sistema do ChatGPT.  

    Quando vamos atingir a singularidade tecnológica

    É complicado dar uma data precisa para a chegada da singularidade tecnológica. O que avaliar para afirmar que um computador superou a inteligência humana? Devemos considerar a massificação dessa tecnologia, ou seja, quando ela passar a ser utilizada por pessoas de fora da área de IA, para afirmar categoricamente que estamos na singularidade?

    Apesar dessas dúvidas, há futuristas e startups que propõem algumas previsões.

    Na conferência “ The Coming Technological Singularity: How to Survive in the Post-Human Era ”, o cientista da computação e escritor de ficção científica Vernor Vinge estimou que a singularidade seria alcançada entre 2005 e 2030.

    Já o futurista Ray Kurzweil, no livro “ The Singularity is Near ” (2005), calculou que o progresso das pesquisas em inteligência artificial levará à singularidade em 2045, no máximo.

    Para chegar a esse ano, o autor se baseou na Lei de Moore, princípio elaborado em 1965 pelo cofundador da Intel Gordon Earl Moore (1929-2023). Ele estabeleceu que a capacidade dos computadores dobra a cada 18 meses.

    As previsões feitas por Vinge e Kurzweil consideraram o estágio de desenvolvimento da inteligência artificial na época em que foram feitas. Ao ler os livros e artigos mencionados acima, é fundamental ter em mente que a IA das décadas de 1990 e 2000 tinha uma capacidade bem menor do que a de hoje.

    É o caso dos LLMs, criados na década de 1980 e que, atualmente, são capazes de gerar textos, códigos de programação, traduções e respostas de chatbots. A complexidade das respostas geradas por modelos como o usado pelo ChatGPT fizeram com que o futurista Jerry Kaplan afirmasse que, se não chegamos “À” singularidade, ao menos conquistamos UMA singularidade.

    Para Kaplan, a humanidade deu um passo tecnológico transformador para acelerar o conhecimento humano, o que também leva ao aparecimento de novos problemas.

    Questões ligadas a vieses de algoritmo, direitos humanos, desemprego estrutural, direitos autorais, regulamentação e bolhas no mercado financeiro foram levantadas com o boom da IA despertado pelo ChatGPT.

    Tanto que, em março de 2023, a organização sem fins lucrativos Future of Life Institute publicou uma carta aberta em que pedia uma pausa nas pesquisas em IA por pelo menos 6 meses até que se compreendesse os impactos dessa tecnologia na sociedade.

    Entre os signatários da carta estão Elon Musk, o historiador Yuval Noah Harari e o cofundador da Apple Steve Wozniak. Em agosto, ela já contava com mais de 33 mil assinaturas.

    O debate sobre os dilemas relacionados à inteligência artificial também levou à preocupação de que a IA fosse demonizada, surgindo assim mais uma carta aberta sobre a tecnologia – mas com o propósito de combater a condenação da tecnologia.

    Ela foi publicada em julho de 2023 pela The Chartered Institute for IT, entidade britânica de computação. Destinada ao governo e a indústria do Reino Unido, a carta defendia o desenvolvimento da IA de forma ética, incluindo a necessidade de regulamentação e colaboração internacional.

    Fica a reflexão: a imprevisibilidade dos impactos dos avanços da inteligência artificial não seria um tipo de singularidade?

    Para entender os impactos da inteligência artificial e a singularidade

    Para quais caminhos a IA vai nos levar?

    Lidar com a imprevisibilidade é desafiador, o que exige um repertório de conhecimentos técnicos e teóricos para usar a inteligência artificial com responsabilidade.

    Isso é ainda mais importante para quem trabalha direta ou indiretamente com tecnologia. Para esses profissionais, a Pós PUCPR Digital desenvolveu cursos de pós-graduação que abordam conceitos fundamentais para já trabalha ou vai trabalhar com IA.

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    💡Quer saber mais sobre a relação entre singularidade e inteligência artificial? Confira algumas obras dos autores mencionados e as fontes consultadas para este guia do Blog da Pós PUCPR Digital :

     

    Por Olivia Kleina

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